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Em Brasília, manifestantes protestam contra a morte de Marielle Franco

A movimentação foi realizada no fim da tarde de hoje, na praça Zumbi dos Palmares, em frente ao Conic, na região central da capital federal

Sob algumas gotas de chuva e diante de uma bandeira LGBT estendida no chão, várias pessoas manifestaram, em Brasília, seus sentimentos pela morte da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros junto a seu motorista, na madrugada desta quinta-feira (15/3), no centro do Rio de Janeiro. Convocados pela liderança do Movimento Feminista Negro de Brasília, cerca de 200 pessoas estiveram presentes hoje na praça Zumbi dos Palmares, em frente ao Conic, próximo à Rodoviária do Plano.

A socióloga Taís Machado, de 30 anos, esteve no protesto. Para ela, os negros vivem histórias semelhantes todos os dias. "É uma sensação desestimulante. Uma mulher negra chega em um lugar onde temos pouquíssima representatividade e acontece isso", lamenta. Segundo ela, a violência sofrida por Marielle significa uma forma de calar a voz dos negros. "Querem apagar nossos pensamentos. Precisamos ter a noção de que ela morreu por ser uma mulher negra", desabafa.

Após fazer um discurso sobre sua vida, o professor de direito do UniCEUB, Paulo Rená, que é negro e relembrou as dificuldades que enfrentou, afirma que a situação tem várias interpretações, mas que a preocupação é que o acontecimento torna invisível a questão do etnocídio contra os negros no Brasil. "O negro jovem é descartado sem maiores problemas", explica. Segundo o professor, existe uma base social que "ensina que matar negro não é grande problema." "Quando um pobre é atropelado por alguém rico, ninguém se lembra mais", lamenta.

Quanto à intervenção federal no Rio de Janeiro, Rená se mostrou temeroso sobre a intensificação do movimento, diante da morte de Marielle. "Se passarmos dez dias sem nenhum assassinato ou dez dias com assassinatos, a intervenção vai continuar. Se ela não protegeu uma vereadora no centro da cidade, quem ela vai proteger?", questiona.

Segundo o presidente do Psol do Distrito Federal, Fábio Félix, a morte da vereadora representa uma ruptura da democracia. "Ela levantava as principais bandeiras das minorias", lembrou. Para ele, violências do tipo não devem ocorrer na sociedade. "A gente volta para o velho oeste", ironiza, ao lembrar que, qualquer que seja o lado atacado, direita ou esquerda, o problema é sintomático. Félix afirmou que as pautas levantadas pela vereadora ainda serão trabalhadas. "Ela vai ser um símbolo para a luta desse ano", afirmou.

A Deputada Federal Erika Kokay (PT) também esteve presente no evento, e criticou fortemente o poder legislativo. Erica pediu que as pessoas comprem a luta pelos direitos das minorias.
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*Estagiário sob supervisão de Ana Letícia Leão.