As pilhas de documentos pessoais e de empresas do ex-senador Luiz Estevão dentro da Papuda, encontradas pela Polícia Civil durante a Operação Bastilha, são motivo de denúncias de servidores do sistema penitenciário há pelo menos um ano. Nas buscas realizadas na cela e na biblioteca do presídio, os policiais identificaram um grande volume de documentos relacionados aos negócios de Estevão, o que demonstra a atuação empresarial do ex-senador dentro do presídio. Ontem, o governador Rodrigo Rollemberg anunciou o novo subsecretário do Sistema Penitenciário (Sesipe): o delegado da Polícia Civil Celso Wagner de Lima assumirá o posto em substituição a Osmar Mendonça de Souza, exonerado depois da operação. Celso Wagner é, hoje, o coordenador-geral do Sistema Penitenciário.
Em maio do ano passado, a Vara de Execuções Penais apurou uma denúncia de que o empresário teria benesses como visitas de advogados em horários diferenciados em relação a outros detentos, que levavam com eles ;documentos referentes às empresas de que o sentenciado é proprietário em quantidade tão intensa que estariam monopolizando a assessoria jurídica da unidade;, justificou a juíza Leila Cury, em decisão proferida há um ano.
[SAIBAMAIS]Na semana passada, Leila Cury analisou embargos de declaração apresentados pela defesa de Estevão com relação à entrada e saída de documentos de interesse do ex-senador. Ela manteve a determinação anterior sobre a restrição da entrada dos papéis no sistema penitenciário. A juíza destacou que, ;em caso de eventual dúvida quanto à pertinência dos documentos, caberia à defesa indicar, por escrito, o processo ao qual o documento está relacionado, onde este tramita, bem como o motivo da necessidade da análise pessoal pelo interno;.
Além das pilhas de documentos, a Operação Bastilha, realizada domingo, resultou na apreensão de cinco pen-drives. A Polícia Civil não informou se Estevão tinha um computador para ter acesso ao conteúdo das mídias. O empresário, condenado a 26 anos de cadeia por desvios na obra do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, foi apontado pelas equipes da Divisão de Repressão a Facções da PCDF (Difac) como ;um dos donos do presídio;.
Lentidão
O governo abriu um processo administrativo disciplinar em outubro de 2017 contra 14 servidores apontados como participantes do esquema para beneficiar o ex-senador na cadeia. Entre os atos apurados estão crime contra a administração pública e improbidade administrativa. Alguns dos servidores são acusados no processo de exigir propina ou auferir vantagem indevida e de valer-se do cargo para obter proveito indevido.
A comissão formada para apurar o caso teria 60 dias para concluir os trabalhos. No entanto, em 6 de dezembro do ano passado, dois meses depois da abertura do processo, o então subsecretário do Sistema Penitenciário, Osmar Mendonça de Souza, prorrogou o prazo para a finalização da apuração administrativa por outros 60 dias. Fez o mesmo em 5 de fevereiro, em abril e no último dia 7. A nova estimativa é de que a apuração das irregularidades seja concluída no início de agosto ; se não houver outras prorrogações. Questionada sobre o andamento do processo, a Secretaria de Segurança Pública informou ;que está cumprindo os trâmites legais e conta com respaldo jurídico para a apuração do caso;.