Um sargento de 41 anos da Polícia Militar atirou contra um cachorro da raça pitbull, chamado Thor, na QNO 5, no Setor O, em Ceilândia. O militar alega que o animal teria atacado o cão dele e, por isso, precisou disparar a arma. A dona de Thor contesta a versão do sargento e diz que o cachorro era manso e não avançou contra o outro animal. A 24; Delegacia de Polícia (Setor O) investiga o caso, que aconteceu na sexta-feira (15/6).
O militar relatou à Polícia Civil que estava chegando em casa do trabalho quando viu o cachorro dele ser atacado por Thor. Ele contou que tentou intervir na suposta briga dos animais, mas que o pitbull também avançou contra ele. Neste momento, o militar sacou a arma de fogo e atirou contra o cachorro, que correu do local. O sargento afirmou ainda que o cão dele também ficou ferido e registrou boletim de ocorrência por omissão de cautela da guarda ou condução de animais.
A dona de Thor, Katiúscia Santos Pereira, 32, moradora da QNO 3, também em Ceilândia, contradiz a versão prestada pelo militar na 24; DP. A massoterapeuta relata que estava trabalhando quando o amigo, José Francisco Camelo da Costa, 20, saiu com o cachorro dela para passear.
O jovem conta que, durante a caminhada, Thor se soltou da guia e correu para a rua, chegando até a QNO 5. "Ele chegou no cachorro e começou a cheirá-lo. Só que o outro cão o estranhou e começou a latir. Eu peguei o Thor, mas, de algum modo, ele conseguiu se soltar de novo. Em todo o momento, o cachorro do militar não parava de latir. Aí, o Thor também começou a latir de volta", relata.
Na versão de José, durante os latidos dos cachorros, o militar teria saído de casa com a arma na mão, apontando para o pit bull. "Eu fiquei em frente ao Thor e, nessa hora, o policial disse que, se eu não saísse, atiraria em mim e no cachorro. Tentei argumentar, dizendo que não tinha necessidade, porque o Thor era manso, mas ele não escutou e disparou", finaliza.
Um amigo de José foi quem contou para Katiúscia sobre o ocorrido. Ao chegar ao local, viu o cão dela escondido, embaixo de um carro. "Ele sangrava muito e tudo o que eu queria era salvá-lo. Ele ficou internado na sexta (15), mas acabou falecendo no sábado (16/6). Aquele policial tirou um pedaço de mim. O que ele fez foi uma covardia sem fim", lamenta.
Ocorrência
Após deixar Thor sob os cuidados do veterinário, Katiúscia foi até a 24; DP para registrar um boletim de ocorrência. Ela afirma que, quando chegou, o policial militar já estava local fazendo o registro. "O agente que me atendeu disse que eu não poderia fazer um boletim de ocorrência, porque eu não era parte do ocorrido. Que, como eu não estava no momento em que o Thor levou o tiro, não tinha como fazer o registro", conta.
A mulher diz que somente José e o amigo, que estavam no momento da confusão, foram escutados durante o registro da ocorrência. "Quando voltei à delegacia para pegar o boletim para abrir um processo da corregedoria da PM, o agente me disse: ;cuidado com o que você vai fazer lá, porque isso pode se voltar contra você;", diz Katiúscia.
O delegado Ricardo Viana, chefe da 24; DP, esclareceu que, como o policial e Katiúscia relatariam um mesmo fato, não teria a necessidade de abrir dois inquéritos apuratórios. "Toda história é investigada dentro de um mesmo registro, esse é o procedimento padrão", salienta. Sobre a conduta do agente, Ricardo disse que não iria se pronunciar. Ele se limitou apenas em esclarecer que Katiúscia poderia "reclamar sobre a conduta do policial pela Corregedoria da Polícia Civil, que é responsável pelo procedimento".
Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social da Polícia Militar confirmou a história do policial. "O sargento se viu obrigado a se defender atirando no cão. Infelizmente, o cachorro não usava focinheira e quem tinha por obrigação detê-lo, não o fez e nem estava próximo, chegando ao local após o ocorrido", informou.