Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 28/06/2018 16:35
Os pais de um bebê nascido morto na última sexta-feira (22/6) suspeitam que o hospital tenha trocado a criança antes de entregá-la para ser enterrada. A mãe estava no nono mês de gestação quando entrou em trabalho de parto e foi até o Posto de Saúde. De lá, acabou encaminhada ao Hospital Regional do Paranoá, onde dois médicos constaram o óbito do bebê, que não tinha batimentos cardíacos. Nesta quinta-feira (28/6), no momento em que o pai voltou à unidade de saúde para buscar o menino, percebeu que não se tratava de seu filho, Davi Lucas, mas sim de outra criança.
A mãe, a corretora Fabricia da Silva, 29 anos, conta que fez todo o acompanhamento pré-natal. O último exame havia sido 15 dias antes de parto, e tudo corria bem com o bebê. Na sexta, ao sentir as contrações, foi até o Posto de Saúde. Como o bebê estava ainda sentado dentro da barriga, foi encaminhada ao Hospital do Paranoá. Os primeiros exames clínicos constaram a inexistência de batimentos cardíacos e um segundo médico foi chamado para confirmar o óbito.
Fabricia foi submetida a uma cesariana e ficou no hospital até segunda-feira (25), em recuperação. A família, de baixa renda, havia contado com o apoio de parentes para montar o enxoval do menino, batizado de Davi Lucas. Momentos depois de a criança nascer, profissionais do hospital perguntaram ao casal se preferiam enterrá-lo ou "doar o corpo para pesquisa", segundo relato do pai, o garçom Francisco Faustino, 39. A direção do hospital nega que isso tenha ocorrido e garante que não adota esse procedimento. A prática é permitida no país, desde que a abordagem seja feita por equipe do hospital especializada para lidar com a situação de luto.
O casal optou por velar a criança, mas, como não tinha dinheiro para o enterro, o pai pediu que o corpo ficasse na unidade de saúde por alguns dias. Depois de conseguir ajuda financeira com familiares e com o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Francisco voltou ao hospital. Quando chegou ao necrotério, às 8h desta quinta-feira, não reconheceu o filho e questionou a equipe.
Segundo Francisco, os profissionais presentes disseram que "checariam o que havia ocorrido". Um boletim de ocorrência foi registrado na 6; Delegacia de Polícia (Paranoá). O delegado informou ao pai que a tese mais provável é que o corpo tenha sido trocado com o de outra criança, enterrada no dia anterior. Segundo relataram à família funcionários do hospital, os nomes dos pais desse outro bebê eram Francisca e Fabrício.
O Correio procurou o delegado responsável pelo caso, que ainda não se pronunciou. Nenhum funcionário quis conversar com a reportagem. A Secretaria de Saúde admitiu o erro e vai pedir a exumação do corpo.