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Mudança na velocidade de vias da Ceilândia começa esta semana

A alteração, que ocorreu em pelo menos outras sete pistas do DF, contribui para diminuir acidentes, segundo especialistas

A redução de velocidade nas vias N2 e N3 de Ceilândia começará esta semana. O Departamento de Trânsito (Detran-DF) iniciará a troca das placas de 60 km/h para as de 50 km/h. Por enquanto, os motoristas que desrespeitarem o novo limite não serão multados, haverá apenas blitze educativas. Pelos menos outras sete vias do Distrito Federal passaram pela mesma mudança. Segundo especialistas, a alteração tende a reduzir o número de acidentes e não compromete a fluidez do trânsito.

Nos últimos cinco anos, somente na N3 ; que liga a BR-060 à BR-070 ; foram registradas 12 mortes. ;A proposta é mudar o comportamento do condutor e reduzir os atropelamentos e acidentes em geral;, afirma o diretor-geral do Detran, Silvain Fonseca. Em 2017, as duas vias receberam lombadas para induzir os motoristas a diminuírem a velocidade.

As mudanças são parte de um projeto da equipe de Engenharia de Trânsito do órgão e, segundo a diretora, Daniele Valentini, estudos mostram que a redução das velocidades não impactará na fluidez do trânsito. ;Na N3, que é uma via de aproximadamente sete quilômetros, por exemplo, o motorista perderá apenas um minuto se fizer o mesmo trajeto a 50 km/h, e não a 60 km/h. Isso porque, em média, as pessoas já andam abaixo da velocidade;, analisa.

A dona de casa Marlene dos Santos, 62 anos, elogia a mudança. Segundo a moradora do P Norte, a alteração beneficiará pedestres e ciclistas. Ela relata que os veículos passam por essas vias em alta velocidade, desrespeitam faixas de pedestres e causam acidentes. ;Agora, tendo que dirigir mais devagar, vai ficar mais fácil eles pararem para nós, pedestres. E, com certeza, a diminuição dos acidentes vai transmitir mais segurança para a população que passa por esses locais;, acredita.

Já para o autônomo Edimilson Silva, 53, a diminuição da velocidade máxima na via N2 pode prejudicar os condutores que fazem o trajeto pela região diariamente. ;Essa é umas das pistas que têm mais fluxo em Ceilândia. Então, acho que isso pode atrapalhar um pouco. Depois que colocaram mais semáforos, o engarrafamento aumentou;, opina.

De acordo com o especialista em trânsito e professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques, as medidas não alteram o fluxo nas vias. ;Vivemos em uma sociedade que tem a cultura da velocidade. Então, quando se fala em redução, o senso comum tende ao pensamento de que as pessoas passarão mais tempo presas em congestionamentos. Mas essa é uma relação errada, a variação de tempo é completamente insignificante. Agora, o impacto nos acidentes é, sim, muito grande;, salienta.


Outras alterações


Além de Ceilândia, alterações semelhantes ocorreram em Águas Claras, Taguatinga, Lago Norte e, recentemente, no Noroeste (veja quadro). Segundo Danieli Valentini, após a redução da velocidade nas duas primeiras regiões administrativas, os acidentes sem morte caíram 35% e 48%, respectivamente. ;Por conta dos bons resultados, temos planos para implementar reduções também nas transversais de Ceilândia até Taguatinga, em algumas vias de Samambaia e no contorno do Gama;, informa.

Entre os motoristas que trafegam por essas regiões, a medida divide opiniões. O servidor público Reynaldo Barbosa Lima, 62, morador do Taquari que dirige pela EPPN, principal pista do Lago Norte, acredita que a ação é fundamental para o trânsito. Lá, a redução de 70km/h para 60km/h ocorreu em 28 de novembro de 2017. ;Concordo que o Detran deve, sim, tomar medidas extremas como essas. As pessoas não se preocupam em dirigir com segurança. Particularmente, acho que falta consciência, respeito e cidadania por parte dos motoristas. Eles precisam compreender que colocam em risco a própria vida e a dos outros;, afirma.

João Pedro Pereira de Queiroz, 23, morador da região do Setor Terminal Norte (STN), onde a velocidade também caiu para 60 km/h, não concorda com a mudança. ;Acho que a redução naquela via é uma coisa sem necessidade. Acredito que é uma atitude desrespeitosa com os motoristas, pois, para mim, atrapalhou o andamento do trânsito. Ainda não houve uma campanha de conscientização sobre a redução, só soube quando vi a placa, com a nova velocidade, já em cima do pardal;, diz.

Tendência


Para Paulo César, da UnB, essa é uma tendência que deve ser seguida. ;Em todos os países que adotaram a medida, houve redução drástica dos números de acidentes de trânsito. O mesmo pode ser visto nas vias de Brasília que passaram pelo processo;, ressalta.

Também docente do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB e do Programa de Pós-graduação em Transportes, a professora Michelle Andrade concorda que a medida é adequada. ;Uma velocidade na ordem de 60km/h em local no qual há compartilhamento de espaço com pedestres ou ocupação de área lindeira (comércio) é incompatível com as condições de deslocamento a pé;, explica.

Michelle esclarece, ainda, que a diminuição de velocidade tem impacto na gravidade dos acidentes. ;Uma diminuição de 10km/h pode significar a diferença entre a morte e lesões. O ideal seria até, no máximo, 30km/h nessas áreas (de divisão com pessoas). Essa é uma tendência mundial, vista em cidades como Nova York e Paris, que implementaram a chamada Zona Trinta, onde só se trafega a até 30km/h. Nessa velocidade, caso aconteça um acidente, o motorista tem tempo de reação maior, possibilitando a realização de uma manobra de frenagem;, detalha a docente.

Outras capitais chegaram a seguir esse movimento. Em julho de 2015, os motoristas de São Paulo tiveram de se acostumar a tirar o pé do acelerador em vias movimentadas, como as marginais Tietê e Pinheiros. A administração municipal limitou a máxima dos velocímetros em 50km/h nas pistas locais; 60km/h nas centrais; e 70km/h nas expressas. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego da região, um ano após a adoção da medida, houve redução de 52% nos acidentes de trânsito. No ano passado, no entanto, as vias locais e centrais voltaram para 70km/h e as expressas, para 90km/h. O número de acidentes nos três primeiros meses daquele ano aumentaram em 67% na comparação com o mesmo período de 2016.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer


Redução para reforma na EPTG

Na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), o trecho próximo à Faculdade Mauá, em Vicente Pires, no sentido Plano Piloto-Taguatinga, terá a velocidade máxima reduzida de 80km/h para 60km/h, a partir de quarta-feira. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER/DF) instalará placas de sinalização indicando o novo limite. O motorista que não respeitá-lo será multado. A mudança ocorre por conta das obras que terão inicío na quinta-feira, a fim de ampliar a terceira faixa da direita, nos dois sentidos da via. Durante o período, o fluxo de veículos será permitido em parte da faixa exclusiva. No sentido Taguatinga-Plano Piloto, as alterações na via serão a 500m do viaduto Israel Pinheiro e acabam no trecho próximo à Residência Oficial do governador, em Águas Claras.

Reduções por região


CEILÂNDIA
Fevereiro de 2018
A velocidade nas vias N2 e N3 será reduzida de 60 km/h para 50 km/h. Ainda não há data para que os motoristas comecem a ser multados caso desrespeitem o novo limite.

ASA NORTE
Janeiro de 2018
O Setor Terminal Norte (STN) teve o limite máximo reduzido de 70km/h para 60km/h. No fim da via, que interliga a W3 Norte à DF-003 (Epia), o Detran também instalou um equipamento redutor de velocidade. Naquele mesmo ano, quatro acidentes foram registrados na via.

NOROESTE
Dezembro de 2017
Na via que liga a Epia à W3 Norte, na área da 2; Delegacia de Polícia, houve redução de 70km/h para 60km/h. No local, equipamentos foram instalados para multar os motoristas que ultrapassarem a velocidade estabelecida.

LAGO NORTE
Novembro de 2017
Diminuição da velocidade na Estrada Parque Península Norte, principal via de acesso ao Lago Norte, de 70km/h para 60 km/h. Ainda não há informações sobre mudanças no número de acidentes.

TAGUATINGA
Junho de 2016
Redução das velocidades das avenidas Comercial e Samdu, de 60 km/h para 50 km/h. Em 2016, ocorreram três acidentes fatais na Comercial Norte e, em 2017, nenhum. Na Samdu, não houve registro de acidente fatal em 2016 e foi registrado acidente com morte em 2017.

ÁGUAS CLARAS
Março de 2016
Alteração das velocidades das avenidas Araucárias e Castanheiras, de 60 km/h para 50km/h. Na avenida Araucárias, antes da redução, em 2016, houve um acidente fatal. Em 2017, não aconteceram acidentes com mortes. Já na Castanheiras não houve acidentes fatais em 2016 nem em 2017.