Após 514 dias, o racionamento chega ao fim no Distrito Federal. Em 17 meses, os investimentos em melhorias no sistema de distribuição hídrica superaram R$ 500 milhões. O saldo da economia foi de 24,2 bilhões de litros de água, segundo a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). O volume é suficiente para abastecer todos os 3,013 milhões de habitantes do DF por 62 dias, caso a média de consumo se mantenha nos 129 litros diários por pessoa registrados no ano passado. O Governo do Distrito Federal acredita que a entrega do Sistema de Corumbá IV, prometido desde o começo dos anos 2000, garanta que a região não enfrente outras crises de abastecimento na próxima década. O novo prazo para conclusão das obras é até dezembro.
A partir de hoje, a Caesb (leia entrevista com o presidente da companhia, Maurício Luduvice) está autorizada a captar 4,3 mil litros de água por segundo do reservatório do Descoberto. Antes da restrição, o limite era de 4,9 mil, e caiu para 3,3 mil no racionamento. Os produtores rurais terão o horário de captação de água dobrado, de 3 horas a 6 horas por dia. O governo garantiu também investir cerca de R$ 170 milhões em programas de redução e controle de perdas. Atualmente, 313 litros são perdidos por dia em cada ligação do DF, ou seja, cerca de 30% de todos os recursos que saem dos reservatórios não chegarem às residências dos brasilienses. A expectativa é de que até o fim de 2019 esse número caia para 250 litros.
A Caesb informou que a interligação dos sistemas também ajudou a aumentar o nível dos principais reservatórios. Antes da crise hídrica, o Descoberto abastecia 1.631.549 pessoas, ou seja, mais de 60% da população. Com a transferência de água entre os sistemas, ele passou a atender 52,09% (1.409.817 pessoas). Isso foi possível também devido à inauguração das captações do Bananal e do Lago Paranoá, em outubro de 2017. Isso possibilitou mais 1,4 mil l/s ao reservatório do DF. Com Corumbá IV, a expectativa é de que mais 1,4 mil litros de água por segundo (l/s) cheguem ao DF em um primeiro momento, subindo para 2,8 mil l/s na fase final.
Mudança de hábitos
Não ter água na torneira uma vez a cada seis dias alterou a rotina do brasiliense, que comprou caixas d;água e encheu baldes e garrafas nos dias de corte. A aposentada Maria do Socorro Rocha Freire, moradora de Águas Claras, conta que a situação deu origem a uma mudança de hábitos. ;A gente se adaptou, e todo mundo deu uma ajuda para não ter problemas. Fiz uma programação dos dias de lavagem de roupa e de outros serviços para não precisar tanta água nos dias de corte. Mesmo assim, estou muito feliz com o fim do racionamento;, disse.
O comércio também comemorou o fim da crise hídrica. De acordo com a Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio), 180 salões de beleza fecharam as portas por causa do rodízio. Cerca de 10% dos 18 mil estabelecimentos tiveram prejuízos de R$ 2 milhões, o que significa redução de 3% no faturamento. O presidente da Fecomércio, Adelmir Santana, reforçou que o comerciante precisou se adequar. ;Além dos salões de beleza, bares, restaurantes e postos de combustível tiveram dificuldades. Foi um período difícil, no qual, quem não se adaptou, enfrentou prejuízos;, explica.
No Yes Cabeleireiros, na 402 Norte, a proprietária, Lindalva Souza, lamentou as dificuldades nos dias de corte, principalmente na hora de lavar o cabelo das clientes, procedimento que teve de ser feito com baldes. ;Felizmente, minhas clientes colaboraram bastante, e muitas até vinham de casa com o cabelo lavado. Mesmo assim, foi difícil. Houve reclamações e constrangimentos;, contou Lindalva.
Água mineral
Grande parte dos bares e restaurantes da cidade que não tinham reservas de água fizeram adequações na estrutura para não ficar sem o recurso, segundo o Sindicato dos Hotéis Bares e Restaurantes (Sindhobar). ;Todo mundo teve de fazer algum tipo de investimento para solucionar o problema, como a instalação de caixa-d;água ou a adaptação de um sistema hidráulico, que exigiu gastos com tubulação, instalação e mão de obra;, detalhou o presidente da entidade, Jael Antonio da Silva.
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O Santana Restaurante, na Praça do DI, em Taguatinga Norte, atende por dia cerca de 400 pessoas. No começo do racionamento, o dono do local, Adonias Santana, passou a comprar água mineral nos dias de corte. ;Cheguei a pagar até cinco vezes mais pelo galão. Depois disso, percebi que era mais interessante instalar uma caixa d;água, tendo em vista que a crise não chegou rápido ao fim.; Ele ressaltou que o fim dos cortes não encerrará o período de economia no comércio dele. ;Após o trauma inicial, fomos nos adaptando ao rodízio. Montamos uma boa estrutura e, agora, não falta água. Hoje, trabalhamos de forma racional para economizar o máximo. Esperamos continuar assim;, concluiu.