Jornal Correio Braziliense

Cidades

Russos em Brasília se preparam para a Copa do Mundo

A torcida se dividirá entre a imponente seleção canarinho e a ainda discreta seleção russa, que nunca passou da primeira fase do torneio



Daqui a menos de um mês, os holofotes estarão voltados para a Rússia. O país é a sede da 21; edição da Copa do Mundo, entre 14 de junho e 15 de julho. A 12 mil quilômetros do evento, integrantes da comunidade russa devem acompanhar a festividade aqui no Brasil, que recebeu a última edição da competição esportiva. A torcida se dividirá entre a imponente seleção canarinho e a ainda discreta seleção russa, que nunca passou da primeira fase do torneio. Alguns russos, moradores de Brasília, aproveitam para relembrar tradições culturais e religiosas, driblar a saudade da neve e se adaptar à terra vermelha do cerrado.

É o caso da professora de línguas Yulia Mikheeva, 34 anos. Ela nasceu em São Petersburgo e chegou ao Brasil há 10 anos. Apaixonou-se pelo país e acabou elegendo a capital federal para fixar moradia. Desde que está aqui, trabalha como professora de inglês, mas pensou que, por ser russa, poderia dar aula da língua nativa. Há quatro anos, inaugurou uma escola na 311 Norte.

Com a proximidade do torneio mundial de futebol, Yulia abriu turmas direcionadas aos brasilienses que pretendem viajar à Rússia para assistir à disputa esportiva. Ela não acompanha futebol, mas, por estar no Brasil, rendeu-se à festa. Daí, vem a dúvida: os russos daqui escolherão qual camisa para defender, a russa ou a brasileira? A professora assegura que vai torcer pelo país de origem. ;Meus amigos e eu queremos colocar a camiseta da seleção russa e ir para um bar ver os jogos;. Mas, logo emenda: ;Assim que a Rússia for eliminada, começo a torcer para o Brasil;, apostando em uma eliminação precoce do seu país.

Os amigos de que Yulia fala integram o Clube Russo Brasileiro. A associação foi criada por ela e reúne a comunidade do país de origem em eventos no Distrito Federal. O grupo organiza piqueniques e festas em feriados tradicionais, com direito a comes e bebes típicos do país do leste europeu.



Encontros


Na última semana, os integrantes do clube organizaram uma noite russa em um bar na Asa Norte. Lá, montaram quizzes sobre a história do país, brincaram com jogos de damas, beberam os famosos shots e praticaram a língua entre nativos e estudantes do idioma. Entre as participantes, estavam as amigas Elena Anoshina, 28, e Olga Ostrowski, 32. Ambas deixaram o país natal depois de se apaixonarem por brasileiros.

;Vim ao Brasil por causa do amor. Encontrei meu marido na Rússia, porque ele foi estudar lá e resolvi vir com ele;, conta Olga. A amiga conheceu o marido brasileiro em um reveillon na República Tcheca e faz três anos que chegou a Brasília. Ela diz que são muitas as diferenças entre a capital do seu país e a do Brasil.

;Em Moscou a vida cultural é muito mais movimentada. Aqui tem mais verde, mais arte moderna, mas, em compensação, menos exposições e arte clássica;, elenca. A russa, que trabalhava com relações públicas em Moscou, hoje atua como professora na Asa Norte. Mas constrói planos com Olga: ;Queremos abrir uma joalheria;.

Yulia, que conhece muitos russos e lidera o clube no DF, conta que, normalmente, a história deles é parecida com as de Elena e Olga. ;Uma moça russa conhece um brasileiro, eles se apaixonam e ela vem para cá. Também há os aventureiros que se interessam pela cultura brasileira e simplesmente vêm. Muitos começam a dar aulas e depois abrem o próprio negócio, como eu fiz;, diz.

Refúgio


;Não adianta dividir Estado e Igreja. Isso não acontece na Rússia, porque a cultura de lá está ligada à religião.; Assim, Francisco de Assis, 65, que se tornou padre aos 40, analisa a relação da religião com a cultura russa. O piauiense de Buriti dos Lopes fundou a Igreja Ortodoxa Russa do Patriarcado de Moscou, no Lago Sul, e hoje acolhe muitos russos, que tratam o local como refúgio.

Quando inaugurou a igreja, padre Francisco tinha o objetivo de atender brasileiros. Depois, o templo se tornou uma comunidade étnica. Em dias de festas, como a Páscoa e a Dormição da Virgem Maria, no último domingo de agosto, russos, bielorussos e brasileiros se reúnem em uma grande confraternização e reforçam a união das duas culturas.

Ele costuma se reunir frequentemente com líderes da Rússia na capital. Na última semana, o encontro foi com o embaixador Sergey Akopov. ;Aqui no DF, temos a Igreja, a embaixada e a associação comercial da Rússia. Todos são fiéis ortodoxos e frequentam a paróquia;, afirma.

* Estagiário sob supervisão de Margareth Lourenço (especial para o Correio)