Jovens, universitários e voluntários. Além da rotina do dia a dia, dividida entre vida acadêmica e social, eles decidiram doar parte do tempo a uma causa social. Aproveitando a facilidade da internet, eles buscam ações relacionadas com o gosto pessoal, com áreas de interesse na faculdade e temas que os desafiem e os tirem da zona de conforto. Deslocam-se das mais variadas cidades do Distrito Federal, aprendem a gerir o próprio tempo e, além de conhecer, estabelecem os próprios limites. Eles garantem: a ação é transformadora, contagiante e vale a pena.
Júlia Cosenza, 20 anos, é estudante de medicina veterinária e protetora independente de animais abandonados. Inspirada pelo projeto social dos pais, ela participa de ações desde os 13 anos de idade. Os pais participam de uma organização que leva deficientes visuais para pedalar, com auxílio de condutores, no Jardim Botânico. O projeto é o Deficiente Visual na Trilha.
A estudante conta que iniciou o voluntariado ao proteger uma cachorrinha que estava na rua. Sem ter como abrigá-la em casa e, na época, por falta de conhecimento sobre processos de proteção e resgate, ela recorreu ao Facebook e procurou por páginas e grupos que pudessem ajudá-la. A estudante encontrou o grupo Doação de animais Brasília. Hoje, com mais de 40 mil membros, a comunidade é administrada por Júlia e uma amiga.
Diferentemente das organizações não governamentais (ONGs), que possuem regras para a adoção de animais, Júlia, como protetora independente, encontra um lar para os bichos com base em critérios desenvolvidos por ela. ;Fica mais fácil para administrar a doação de um animal quando eu posso usar os meus critérios da forma como eu acho que devem ser;, garante.
Para quem vê, pode parecer difícil conciliar tantas atividades, mas a universitária diz que aprendeu a otimizar o tempo, estabelecer prioridades e instituir horários de dedicação aos estudos e ao trabalho voluntário. ;A pessoa precisa conhecer seus limites para equacionar o que quer fazer;, aconselha.
Mesmo sem se conhecerem, a estudante de ciências contábeis, Josianne Santos, 21, parece seguir à risca o conselho da futura médica veterinária. A jovem atua em dois grupos. No primeiro, o The Street Store, projeto mundial, que surgiu na Cidade do Cabo, África do Sul, ela contribui para melhoria da vida de pessoas em situação de rua, doando roupas e oferecendo orientação para obtenção de atendimento jurídico, médico e social. Pelo segundo grupo, o Laços da Alegria, ela participa da visita a doentes hospitalizados.
Para a baiana, o trabalho voluntário é uma via de mão dupla que mudou a maneira de ver a vida, os problemas e as pessoas. ;Quando você ajuda alguém, também é ajudada. Por mais que tenhamos dificuldades, quando vemos uma pessoa em situação pior que a nossa e que podemos ajudá-la com o mínimo, então passamos a encarar as dificuldades de outra forma. Sinto gratidão pelo que posso fazer;, resume a jovem.
Para a estudante, o voluntariado não é apenas uma caixinha na sua vida, restrito ao momento das ações. Ela afirma que aplica o que aprende no dia a dia. Ao ajudar o próximo, Josianne passou a socializar-se melhor, fora as experiências que adquiriu ao conhecer pessoas de diferentes classes sociais e vivências.
Ela acredita que o trabalho que desenvolve contagia, tanto que procura apresentar as ações a outras pessoas. ;Não adianta falar que o mundo é ruim, que nada dá certo ou que pessoas estão erradas. Se podemos mudar, então temos que mudar. E eu acho que o voluntariado é esse caminho;, defende a estudante.
Opções
Existe voluntariado de diversos tipos, como o escolhido pelo estudante de comunicação Filipe Alemar, 20. Ele participa da instituição Litro de Luz, que leva iluminação para comunidades sem acesso ao serviço e em situação de vulnerabilidade social. O projeto trabalha com empreendedorismo social e tecnologia sustentável, utilizando material de baixo custo para produção de lampiões e postes solares. Como Filipe tem interesse pela área de divulgação, ele participa para tornar a iniciativa mais conhecida e contribuir para despertar o interesse de mais pessoas.
Conhecido entre os amigos pelo trabalho voluntário que realiza, Filipe incentiva aqueles que se interessam por esse tipo de ação a pesquisar, procurar plataformas de divulgação das iniciativas. ;Muitos têm interesse em doar seu tempo, mas nem sempre têm oportunidade ou conhecimento sobre o que fazer. Por isso acho que a divulgação é muito necessária;, defende. Ele ainda diz que sua experiência no Litrão contribui para seu desempenho acadêmico. ;Há uma diversidade de opiniões e visões de mundo que eu trago para a faculdade, propondo debates, pesquisas e discussões;, completa. O estudante enxerga no trabalho voluntário a possibilidade de transitar por outros ambientes e aprender novas linguagens.
A opinião de Filipe é compartilhadada pela psicóloga clínica e especialista em psicodrama Kathia Priscila P. Neves, 30 anos. Ela afirma que os efeitos do trabalho voluntário politizado, crítico e atuante em favor da autonomia dos que recebem o suporte garante uma construção do papel profissional mais próximo da realidade. Contribui também para preparar o aluno para lidar com as demandas de forma criativa e funcional. ;O voluntariado desenvolvido por universitários traz aprendizado e ganho de experiência. É um exercício ativo e eficaz da cidadania e do papel profissional. Além do desenvolvimento de uma consciência crítica;, pontua.
Saiba mais
Doação de animais Brasília
Facebook: Doação de animais Brasília
Instagram: @doacoesanimaisbsb
Deficientes Visuais na Trilha
Facebook: DV na Trilha
Instagram: @dvnatrilhaoficial
Site: www.dvnatrilha.com.br
The Street Store
Facebook: The Street Store Brasília
Site: www.thestreetstoredf.com.br
Litro de Luz
Facebook: Litro de Luz Brasil
Instagram: @litrodeluzbrasil
Site: www.litrodeluz.com
*Estagiária sob a supervisão de Margareth Lourenço (especial para o Correio).