Em homenagem ao mês de conscientização do autismo ; celebrado em 2 de abril, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro proporciona um programa diferente para crianças e jovens autistas. Hoje, a partir das 10h, no Cine Brasília, os músicos fazem um concerto inclusivo, com ajustes na iluminação e na intensidade sonora do local, para que as crianças possam aproveitar o momento sem incômodos. Pessoas com autismo são dotadas de aspectos sensoriais que fazem com que muitas sensações sejam percebidas de uma vez. Um desses traços é a hipersensibilidade à audição e à luz, que, em muitos casos, pode levar o autista ao estresse. Essa é a terceira edição do evento, que tem entrada gratuita.
Maestro regente e titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, Cláudio Cohen ressalta que o concerto é a forma de eles levarem música de qualidade a outros públicos que em geral não têm acesso a esse tipo de espetáculo ou convivem com poucas opções. ;Queremos levar a mensagem da música, que é algo que conforta. Devido a uma série de restrições e exigências quase, não se tem produtos culturais para esse público. E a música é um fator importantíssimo, que traz melhorias à saúde;, reforça.
Diferentemente dos concertos tradicionais, que exigem concentração e silêncio do público, hoje as crianças poderão conversar e explorar livremente o espaço. ;Durante as edições anteriores do evento, notamos que as crianças são muito receptivas e até interagem, gostam muito da música. É gratificante, porque recebemos manifestações de carinho depois da apresentação. Ganhamos muitos abraços das crianças e jovens;, comenta Cohen. Na ocasião, profissionais voluntários e capacitados estarão disponíveis para dar suporte às crianças e acompanhantes.
Antulio Ferreira da Silva, 43 anos, pai de Pedro Gabriel Ferreira Marques, 13, diagnosticado com Síndrome de Asperger aos 8 anos, aponta que iniciativas como a da Orquestra Sinfônica é de suma importância para as crianças autistas. ;Existem muitas dificuldades de encontrar condições em locais de lazer para eles. Sinto falta de lugares adaptados;, frisa. Para o morador do Setor O, se houvesse mais divulgação a respeito do autismo, consequentemente, haveria mais leis para beneficiar essas pessoas. ;O Concerto vai ser muito bom para as crianças e fará bem à saúde delas;, assegura.
A dona de casa Rosângela Alves, 43 anos, é mãe da pequena Júlia, 7, que foi ao concerto no ano passado. A moradora do Guará conta como ficou feliz ao ver a filha interagir e se divertir durante o evento. ;O autismo dela é moderado. A Julia tem algumas dificuldades e não interage muito. Então, senti uma enorme alegria quando a vi sorrir e até brincar com as outras crianças;, recorda. Rosângela afirma que o ambiente adaptado e a música auxiliam a criança a se sentir mais à vontade. ;Eventos como esse deveriam existir com mais frequência. É lindo, mas uma vez por ano é pouco. A sociedade e o governo precisam estar mais conscientizados com relação às necessidades dos autistas;, aponta.
Diagnosticada com a síndrome aos 8 anos, Amanda de Sá Paschoal, hoje com 26, defende que iniciativas inclusivas deveriam estar presente em todos os lugares. ;Isso faz parte da acessibilidade, dos direitos humanos. Assim como há rampas para quem usa cadeira de rodas e Libras para surdos, deveria haver adaptações para autistas. Não é o autista que precisa se modificar para ter acesso. Se algo for um impedimento para que ele tenha acesso à atividade, a arte ou o que for, é preciso que a instituição repense a forma como ela oferece esse bem, porque não está sendo acessível;, critica.
A iniciativa
;O projeto teve início há cerca de quatro anos com um evento inclusivo na Catedral de Brasília. Repetimos o concerto e tivemos um grande público;, conta Cláudio Cohen. O maestro propôs, então, uma orquestra adaptada para o público, que em geral não tem acesso a esse tipo de evento devido às limitações que possui. ;Assim nasceu o concerto todo dedicado aos autistas. Este é o terceiro ano que fazemos em abril, em comemoração ao mês da conscientização sobre o autismo.;
No repertório, além de clássicos da música popular brasileira, como Luiz Gonzaga e Raul Seixas, e da música erudita, estão presentes também trilhas sonoras de grandes sucessos do cinema, como Star Wars, Super-Homem e Batman.
* Estagiária sob a supervisão de Margareth Lourenço (especial para o Correio)