Isa Stacciarini
postado em 05/02/2018 06:00
Três fatores em conjunto podem ter causado o desabamento do piso sobre a garagem do Bloco C da 210 Norte: a impermeabilização da chuva de forma inadequada, o peso da laje encharcada e as ferragens de sustentação enferrujadas. Esse é o resultado da análise da Defesa Civil, que interditou ontem o subsolo e notificou o condomínio. Apesar de afastado o risco de danos estruturais, muitos moradores deixaram o prédio ; o edifício tem cerca de 40 anos. A partir de hoje, o engenheiro que ficará à frente dos futuros reparos apresentará um laudo com as ações a serem realizadas. É ele quem apontará o balanço de danos e as responsabilidades sobre o desmoronamento, além de identificar a construtora responsável. O Correio apurou que o empreendimento foi erguido com recursos da extinta Construtora Shis, consórcio formado pela Novacap e Terracap.
O colapso da estrutura aconteceu às 5h59, de acordo com as imagens registradas pelo circuito interno do bloco. Em menos de um minuto, um rastro de destruição deixou 23 carros soterrados. Entre os veículos, Audi, Mercedes, EcoSport, Jeep e um Jaguar avaliado em R$ 300 mil. Ninguém ficou ferido. Em frente ao prédio, o jardim desmoronado indicava o tamanho do prejuízo. Com a água da chuva, a laje cedeu. Como efeito dominó, parte do piso desmoronou e afetou a garagem. Com o impacto, a rede de esgoto rompeu. No subsolo, o cheiro de gasolina se misturava com o odor forte da canalização. A energia e o abastecimento de água também foram interrompidos. Um pesadelo para moradores que tiveram a rotina de domingo afetada.
Com o forte estrondo causado pelo desabamento, muitas famílias desceram para o pilotis. Procuravam informações e tentavam entender o que tinha acontecido logo no início da manhã. Com o impacto, a poeira levantou. Para muita gente, a impressão era de um terremoto. ;Não sabia o que estava acontecendo. Só voltei para buscar o meu filho, e descemos de escada. Ele foi para a casa da minha mãe, onde devemos ficar pelo menos por alguns dias. Por sorte, o meu carro não foi atingido, mas tenho expectativa de voltar para minha casa;, destacou a psicóloga Cristina Reis, 51 anos.
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A psicóloga Maria Sônia Soares Takano, 69, não teve a mesma sorte. Os dois veículos da família tiveram perda total, inclusive o adquirido havia três meses. Ela mora no prédio há 40 anos. ;Penso que o desgaste do tempo e a chuva forte tenham pesado para que isso acontecesse. Sou uma pessoa que tem muita fé. A primeira coisa que pensei foi: ;Graças a Deus, foram só os carros;. Se fosse dia de semana, poderia atingir alguém que estivesse saindo para trabalhar;, ressaltou. Para descartar qualquer hipótese de vítimas, três cães farejadores do Corpo de Bombeiros estiveram na garagem. Além disso, militares e técnicos da Defesa Civil inspecionaram o local.
Infiltração
A Defesa Civil será responsável por analisar o laudo a ser apresentado pelo engenheiro responsável pela obra no local. Na visão do subsecretário do órgão, coronel Sérgio Bezerra, o peso da água da chuva forçou a estrutura de sustentação. ;Fica o alerta para esses blocos do Plano Piloto que são muito antigos e que muito provavelmente têm a estrutura coberta de terra. Deve ocorrer uma impermeabilização adequada para evitar infiltração nas ferragens;, afirmou.
Segundo ele, os síndicos dos prédios precisam avaliar se existem trincas ou fissuras nos edifícios. ;De três a quatro horas, choveu mais de 40 milímetros. Para evitar esse tipo de coisa (desabamento), é necessário retirar toda a terra e implantar uma manta asfáltica para evitar que a água da chuva se infiltre nas ferragens;, esclareceu. ;Mas, com o estrago feito, a alternativa agora será construir outra laje, seja apoiada na edificação, seja por pilares, seja nas (lajes) em balanço;, analisou.
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[SAIBAMAIS]A síndica do edifício, Mônica Kremer Evangelista, 50 anos, registrou ocorrência na 5; Delegacia de Polícia (Área Central), mas, sem vítimas, não será necessária uma perícia técnica. O condomínio também acionará o seguro. A expectativa é de que a empresa seguradora custeie boa parte do conserto. Com 48 apartamentos e cerca de 200 moradores, o prédio nunca havia registrado problemas estruturais. ;O engenheiro responsável será um morador, que providenciará o laudo completo da reforma e da reconstrução da tubulação, que também foi rompida;, esclareceu Mônica. Esse engenheiro, identificado como Ronaldo Evangelista, é marido da síndica.
Infraestrutura
O comandante da operação pelo Corpo de Bombeiros, capitão Wilson Souza Mendes, reforçou que não houve danos estruturais no edifício. ;Fizemos a retirada dos veículos que não foram atingidos, mas ficaremos no local até sanar outros problemas. Também agimos na prevenção de diluição do combustível dos automóveis por causa do forte cheiro de gasolina;, detalhou. Apesar de descartar o desabamento do prédio, toda a garagem ficou isolada. O fornecimento de serviços básicos, como esgoto, água e energia, também precisaram ser suspensos para garantir a segurança. A luz foi religada às 16h.
Os moradores não precisaram deixar os apartamentos, mas, preocupados, alguns procuraram alternativas, como ficar na casa de parentes e amigos. Foi o caso de um idoso que depende de balão de oxigênio para respirar. Ele deixou o apartamento com a ajuda dos bombeiros e seguiu para a residência de um dos filhos.
Em nota, o GDF e a Companhia Habitacional de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codhab) esclareceram que o Bloco C da 210 Norte não pertenceu à extinta Construtora Shis, consórcio formado pela Novacap e Terracap. O Executivo local acrescentou que os órgãos administrativos e de fiscalização públicos analisam os processos relacionados ao prédio para auxiliar na apuração das causas do desabamento da laje. Técnicos de diferentes pastas, além da Defesa Civil, estiveram no local do acidente, ontem, para reunir essas informações.
O secretário de Cidades, Marcos Dantas, disse que a pasta faz o constante desentupimento de bocas de lobo, além de obras de infraestrutura a fim de diminuir os impactos da chuva. ;Vamos aguardar uma conclusão do que ocasionou o desabamento para sabermos o que pode ser feito pelo governo e como podemos ajudar;, concluiu.
Depoimento
Maria Clara de Aguiar Ladeira, 37 anos, moradora do prédio" />
;Um barulho de explosão;
;Depois que tudo passou, chorei de alívio. Poderia ter sido eu, que saio para trabalhar, todos os dias, às 7h. O barulho era de uma explosão tão forte que eu pensei que o prédio da frente estivesse caindo. Quando cheguei à janela e não vi nada, achei que fosse o andaime da obra do nosso bloco, porque o prédio está em reforma. Mas nunca pensei que fosse nada assim. Estava amanhecendo, quando ouvi um barulho de explosão e, depois, tudo caindo. O carro da minha mãe, um SpaceFox, ficou destruído. Vamos acionar o seguro depois que tudo se acalmar para decidir o que pode ser feito, mas a maior gratidão é saber que não tinha ninguém lá na hora. O meu grande agradecimento é por não ter ocorrido nada pior;
Maria Clara de Aguiar Ladeira, 37 anos, moradora do prédio
*Colaborou Augusto Fernandes (Especial para o Correio)
*Colaborou Augusto Fernandes (Especial para o Correio)