Jornal Correio Braziliense

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Motoristas criticam a demora para resolver problemas no trânsito do DF

Motoristas que enfrentam engarrafamentos diários criticam demora na resolução de problemas como semáforos quebrados e carros acidentados que precisam de remoção



Enfrentar congestionamentos no Distrito Federal se tornou algo comum. Muitas vezes, o motorista percebe que o trânsito ficou lento devido a contratempos como um acidente sem vítimas, mas com os carros envolvidos ainda na via, um semáforo com defeito ou simplesmente um veículo quebrado e parado em lugar irregular. Nas ruas, o Correio escutou reclamações de condutores que esperam maior ação dos agentes na organização do trânsito para que o tempo perdido em engarrafamentos se torne menor. Juntos, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) colocam 520 agentes nas ruas, contingente inferior ao indicado para a atuação dos órgãos.

No começo do mês, a estudante Larissa Nogueira, 22 anos, saiu da residência onde mora no Riacho Fundo 2 e, ao consultar um aplicativo no celular, constatou que havia um grande engarrafamento em frente ao Complexo da Polícia Civil, próximo à Octogonal. Ela demorou cerca de 30 minutos para chegar ao local, e descobriu que um semáforo desligado era o causador do transtorno. ;Estava um perigo passar por lá, carros saíam das vias vindas do Sudoeste e entravam direto, rumo ao Parque da Cidade;, lembrou.

Larissa ligou para o número de atendimento ao público do DER e foi informada que a área não era de competência deles. ;E como eu, ou qualquer motorista, vai saber qual área ou ocorrência é da competência de qual órgão? Parece que o objetivo é só complicar;, criticou. Para a estudante, o pior é que o cruzamento onde o semáforo estava desligado ficou, pelo menos, 30 minutos congestionado e sem ação de agentes de trânsito para organizar o fluxo.

Um problema semelhante ocorreu com o comerciante Elenilton Benevides, 41. Ele trabalha no Setor Comercial Sul (SCS) e conta que, no começo do mês, o semáforo da saída da quadra 2 da região parou de funcionar. A situação perdurou por mais de duas horas sem intervenção de agentes de trânsito no local. ;Todos os dias, agentes passam por aqui pelo menos duas vezes para multar os carros estacionados em lugares irregulares, mas ,quando temos algum problema, não vemos ninguém para auxiliar. Parece que eles só trabalham para multar;, reclamou.

O superintendente de Trânsito do DER, Cristiano Cavalcante, afirma que quando um motorista quiser fazer uma denúncia e não souber qual órgão é responsável pela região, pode entrar em contato com Centro Integrado de Monitoramento (Ciad), no 3111-5684, que reúne informações de todas as categorias que atuam no trânsito do DF. Os números 190 e 193 também recebem queixas. ;Além de fiscalizar, atuamos em educação e engenharia do trânsito. São 170 agentes para fiscalizar e atuar na operação do trânsito, que recebem treinamento e orientação para isso;, garantiu.

O DER conta com 25 câmeras espalhadas pelas principais rodovias do DF. ;Monitoramos em tempo real, e temos registro de agentes de trânsito. Quando tem uma pane ou ocorre um acidente que pode ser desfeito, enviamos alguém ao local. O DER tem uma atuação bem ampla, temos registros de agentes que atuam até ajudando motoristas a trocarem pneus;, defendeu Cristiano.

Estacionamentos

O servidor público Ricardo Santos, 22, também teve problemas por falta de atendimento dos órgãos de trânsito. Ele trabalha no Setor de Autarquias Sul e, no mês passado, ao sair do escritório, encontrou um carro estacionado irregularmente atrás do veículo dele. ;Saí mais cedo do trabalho porque tinha um compromisso, mas não consegui manobrar o veículo. Liguei para o Detran avisando, mas esperei 40 minutos e só consegui tirar meu automóvel quando o motorista que estacionou atrás dele chegou para ir embora;, contou.

Hoje, o Detran conta com um quadro de 500 funcionários, dos quais cerca de 350 atuam diariamente nas ruas. Segundo o presidente do órgão, Silvain Fonseca, o número fica abaixo do recomendado, que seria de 700. Mesmo com o efetivo baixo, ele garante que o trabalho vem sendo feito. ;Na questão dos estacionamentos, por exemplo, temos uma rotina de atuação, onde os agentes vão aos locais em que costumam ocorrer esses problemas, além do acionamento via ouvidoria;, informou.

O tempo que leva para que os agentes cheguem ao local, segundo Silvain, varia de acordo com a quantidade de demandas. Ao chegar ao local, o agente pega a placa do carro e tenta localizar o dono entrando em contato pelo número informado no registro do veículo. ;Avisamos que o carro dele está em fila dupla, por exemplo, que está atrapalhando e que ele está sujeito a receber multa, que vai de leve a gravíssima, e a ter o carro removido;, detalhou. As principais reclamações recebidas pelos órgãos de trânsito são de som automotivo alto e estacionamento em local indevido ou em vagas preferenciais. Além do Plano Piloto, Sudoeste e Águas Claras são as cidades onde os problemas mais ocorrem.

Para o motorista Jean Ribeiro, 36, o problema são as paralisações no trânsito. ;Moro em Sobradinho, e, ao passar pelo Colorado, sempre enfrentamos problemas causados por acidentes ou manifestações. Isso faz o caminho para o Plano Piloto sempre demorar bem mais do que o normal;, afirma. Apenas em 2017, 15 mil eventos ocorreram em Brasília, entre manifestações e acontecimentos culturais, religiosos ou esportivos. ;Isso demanda muito trabalho dos órgãos de trânsito, porque precisamos estar em todos, tanto para controlar o trânsito quanto para impedir que algum acidente ocorra;, explicou Silvain.

A Polícia Militar também costuma trabalhar no controle de trânsito em eventos, mas, segundo o comandante do Comando de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (CPTran), Sousa Oliveira, a principal ocupação da corporação nas vias é no policiamento do trânsito. ;Atuamos, principalmente, nos crimes cometidos. Mas recebemos todos os tipos de reclamações, que entram em uma escala de prioridades. Entre uma lesão corporal e um caso de fluidez no trânsito, a prioridade é o caso mais grave;, frisou. Por questões de segurança, tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Rodoviária Federal não informaram o contingente que atua no trânsito do DF.