Liana Sabo
A repórter Liana Sabo está completando 50 anos de Correio Braziliense. Não é uma marca burocrática; ela viveu cada instante com intensidade, paixão, dramaticidade e senso de humor. É uma história que se mistura com a história da cidade. Ela tem o instinto de repórter e guarda, quase sempre, uma crônica saborosa e, algumas vezes, impublicável, sobre os principais personagens de Brasília.
Passou por quase todas as editorias do jornal, só não cobriu polícia e esportes. Era das raras mulheres na redação. Chegou a Brasília em 1968, na turbulência dos governos militares, para fazer um curso de artes na UnB. A universidade foi invadida, o curso desaconteceu e o professor desapareceu. Liana entrou no Correio como estagiária em março de 1968. Logo foi contratada e credenciada para cobrir o Palácio do Planalto, pois, com o regime militar, todos os jornalistas mais velhos tiveram as credenciais cassadas.
Tinha um Fusquinha, todos os dias passava na parada em frente aos tribunais, enchia o carro de caronas e deixava na Rodoviária. Antes de fazer 20 anos, Brasília era uma cidade extremamente acolhedora e solidária. Morava na 209 Sul, em noite de lua cheia, brincava de pés descalços no Eixão, era raro passar algum carro.
Nos anos 1970, durante uma viagem ao Japão, Liana perguntou ao então presidente Geisel se não estava na hora dos exilados retornarem ao Brasil. Foi a primeira vez que Geisel usou a palavra anistia. Liana é imbuída da importância da profissão de repórter.
Ao cobrir um evento com as presenças dos presidentes Garrastazu Médici, do Brasil, e Juan Maria Bordaberry, do Uruguai, na fronteira dos dois países, um soldado uruguaio barrou Liana. Indignada, ela disse que estava trabalhando da mesma maneira que o soldado, baixou o fuzil e passou faceira. Certa vez, ao fazer matéria sobre um concurso de misses, o coordenador do evento perguntou que clube ela representava. Que clube? Eu sou de jornal, esbravejou Liana.
Inaugurou o sistema a cores do jornal, com um suplemento feminino. Sempre se considerou uma pessoa de sorte e uma jornalista pautada pelo anjo da guarda. Desde 1998, assina a coluna de gastronomia Favas Contadas. Para Liana, nada se compara a uma redação de jornal, é o melhor lugar do mundo para trabalhar e para se divertir e rir muito. Faz bem à saúde.
A essa altura, o leitor deve estar perguntando: e, afinal, o que Liana Sabo tem a ver com carnaval? Eu respondo: tudo. É que o bloco Pauta na rua, do Correio, sai hoje, às 16h, para homenagear a nossa querida Liana. O inspirado samba-enredo foi composto por José Carlos Vieira, nosso editor, em parceria com Tiago Mocotó: ;Vamos cantar, vamos contar/50 anos de uma vida/Liana Sabo, a repórter mais querida/A sua história se mistura/Com a história de Brasília/Liana Sabo é a nossa preferida;.
Breque para tocar no essencial: ;Chega de fake news/De mi-mi-mi, de blá-blá-blá/Pauta na rua pra dizer /O que é que há/favas contadas/Gastronomia na cidade/A colunista mais charmosa/nos trás sempre novidade/Meu amor, quem sabe, sabe/Quem não sabe, bate palma/Liana Sabo vem lavar a nossa alma.;