Um homem matou a mulher, na tarde desta sexta-feira (16/3), e cometeu suicídio em seguida, em Ceilândia Sul. Segundo informações preliminares da Polícia Militar, o marido usou uma arma calibre .38 para cometer o crime e tirar a própria vida.
O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (SindMetrô) informou que o homem era piloto do Metrô-DF. O casal estava em processo de separação e tinha dois filhos. A companhia confirmou a informação e disse que se trata de Júlio César dos Santos, 38 anos, funcionário do Metrô havia sete anos.
Ele e a mulher, Mary Stella Maris Gomes Rodrigues dos Santos, 32, teriam se separado, mas reatado o relacionamento há poucos dias. Vizinhos informaram que o casal morava na Ceilândia desde 2014 e que brigas eram constantes. Peritos da Polícia Civil chegaram ao local do crime por volta das 17h40.
A notícia surpreendeu os colegas de trabalho. "Ele era um cara super tranquilo, sossegado. Essa notícia surpreendeu a todos. Está todo mundo muito sentido", comentou Renata Campos Strafacci, da Secretaria de Comunicação e Mobilização do SindMetrô.
Testemunhas informaram que o filho de 2 anos do casal presenciou o crime e ficou em estado de choque. A criança está na casa do vizinho, Edson Tavares, sargento do 10; Batalhão de Polícia Militar, 44. O outro filho está na escola.
Edson relatou ao Correio que não tinha contato com Júlio César. "Eu tinha chegado do serviço, ouvi os gritos de socorro e coloquei a arma na cintura, para ajudar. Mas não cheguei a tempo, ela já havia sido alvejada", lamentou o militar.
Uma testemunha, que preferiu não se identificar, afirmou que estava em casa quando ouviu o som de objetos de vidro sendo quebrados e pedidos de socorro. "Eu a vi tentando fechar a porta de casa, enquanto ele segurava o filho no colo e tentava entrar. Ela me pediu para ligar para a polícia quando viu que ele estava armado. Enquanto eu pegava o celular em casa, ele deu três tiros nela. A polícia encontrou os dois caídos no chão", relatou.
Casos recentes
No início do mês, um crime semelhante chocou moradores da Asa Sul. Elson da Silva, 39 anos, usou também uma arma de fogo para matar a mulher, Romilda Souza, 40, no apartamento em que o casal morava com os dois filhos e a mãe da vítima, na 406 Sul. Ele cometeu suicídio em seguida.
Outro caso recente de feminicídio aconteceu em Santa Maria, em 22 de janeiro. Alessandro Ferreira Floriano, 47, empurrou Isa Mara Dantas Longuinho Floriano, 52, das escadas. Em seguida, o suspeito levou o corpo até um matagal, à beira da BR-060, próximo ao município de Alexânia (GO), onde ateou fogo à vítima. Eles eram casados havia 18 anos. Alessandro foi preso em flagrante.
Já em 9 de janeiro, em São Sebastião, os corpos do policial militar Bruno Viana, 37, e da namorada, Clésia Andrade, 28, foram encontrados em uma casa na Quadra 11 do Morro Azul. Os dois foram baleados na cabeça e a linha investigativa era a mesma: homicídio seguido de suicídio, por parte do PM. À época, uma amiga da vítima disse que a estudante havia entrado na Justiça com uma medida protetiva contra o militar após um caso de agressão.
Em 11 de setembro, . De acordo com testemunhas, o casal estava em processo de separação, mas o autor não aceitava o fim do relacionamento. Um oficial de Justiça, que entregaria medida protetiva para que o homem se mantivesse afastado da mulher, e o irmão do acusado chegaram horas depois ao local e encontraram os corpos.
No Dia Internacional da Mulher, celebrado em de março, o número de casos de violência doméstica registrados pela Polícia Militar contra mulheres no DF foi mais alto que a média. De acordo com a corporação, houve o registro de 84 chamados, a maior parte em Ceilândia, seguida de Taguatinga e Paranoá. O número médio de ocorrências não costuma passar de 50.
Necessidade de políticas públicas
Tânia Fontenele, pesquisadora de gênero e coordenadora do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher, explica que o combate a relacionamentos abusivos exige políticas públicas e conscientização. ;As campanhas contra a violência falam da denúncia. As famílias e a comunidade devem perceber essas agressões físicas ou psicológicas e tentar ajudar para não chegar ao extremo. Muitos casos são de fundo patológico (doentios);, destaca.
Para a especialista, esse trabalho envolve a escola, as famílias e leva décadas para mostrar resultados. ;A violência é inadmissível. Para se combater isso é necessário conversar com as crianças, explicar nas escolas o que é e como pedir ajuda para criar um novo comportamento. O patriarcado e o machismo levam homens a matar mulheres simplesmente por serem mulheres. É preciso políticas públicas e campanhas para mudar isso;, conclui.
Colaboraram Otávio Augusto; Bruna Lima e Jéssica Eufrásio (Especiais para o Correio)