Walder Galvão - Especial para o Correio, Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 21/03/2018 12:17
Moradores de Formosa fizeram, nesta quarta-feira (23/3), uma manifestação em apoio às investigações do Ministério Público de Goiás (MPGO) que resultou na prisão de sete religiosos e dois empresários acusados de desviar dinheiro da Igreja Católica. A movimentação começou por volta das 11h e cerca de 100 pessoas se reuniram em frente à sede do MP, pedindo justiça. Três viaturas da Polícia Militar acompanharam o protesto.
A maioria dos participantes era formada por fiéis que se diziam decepcionados com a revelação do esquema, que desviou cerca de R$ 2 milhões, segundo a apuração dos procuradores. O ato ocorreu enquanto três dos suspeitos prestavam depoimento. No momento em que os acusados deixaram o prédio, os fiéis começaram a rezar em uníssono.
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Três vereadores do município também participaram do ato. De acordo com um deles, Genedir Ribas (DEM-GO), 51 anos, um dos organizadores do protesto e membro da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, localizada em Formosa, os manifestantes pedem dedicação pelas igrejas. "Precisamos de respostas e que a justiça seja feita", comentou. Genedir ressalta que desde 2015 existem boatos sobre o esquema na cidade, porém os moradores não imaginavam uma proporção tão grande do prejuízo.
Esquema milionário
. Por meio da Operação Caifás, foram presos temporariamente o bispo da cidade ; e responsável por outras 33 paróquias ;, dom José Ronaldo Ribeiro; o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, vigário-geral da Diocese da cidade; os padres e párocos Moacyr Santana, Waldoson José de Melo e Mário Vieira de Brito; o padre e juiz eclesiástico Thiago Wenceslau; o secretário da cúria, Guilherme Frederico Magalhães; e os empresários, acusados de serem laranjas da quadrilha, Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira.
O Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) acusa os religiosos de terem desviado mais de R$ 2 milhões da Igreja Católica desde 2015. A verba seria proveniente de batismos, casamentos, crismas, festividades religiosas, doações e dízimos dos fiéis. Segundo informações da investigação, o montante foi usado para a compra de uma fazenda, uma casa lotérica, dinheiro em espécie e em contas bancárias, computadores, carros e artigos de luxo.
Na terça-feira (20/3), o Correio noticiou com exclusividade as notas promissórias de uma casa lotérica no município de Posse (GO), no nome do padre Moacyr Santana. O estabelecimento estava no nome dos empresários Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira. Áudios de uma conversa entre os suspeitos apontam que 55% do estabelecimento pertencem ao padre.
Ainda na tarde de terça-feira (20/3), o MPGO começou a escutar os envolvidas no esquema criminoso. Durante a tarde, o padre Waldoson José de Melo, e os empresários Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira prestaram depoimento. Os acusados optaram por deixarem a defesa se pronunciar durante os questionamentos.
Na início da manhã desta quarta-feira (21/3), outros três acusados foram escutados pela justiça. O padre e pároco Waldoson José de Melo e os empresários, indicados como laranjas do esquema criminoso, Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira. A expectativa do MPGO é de que até sexta-feira (23/3), todos os nove suspeitos sejam escutados.
Além dos desvios de dinheiro, gravações de escutas telefônicas, autorizadas judicialmente, foram primordiais para que o Ministério Público pudesse comprovar a conduta do bispo de Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro. O documento possui 51 páginas, com conversas dos investigados. Nos áudios, investigadores identificaram a participação de alguns familiares dos sacerdotes católicos, que entraram no esquema como laranjas. Identificou-se que o bispo também solicitava uma parcela do dinheiro desviado nas paróquias para manter os padres nas igrejas, de acordo com o promotor Douglas Chegury. Em outra conversa, é dito que o juiz eclesiástico Thiago Wenceslau intimidou padres que estavam insatisfeitos com a falta de transparência nos dados das paróquias.
. Durante a ausência do bispo, o arcebispo Paulo Mendes Peixoto, de Uberaba (MG), irá administrar a Diocese da cidade, responsável por 33 paróquias, distribuídas em 20 municípios goianos.
Na tarde de terça-feira, a Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) divulgou uma nota, onde pedia que fiés continuassem unidos em oração. Ainda, o texto o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, pediu justiça durante as investigações.