Prata da Casa: tatuadores de Brasília falam da paixão pela arte corporal

Três artistas contam suas histórias de vida e como começaram a se interessar por tatuagens

Cores, formas e histórias marcadas na pele. Só quem tem uma tatuagem sabe que a arte corporal não é exatamente apenas um desenho. É uma manifestação que, se tudo correr como planejado, será eterna no corpo. Os artistas Camila Corrêa, Pablo Hermano e Rogélio Paz são feras nos traços e têm em comum a paixão pelo desenho, pelas cores e por formas geométricas.

Segundo estudiosos, a prática de riscar o corpo é mais antiga do que se imagina. Já são mais de 5.300 anos. A paixão de Camila por desenhar vem da infância, como já era de se esperar. A surpresa foi o fato de o hobby acabar virando profissão, em 2013. À época, artista deixou de atuar na Educação Física, sua área de formação, para abrir um estúdio de tatuagem.

Em seu primeiro espaço, no Recanto das Emas, a tatuadora fazia todo tipo de trabalho, mas desde sempre sentia necessidade de ter um estilo próprio. Com o tempo, mudou de ares e passou a atender no Plano Piloto. "O pessoal gostava mais das tatuagens comerciais lá (no Recanto), as que estavam na moda. Eu tive que fazer essa mudança e aqui no Plano Piloto deu mais certo", explica, sobre poder trabalhar melhor sua liberdade criativa.

Camila define seus desenhos como linhas soltas e fluidas, aquarelas despojadas, pontilhismo, uma junção de escritas e formas que chamam a atenção de quem procura pelo seu trabalho. O processo de criação se dá a partir das histórias inspiradoras que cada cliente lhe conta. Diante das narrativas, surgem desenhos expressivos, delicados e inconfundíveis. A valorização do empoderamento feminino e homenagens a Brasília também são destaque no portfólio dela.

Dos quadrinhos à pele

Desde criança Pablo Hermano já mostrava seus primeiros desenhos, todos inspirados em quadrinhos. Aos 12 anos, conheceu o tatuador Rogélio, amigo de sua mãe à época, quando teve seu primeiro contato com a tatuagem. "Eu vivia no estúdio dele. Ele fazia tatuagem nas minhas unhas", relembra. Aos 18, o jovem Hermano foi morar nos Estados Unidos. Durante a sua passagem pelo país, que teve a duração de 7 anos, Pablo conheceu um tatuador brasileiro que o convidou para trabalhar em seu estúdio. Começava ali a vida de estagiário.

Voltando ao Brasil, a tatuagem ficou em segundo plano, apenas como hobby. O artista foi cursar faculdade de publicidade e propaganda, tentou abrir uma produtora de vídeo, mas nada correu como o esperado. Desde 2010 ele vive do seus desenhos, sejam tatuagens ou ilustrações. "Eu nem vejo como trabalho, sabe? Eu gosto muito do que eu faço. É muito divertido", afirma. Especialista em traços finos, Hermano acaba cativando o público feminino como sua principal clientela. Entretanto, suas linhas foram se adaptando ao "estilo mais tradicional" para alcançar todos os gostos, estilos e gêneros.

Preconceito

Já Rogélio, tatuador pioneiro em Brasília, conta que, no começo, a aceitação de quem tinha o corpo riscado não era como nos dias de hoje. "Era diferente. Tinha poucos tatuadores e a mentalidade era outra. Tatuagem era coisa de marginal, aquela coisa grosseira. Hoje teve uma evolução muito grande", explica o artista. Para ele, as mudanças nos traços e as várias possibilidades facilitam a aceitação, trazendo mais público para o estilo.

O pioneiro começou a se aventurar nas agulhas e tinteiros ainda aos 16 anos. Desde então, participou de diversos eventos, concorreu a prêmios, ganhou alguns deles e virou um dos maiores nomes no DF. Rogélio é tatuador há mais de 30 anos. Inácio da Glória, primeiro tatuador da capital federal, foi o seu mentor. Formado também em educação física, além de tatuador, Rogélio ainda dá aulas. Ele conta que sua formação acadêmica foi um grande trampolim para o seu trabalho como tatuador. "O curso só me acrescentou, porque peguei a parte de anatomia, por exemplo, de movimentos, técnicas que facilitam no processo de tatuar;, afirma.

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Endereço: 705/905 Sul Ed. Mont Blanc Sala 18

* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli