Mesmo depois do fim da greve dos caminhoneiros, o abastecimento de gás de cozinha no Distrito Federal ainda não está normalizado. ;Estávamos caminhando para a regularização do serviço, mas tivemos um impacto negativo no início da semana. Há uma limitação enorme para o gás chegar a Brasília, porque as refinarias que disponibilizam o produto estão operando com a capacidade reduzida. Com isso, houve queda no abastecimento às distribuidoras do DF e, consequentemente, aos pontos de revenda e ao consumidor;, afirma Sérgio Costa, presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás LP do Distrito Federal (Sindvargas).
Segundo Costa, entre segunda e quarta-feira, 80 mil botijões foram entregues às revendas. A quantidade é suficiente para suprir quatro dias da demanda regular. Entretanto, a situação é preocupante, pois não há estimativa de quando novos caminhões chegarão ao DF trazendo o gás das refinarias do Sudeste. ;Há carretas nas estradas, mas com o problema nas refinarias, não sabemos quando novos carregamentos serão entregues às distribuidoras. O nosso setor está sendo muito afetado. Acredito que ainda teremos um longo período de ressaca por conta da greve;, avalia.
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O desabastecimento atingiu a todas as regiões do DF. Cidades como Planaltina, Guará e Ceilândia foram as mais afetadas, de acordo com o Sindvargas, que estima prejuízo superior a R$ 3 milhões. Com o estoque em baixa, os preços dos botijões aumentaram em alguns pontos de revenda. Para tentar coibir a prática, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon/DF) tem vistoriado depósitos de gás e punido os locais em que há aumento na margem de lucro sem justificativa.
Até segunda-feira, 79 revendas haviam sido examinadas e sete foram autuadas, localizadas em Águas Claras, Sobradinho e Guará. O valor mais caro encontrado pelos fiscais foi de R$ 150 ; antes da greve, o valor máximo de um botijão era de R$ 95. O instituto recomenda ao consumidor, em caso de abusos, guardar a nota fiscal e apresentar no Procon ou em qualquer delegacia.
Preocupação
Motorista de uma revenda do Cruzeiro, Joel Silva, 63 anos, sente-se constrangido. ;Todos os dias vem alguém aqui procurando gás, e eu preciso dizer que não tem. As pessoas acham que nós estamos escondendo, mas a verdade é que têm chegado poucos botijões. E, quando chega, acaba rápido;, relata. Na noite de quarta-feira, o depósito onde Joel trabalha recebeu 500 recipientes. Todos foram vendidos antes do meio-dia de ontem. ;Não sabemos quando teremos mais botijões;, queixa-se.
Para os consumidores, a apreensão é a mesma. Desempregado, Altair Carvalho, 47, tem de recorrer à ajuda de familiares para não ficar sem se alimentar. ;Se eu não tivesse esse amparo, teria que comer em restaurantes. Mas, sem emprego, como conseguiria dinheiro para pagar as refeições? Teria que ficar alternando. Almoçaria dia sim, dia não;, conta. Altair tenta comprar um botijão há quase uma semana, mas reclama dos preços.
O advogado Rubem Assis, 54, se deparou com um ponto de revenda na Cidade Estrutural que cobrava R$ 140 pelo botijão. Ontem, ele comprou um recipiente por R$ 80, no Guará 2. Apesar de ter conseguido um botijão, ele lamenta pelas pessoas que ainda estão sem gás. ;Não aconteceu apenas comigo. A greve mostrou o quanto somos dependentes do serviço dos caminhoneiros. O meu medo é de que outra greve aconteça. O trauma pode ser ainda maior;, reclama.