Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 22/05/2018 06:00
Pelo menos duas vezes por semana, Nathálya Silveira Soares, 18 anos, dedica quatro horas ao Hospital Universitário de Brasília (HUB). Nesses dias, a jovem visita os leitos para ver as necessidades dos pacientes, conversa com as mães na maternidade, dá atenção para aqueles que estão fazendo hemodiálise, brinca com as crianças na pediatria, entrega mensagens edificantes na unidade de quimioterapia e empresta seus ouvidos para o desabafo de quem se mostra desesperançoso. Nathálya é a típica doadora-voluntária. A jovem se realiza dedicando seu tempo e mantém envolvimento e proximidade com os pacientes.
Os perfis do doador, do voluntário e do voluntário-doador foram delineados na pesquisa sobre os hábitos e percepções da população do Distrito Federal sobre instituições de assistência às crianças e adolescentes. O estudo foi encomendado pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), entidade que conta com a colaboração de 300 pessoas, aproximadamente, entre doadores e voluntários.
Na pesquisa, realizada pela consultoria Opinião Informação Estratégica, ficou evidente que as características de doadores e voluntários se aproximam. Os dois grupos são compostos por pessoas altruístas, compromissadas e que se realizam ao ajudar o próximo. Entretanto, o perfil do doador varia, de acordo com o seu grau de engajamento.
Os doadores são aquelas pessoas que oferecem materiais ou dinheiro para uma causa, mas não querem se envolver com o objeto de destino de sua doação. Porém, os voluntários são aqueles que ;botam a mão na massa;. Eles estão presentes nas ações, nas brincadeiras com as crianças, querem estar próximos e fazer parte do trabalho.
O doador-voluntário, como Nathálya, moradora na Asa Norte, é aquele que carrega as duas características. Nesse grupo estão as pessoas extremamente ativas. Elas tanto doam material, desde dinheiro até roupas e mantimentos, quanto o seu tempo e dedicação em prol da causa.
Lição
Satisfação, gratidão, amor, compaixão, solidariedade e humanidade são os sentimentos que permeiam todos os perfis. ;Eu me sinto muito feliz em poder ajudar um pouco. O tempo que fico no hospital me faz enxergar a vida sob outro prisma. Cada dia tenho um novo aprendizado, uma lição de quem poderia reclamar da vida, mas está sorrindo, mesmo passando por dificuldades;, analisa Nathálya, estudante do segundo semestre de enfermagem, na Universidade de Brasília (UnB).
A pesquisa também apontou que ;uma vez doador, sempre doador;. Não existem diferenças significativas entre os perfis de doadores e de pessoas que pararam de doar. De acordo com o estudo, a condição para se estar efetivamente doando, ou não, depende das condições financeiras da pessoa, no atual momento ; se o orçamento doméstico está mais folgado ou mais apertado. Também influenciam nesse aspecto o fato de a pessoa ter perdido o contato com a instituição ou mesmo a insistência da entidade na doação, quando a pessoa não sente confiança no ato.
;Isso significa que o indivíduo (voluntário) adormecido precisa de estímulos para voltar à ativa e que a instituição deve também prestar contas à sociedade;, disse o consultor Alexandre de Araujo Garcia, que coordenou a pesquisa ; aliás, um trabalho realizado de forma voluntária.
Envolvimento
O estudo ouviu 401 pessoas e mostrou que sete em cada 10 brasilienses realizam ou já realizaram algum tipo de doação para instituições de assistência. Dinheiro e objetos foram as contribuições mais frequentes. A distorção está na constatação de que as pessoas com maior nível de instrução estão inseridas no grupo dos 30% restantes da população que nunca doou. A justificativa predominante dos homens que nunca auxiliaram é a falta de confiança na instituição (alvo da ajuda) enquanto, para as mulheres, são as questões financeiras.