Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 18/06/2018 11:41
Em um caderno, os agentes da Polícia Civil do Distrito Federal encontraram uma anotação do ex-ministro José Dirceu em que ele solicitava ao companheiro de cela, o senador cassado Luiz Estevão, a visita de menor, ainda não identificado. A suspeita é de que Estevão teria influência suficiente para permitir a entrada de pessoas dentro do presídio. O material foi encontrado durante a Operação Bastilha, realizada dentro do Complexo Penitenciário da Papuda nesse domingo (17/6), nas celas do ex-senador e do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Durante a ação policial, de responsabilidade da Divisão de Facções da Coordenação de Combate ao Crime Organizado, aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Cecor), os investigadores ainda encontraram cinco pen-drives e documentos com Luiz Estevão, além de produtos proibidos no sistema penitenciário. Os agentes ainda não analisaram o material apreendido, que foi encaminhado ao Instituto de Criminalística (IC) da corporação. No momento da abordagem policial, Estevão ainda teria tentado se livrar dos dispositivos de armazenamento, pedindo para ir ao banheiro. Porém, um agente percebeu a ação e recolheu os itens.
A Vara Criminal de São Sebastião expediu os mandados de busca e apreensão para avaliar se os suspeitos estariam recebendo regalias dentro da Papuda. Dois promotores do Núcleo de Controle de Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri) apoiaram a investigação, que começou no início deste ano.
De acordo com um dos delegados à frente do caso, o diretor da Divisão de Repressão às Facções Criminosa (Difac), Thiago Boeing, as investigações vão prosseguir para apontar quem estaria facilitando a entrada de produtos não permitidos dentro da Papuda. ;Quando questionado, Estevão afirmou que todos os itens estavam dentro da cela quando ele chegou;, diz.
Ainda segundo o delegado, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), responsável pela fiscalização dentro do presídio, não foi comunicada sobre a operação. Os investigadores tomaram essa medida para evitar que as informações vazassem, já que agentes penitenciários podem estar envolvidos com a prática criminosa. ;A apuração prossegue para apontar quem estaria facilitando a entrada dos itens no presídio;, comenta.
Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores e demonstrou o poder de Estevão dentro do presídio foi a biblioteca. O espaço é um lugar de uso comum dos detentos. No entanto, estaria sendo usado como um escritório pelo ex-senador. Nele, os agentes encontraram diversos documentos de interesse de Estevão, que serão analisados nas próximas semanas. Além disso, de acordo com o delegado, o ex-senador divide a cela apenas com Dirceu, sendo que os outros detentos ficam, ao menos, em grupos de sete. Geddel, inclusive, compartilha as dependências da Papuda com mais nove detentos.
O advogado de Luiz Estevão, Marcelo Bessa, afirmou que não foi notificado sobre a operação e que só emitirá um posicionamento após ser comunicado. O Correio entrou em contato com a defesa de Geddel por telefone, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP) informou que a Sesipe abrirá sindicância para apurar as circunstâncias da entrada de objetos não permitidos dentro do Centro de Detenção Provisória, a fim de saber se houve envolvimento de servidores, visitantes ou advogados. "A Sesipe ainda irá instaurar inquérito disciplinar para investigar falhas cometidas por internos", frisa o texto.
Prisões
Geddel é ex-ministro do governo Michel Temer. O emedebista está preso provisoriamente desde setembro do ano passado, depois que malas com R$ 51 milhões em espécie foram descobertas em um apartamento em Salvador e ligadas a ele. Já Dirceu cumpre pena de 30 anos e nove meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, em ação da Lava-Jato.
Estevão foi condenado a 26 anos de prisão por desvios de recursos públicos do Tribunal Regional Trabalho (TRT) de São Paulo. Ele está na cadeia há dois anos e três meses. Não é a primeira vez que são detectados benefícios a políticos, vantagens que outros presidiários não desfrutam. No ano passado, durante uma fiscalização, foram encontrados chocolates, cafeteira elétrica, máquina de café e massa importada. O privilégio resultou na exoneração do diretor do CDP, Diogo Ernesto, e do diretor adjunto da prisão, Vitor Espíndola Salas.