Na casa da professora Shelaine Lopes, 31 anos, não teve comemoração de Páscoa. A família ainda não se recuperou do trauma vivido há quatro dias. Ela e a filha, Sophia Lopes, 8 anos, foram arremessadas para fora de um ônibus em movimento durante um assalto, quinta-feira, após a menina pedir para que os bandidos não levassem o ovo de Páscoa que havia acabado de ganhar. A mãe recebeu alta médica ontem. Sophia continua internada. Apesar de ter sofrido ferimentos graves, não corre risco de morte, mas não tem previsão de alta. A Secretaria de Segurança Pública registrou, em janeiro e fevereiro, média de cinco assaltos a ônibus por dia.
Na noite de ontem, parentes visitaram Sophia no Hospital de Base, onde se recupera. No sábado, ela foi transferida do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) para a maior unidade de saúde do DF para fazer exames mais precisos. O quadro ainda requer cuidados. A menina não pode passar por fortes emoções, mas não ficará cega, como se temia, pois sofreu um ferimento muito próximo do olho. Shelaine está em casa, onde se recupera da fratura na perna esquerda. Ela ainda sente dores. Mãe e filha não se reencontraram.
Para a família, é difícil entender o que aconteceu. A situação gera indignação. ;Tenho uma filha da mesma idade e consigo imaginar o que elas estão passando. Não é fácil passar por uma situação extrema dessa;, lamenta a vendedora Liliane Lopes, 38 anos, prima de Shelaine.
A operadora de caixa Shely Lopes, 33 anos, irmã de Shelaine, diz que é um trauma que não será esquecido. ;Meus irmãos e eu sempre comemoramos o nosso aniversário juntos, com um almoço no domingo de Páscoa. Após um susto desse, não foi possível. Não tem clima;, desabafou. Os familiares estão esperançosos com a recuperação de mãe e filha. ;A Sophia está reagindo bem à medicação. No momento em que tudo aconteceu, ela disse que não conseguia ver nada. Agora, já conversa e consegue reconhecer as pessoas;, comentou Shely.
Medicadas e mais calmas mãe e filha conseguiram detalhar melhor aos familiares o que aconteceu na noite de quinta-feira passada. Depois de Shelaine e Sophia se levantarem das cadeiras do ônibus e irem em direção à porta, na intenção de descer na parada que se aproximava, os criminosos anunciaram o assalto e ordenaram ao motorista que não parasse o veículo. A criança se assustou com a ação e se agarrou à mãe. Neste momento, um dos homens empurrou a menina para fora do ônibus. Em seguida, t ambém empurrou a mãe da garota.
A dupla roubou todos os passageiros e o dinheiro do cobrador. O cobrador do ônibus em que estavam Shelaine e Sophia registrou um boletim de ocorrência 32; Delegacia de Polícia (Samambaia Sul). Até a noite de ontem, nenhum suspeito havia sido preso ou identificado. O coletivo pertence à Urbi Mobilidade Urbana. O Correio questionou a empresa se há câmeras no veículo ou se elas funcionam, mas não obteve resposta.
Segundo caso
Sophia e Shelaine entraram para uma estatística alarmante. A Secretaria de Segurança Pública registrou, em janeiro e fevereiro, 305 assaltos a ônibus no DF ; média de cinco por dia. O Executivo local ressalta a queda de 41% nesse tipo de crime, comparado com o primeiro semestre de 2017, quando ocorreram 519 assaltos.
Esse é o segundo caso de passageiro jogado para fora do ônibus durante assalto. Na madrugada de 14 de fevereiro, terminou com a morte de David de Brito Moreira, 21 anos. Ele voltava para casa, em Planaltina, após uma festa de carnaval. A vítima foi arremessada por tentar esconder o celular dos agressores. David ficou internado, mas não resistiu. Depois da morte, a Polícia Civil prendeu três adultos e três adolescentes.