Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 01/06/2018 22:36
Reviravolta nas investigações da morte de Victor Martins Melo, jovem de 17 anos morto após ser linchado em uma festa, no Parque da Cidade. Anteriormente, Victor era indicado como participante do roubo do celular de uma jovem, fato que teria motivado 20 pessoas a atacarem a vítima com socos, chutes, golpes com garrafas de vidro e até facadas. Com a versão de uma nova testemunha, a Polícia Civil acredita que Victor não praticou o crime.
"Com as provas coletadas, concluímos que Victor foi à festa acompanhado de 6 ou 7 amigos, incluindo o autor do roubo, que já foi identificado. Alguns deles tinham a intenção de praticar furtos a celulares, mas não se sabe se Victor sabia deste fato. O que se sabe é que, de acordo com o depoimento da testemunha, ele não participou do crime e, mesmo assim, foi responsabilizado", declarou o delegado responsável pelo caso João Ataliba, da 1; DP (Asa Sul).
A nova testemunha era amiga de Victor e do menor que praticou o roubo. Ela contou que o autor pegou o celular dentro da bolsa da jovem e fugiu. Victor estaria atrás da menina, que tentou segurá-lo. Ele tentou fugir, mas foi pego por outros jovens que o lincharam.
A adolescente que teve o celular furtado apresentou inconsistência no depoimento. "Ela contou duas versões para a mesma história, uma que Victor teria roubado o telefone da mão dela e outro que ele teria a segurado para possibilitar que o suposto comparsa realizasse a ação. Ela também negou conhecer Victor, mesmo eles estudando na mesma escola e, inclusive, fazendo uma aula de português juntos", explicou Ataliba.
Agora, a polícia trabalha para identificar os autores do linchamento. As investigações apontam que há vídeos circulando nas redes sociais que podem ajudar no reconhecimento. Por isso, a PCDF pede que, caso alguém tenha acesso a essas provas ou qualquer informação, entre em contato pelo 197. A denúncia é anônima.
Entenda o caso
O linchamento aconteceu no último sábado (26/5) durante uma festa no Estacionamento 11 do Parque da Cidade, em frente a Carrera Kart. Paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegaram a socorrer a vítima, que não resistiu aos ferimentos. O encontro, batizado de Cala a boca e me beija, teve início às 14h, não tinha autorização para acontecer e não contou com a presença da Polícia Militar.
Após o evento, participantes, em sua maioria jovens e adolescentes, postaram fotos e comentários sobre a diversão. Somente um deles, porém, comentou o linchamento. "O cara morreu, os bombeiros passaram quase meia hora tentando ressuscitar o cara (sic.)... Triste ir pro rolê e ter que ver esse tipo de coisa. A gente se arruma e sai (...) pra encontrar com os amigos e se divertir e não sabe se vai voltar pra casa inteiro", lamentou. Pela página da festa havia 1,5 mil pessoas que confirmaram presença.
Encaminhados à delegacia, as testemunhas deram certeza ao apontar a vítima como participante. Ainda assim, a dúvida prevalecia, pois, na hora do crime, os presentes estavam alcoolizados. Os autores poderão responder por homicídio.