Luiz Calcagno, Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 28/05/2018 21:40
A Polícia Civil investiga o linchamento de um jovem de 16 anos durante uma festa no Estacionamento 11 do Parque da Cidade, em frente a Carrera Kart, no sábado (26/5). Cerca de 20 pessoas que estavam no encontro espancaram, deram garrafadas e até facadas em Victor Martins Melo. Paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegaram a socorrer a vítima, que não resistiu aos ferimentos. Na delegacia, testemunhas afirmaram que Victor teria roubado o celular de uma jovem, versão que ainda está sendo contestada pelas investigações. O jovem não tinha passagens pela polícia e era morador da zona rural do Lago Norte.
O encontro, batizado de Cala a boca e me beija, teve início às 14h e aconteceu sem a presença da Polícia Militar. Após o evento, participantes, em sua maioria jovens e adolescentes, postaram fotos e comentários sobre a diversão. Somente um deles, porém, comentou o linchamento. "O cara morreu, os bombeiros passaram quase meia hora tentando ressuscitar o cara (sic.)... Triste ir pro rolê e ter que ver esse tipo de coisa. A gente se arruma e sai (...) pra encontrar com os amigos e se divertir e não sabe se vai voltar pra casa inteiro", lamentou. Pela página da festa havia 1,5 mil pessoas que confirmaram presença.
O caso foi registrado na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul). A reportagem apurou que a confusão aconteceu após um furto de celular. Existem, pelo menos, duas versões diferentes sobre o ocorrido. A vítima do furto, uma jovem de 16 anos, contou aos agentes que estaria em uma roda com amigos com o celular na mão. Um desconhecido se aproximou e tentou puxar o aparelho. Ela resistiu e, nesse momento, um segundo suspeito entrou na ação segurando a garota. O primeiro rapaz fugiu com o aparelho e o segundo, de acordo com testemunhas, era Victor.
De acordo com a ocorrência registrada pela PM, porém, uma outra testemunha narrou que Victor é quem teria puxado o celular da mão da jovem e passado para o segundo envolvido, que fugiu. Justamente por conta do desencontro de informações, a polícia trabalha com todas as hipóteses, inclusive, que o rapaz teria sido linchado por engano.
Para o consultor em segurança pública George Felipe de Lima Dantas, casos como este refletem o baixo nível de cidadania e apreço à vida. "É uma espécie de sinal de retrocesso civilizatório que, em 2018, na capital da república, se tenha casos de linchamento no coração da cidade. Não há causa que explique, muito menos justifique tamanho grau de violência. Se o linchamento é inaceitável, muito menos se justificaria por um suposto delito contra o patrimônio", disse.
Os autores da agressão ainda não foram identificados. Na delegacia, as testemunhas dão certeza ao apontar a vítima como participante. Ainda assim, a dúvida prevalece, pois, na hora do crime, os presentes estavam alcoolizados. Os autores poderão responder por homicídio.