postado em 27/06/2018 06:00
Deixar o lar é uma atitude que requer coragem. Ainda mais se isso envolver uma viagem de mais de 9,5 mil km sobre o Oceano Atlântico para dar início a uma nova vida em um país desconhecido, de cultura completamente distinta. Apesar do cenário, esse tipo de mudança não provocou arrependimento em alguns dos sérvios que decidiram adotar, definitivamente, Brasília como casa. Mas eles são poucos. Não passam de 10.
O período de jogos da Copa do Mundo favoreceu o aumento do número de encontros desses compatriotas europeus. Todos os jogos da seleção sérvia são acompanhados por eles em um restaurante da Asa Norte. Hoje, não será diferente. O point é a Belgrado Burger, uma hamburgueria na 107. O local está reservado para receber, inclusive, o embaixador da Sérvia no Brasil, Veljko Lazi%u0107, além de cônsules de outras nações da península balcânica.
[SAIBAMAIS]A pequena hamburgueria leva o nome da capital e maior cidade do país do sudeste europeu. Na logomarca, que estampa as cores da bandeira sérvia, uma águia de duas cabeças, símbolo do brasão de armas do país, segura um hambúrguer com as garras. Comandado por Goran Dislio;ki, 44 anos, o empreendimento é um pedaço da Sérvia no coração do Brasil. Ele se mudou para cá depois de conhecer uma brasileira na Europa, durante um dos anos em que morou em diferentes países, como Suíça, Noruega e Emirados Árabes Unidos. Os dois se casaram e, em 2014, Goran se mudou para Brasília, onde a esposa morava. Era época de Copa do Mundo e a capital era uma das cidades-sede.
Naquele ano, o casal começou com um foodtruck, no qual vendia hambúrgueres com temperos típicos dos bálcãs. O pão mais fino e a carne de sabor único são famosos na península, segundo Goran. ;Todos conhecem o hambúrguer balcânico na Sérvia. Ele tem um sabor diferente. O segredo está nos temperos usados na carne;, explica. O negócio deslanchou e, há oito meses, o carrinho de comida se transformou em um restaurante na 107 Norte. O local virou ponto de encontro de sérvios em Brasília.
Paixão pelo Brasil
Goran mora na Asa Norte com a mulher e o casal de filhos, de 9 e 4 anos. Além da capital federal, nos últimos quatro anos, ele se apaixonou por outras cidades brasileiras. Segundo o sérvio, o próximo estado na lista de destinos é a Bahia. Apesar das inúmeras viagens, Goran se adaptou à vida na capital e conta que não pretende sair daqui. ;As pessoas do Brasil são bastante educadas. Principalmente no trânsito. Posso dizer que são felizes, boas, gentis e conectadas umas às outras. Em relação a Brasília, sinto apenas que os habitantes se comunicam mais em outras cidades do que aqui;, compara.
Fora o comportamento nas ruas, a quantidade de horas de trabalho dos brasileiros também chamou a atenção de Goran no início. Ele considera a jornada muito longa, o que, lamenta, atrapalha a convivência com a família. Apesar dos longos turnos, ele sente que a população é mais ;relaxada;. ;Vocês costumam sorrir com mais frequência. Quem mora aqui se sente mais tranquilo, menos estressado. Diferentemente da Sérvia, onde, como em toda a Europa, há uma grande preocupação com dinheiro;, observa.
Arborizada e singular
Ao contrário de Goran, que veio ao Brasil para dar continuidade a uma história de amor, o professor de filosofia Miroslav Milovi%u010D, 63 anos, transferiu-se para o país em 1997, quando recebeu uma proposta de trabalho. Nascido na pequena cidade de %u010Ca%u010Dak, a uma hora e meia de Belgrado, ele morava no Japão havia um ano. À época, Miroslav ficou entre uma proposta profissional em Belo Horizonte e Brasília, mas escolheu a capital do Brasil, pois ganharia uma bolsa de estudos de cinco anos. O professor se mudou com a ex-mulher, uma sérvia-húngara. Anos depois, separaram-se e ele se casou com uma brasileira.
Miroslav é docente da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Filho único, ele terminou os estudos, deixou a família na Sérvia e, a cada ano, passou a morar em um país diferente. No Brasil, foi aprovado em um concurso para professor da UnB e, hoje, também mora na Asa Norte, com a mulher e os dois filhos, de 5 e 12 anos.
Após duas décadas no Distrito Federal, o professor se adaptou ao ritmo de vida daqui. ;Sou de uma cidade tranquila, de 200 mil habitantes. Dava para fazer tudo a pé. A principal diferença de lá para cá é o estresse cotidiano. Mas gosto muito de Brasília. Não tentei procurar outros lugares. Aqui aconteceram as melhores coisas da minha vida;, relata.
Ele ainda ressalta que a capital federal tem características que nunca encontrou em lugar algum. ;É fascinante. Não existe nenhuma outra cidade no mundo tão arborizada assim, onde você pega frutas nas ruas, direto das árvores.; Além de Brasília, Miroslav tem um carinho por Fortaleza. ;É um dos poucos locais onde não preciso me preparar psicologicamente para entrar no mar (por causa do frio);, brinca.
Reconhecido como um país de tradições esportivas, esse tipo de entretenimento foi uma das formas encontradas pelos sérvios para lidar com as dificuldades impostas pelas guerras vividas no país, segundo Miroslav. Na partida de hoje, a primeira entre Brasil e Sérvia em uma Copa do Mundo, o professor apoiará o time do país onde nasceu. Mesmo assim, confessa que não deixará o amor pela Seleção Brasileira de lado. Ele assistirá à partida com os demais conterrâneos na Belgrado Burger. ;Estou torcendo para o meu time, mas quero que nossos adversários também se mostrem da forma adequada nesta Copa. Espero que dê certo para o Brasil;, ressalta Miroslav.
Onde assistir
Transmissão de Brasil x Sérvia, na Belgrado Burger
A partir das 13h
CLN 107, Bloco C, Loja 21
Tel.: 3542-5440