Isa Stacciarini
postado em 09/06/2018 14:02
A família de Gabriel Santos Lopes, 11 anos, doou os órgãos do menino um dia depois dele ser morto por engano em uma suposta rixa entre gangues em Planaltina. Segundo um tio-avô do menino, Ernesto Lopes, 60 anos, a córnea também foi doada. O corpo da criança chegou às 13h30 no Templo Ecumênico de Planaltina para ser velado.
Ernesto, que é agricultor, contou que na sexta-feira a família decidiu fazer a doação no Hospital Regional de Planaltina. "A mãe doou tudo o que pôde. Mas, para ela, a ficha ainda não caiu. Ela está trancada dentro de casa, não chora, não fala. É uma dor que não vai esquecer mais nunca", reforçou.
O agricultor se lembra que uma das atividades que Gabriel mais gostava de fazer era jogar bola. "Ele era inocente de tudo. Uma criança. A gente nunca espera que vai ser assassinada dessa forma", lamentou.
Amiga da família, a aposentada Maria Pereira de Sousa, 70 anos, contou que via a mãe levar e buscar Gabriel na escola todos os dias. "Ele jogava bola e ia do colégio para casa, de casa para o colégio. Não fazia mal a ninguém. A mãe ia sempre deixar e buscar. Ela viu na hora em que atiraram no filho. Mataram uma pessoa inocente", frisou.
Enterro
Sem condições, a família contou com a colaboração da comunidade para conseguir realizar o enterro. "E ainda sobrou para que a mãe pudesse conseguir retomar algumas coisas", explicou o primo do menino, Jailton Andre da Silva, 43. O homem lembrou que, desde pequeno, Gabriel tinha o espírito de conquistar as próprias coisas. "Ele já atuava para ganhar o dinheirinho dele e ajudar a mãe. Já tinha o perfil de um rapaz correto e honesto. É muito triste", ressaltou.
A mãe do menino, Auriene Lopes, era uma das mais comovidas na cerimônia. Ainda sem acreditar, ela lamentou, aos prantos, a morte do filho: "Não. Meu filho, não."
Crianças da escolinha que a vítima frequentava compareceram para prestar homenagem ao amigo. Todos estavam com balões e usando a blusa do Grêmio. Professor do time Grêmio Portoalegrense, uma franquia da equipe gaúcha em Planaltina e onde Gabriel jogava, Francisco Moreira, 47, recordou que o menino era um exemplo de humildade. Carinhoso e amoroso, ele tinha perfil prestativo e se preocupava em fazer o bem.
"Ele sempre estava com aquele sorriso angelical. Decidimos fazer uma última homenagem a ele. Hoje, as 19h, estaríamos todos juntos no Campeonato Planaltinense e o evento foi suspenso. Apesar do sonho se ser jogador de futebol, Gabriel nunca se esqueceu dos estudos", frisou.
Tia do menino, Isabel Souza, 54 anos, contou que, às vezes, ele catava alumínio para ajudar a mãe. "Ele era um menino muito bom. Como a mãe trabalha como diarista, ele catava alumínio para conseguir um dinheirinho para as comprar as coisas que ele queria. O Gabriel gostava de andar de cavalo. Era um menino muito alegre", comentou.
Relembre o caso
O crime aconteceu na quinta-feira (7/6) quando Gabriel subia a rua de casa, no Condomínio Craveral do bairro Buritis 2, com os amigos. Dois suspeitos em uma motocicleta passaram em direção contrária aos meninos, e o carona efetuou os disparos. Testemunhas dizem que, na primeira tentativa, a arma teria falhado. Entretanto, houve pelo menos mais três tiros. Um deles atingiu o peito do menino. A tia Maria Lopes, 64, comenta que o sobrinho teria tirado outra criança da mira dos criminosos e acabou atingido. Ela conta, ainda, que Gabriel teve forças para chegar em casa. ;O bichinho estava desesperado com a chuteira na mão. Ele rolava no chão sentindo a dor;, lamentou.
Fontes policiais ouvidas pelo Correio afirmam que uma das hipóteses para o crime é guerra de gangues na região de Buritis 2. Agora, os agentes investigam quem, de fato, seria o alvo dos suspeitos. O irmão mais velho de Gabriel cumpre medida socioeducativa por envolvimento com drogas e, segundo apuração da reportagem, ele pertence à gangue do Pombal, outro bairro de Planaltina.