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Busca por sexo fácil no Parque da Cidade acontece a qualquer hora do dia

A busca por sexo deixa expostos os frequentadores da Floresta dos Sussurros. Em um dos flagrantes feitos pela Polícia Militar no local, um dos acusados de ato obsceno tinha o vírus HIV. No ano passado, houve um assassinato

Pedro Grigori - Especial para o Correio, Walder Galvão*
postado em 27/01/2018 06:50
Preservativos e lubrificantes comprovam a prática de sexo na Floresta dos Sussurros: perigo para a saúde

As especulações sobre o que ocorre nos estacionamentos 1 e 2 do Parque da Cidade fazem parte das histórias da capital federal. Nem todos sabem ao certo o que acontece, mas escutaram algo sobre o lugar. Suposições dizem que se trata de um ponto de encontro que casais usam como motel, porém, existem aqueles que acreditam se tratar de palco para rituais religiosos. Os rumores aumentaram após a morte de um homem no ano passado. Os órgãos de segurança e de saúde, além da administração do Parque, sabem da atividade sexual, mas a Floresta dos Sussurros nunca parou de receber visitantes, apesar de crimes recorrentes na região, alguns graves, como homicídios.

O Correio se deparou com diversas rondas da cavalaria da Polícia Militar ao longo de três semanas de reportagem. Equipes motorizadas também circulam pelo parque. Algumas ficam na entrada da área de lazer, pelo Eixo Monumental, e outras cumprem o patrulhamento ostensivo. Quando a polícia chega, os frequentadores da Floresta dos Sussurros se dispersam. Dessa forma, ninguém é abordado. Mas embalagens de preservativos e lubrificantes comprovam o que ocorre por ali.

Em dezembro de 2017, o funcionário de uma empresa aérea Ricardo Pio Rodrigues, 42 anos, foi encontrado morto naquela região. Ele levou um tiro no peito. A suspeita é de que um colega de trabalho tenha cometido o crime por ciúmes. Pelo menos mais um homicídio aconteceu no lugar na última década. Em 2008, um jovem de 23 anos foi assassinado após entrar em um carro no Estacionamento 1. Mesmo com as mortes, o movimento não diminuiu.

Em nota, a Polícia Militar informou que a vigilância no parque é feito por carros, motocicletas e por um posto comunitário de segurança, na entrada do Parque Ana Lídia. Em dias e horários de maior incidência criminal, há reforço no patrulhamento. Segundo a corporação, pessoas são frequentemente abordadas nos estacionamentos públicos e, não havendo indícios de qualquer delito, acabam liberadas.

Em janeiro do ano passado, PMs prenderam dois homens que mantinham relações sexuais no Estacionamento 1. Eles foram autuados por ato obsceno. Durante a abordagem, identificou-se que um deles tinha o vírus HIV e não havia informado ao parceiro, com quem fez sexo sem preservativo. Com isso, ele também foi autuado por perigo de contágio venéreo, crime previsto nos artigos 130 e 131 do Código Penal, com pena prevista de 3 meses e 1 ano de detenção. A vítima foi encaminhada a uma unidade de saúde para ser medicada (leia Para saber mais).


Em 2011, ficou proibido entrar no Parque da Cidade entre as 22h e as 6h30 como uma tentativa de impedir o sexo no local. A norma segue vigente, mas, segundo a Administração do Parque, não teve eficácia, pois arrombavam os cadeados ou pulavam as cancelas. Sobre a atividade sexual, o órgão informou que, por se tratar de um crime, a fiscalização deve ser feita pelas forças de segurança. Por meio da assessoria de comunicação, a administração ressaltou que os vigilantes da área de lazer trabalham apenas para preservar o patrimônio.

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Trabalho moral

Em 2009, a ONG Amigos da Vida fez o primeiro e único mapeamento sobre a prática sexual no Parque da Cidade. O levantamento identificou que a faixa etária dos frequentadores é de 20 a 45 anos, e a população alvo são homens de classe média e alta. Também se descobriu que 60% são casados com mulheres. Entre os homens abordados pela reportagem, notou-se que o perfil não se alterou quase 10 anos depois.

Nos últimos dias, Paulo (nome fictício), 59 anos, circulou pelo Estacionamento 2 no meio da tarde. Com a janela aberta e o braço para fora do veículo, ele não fazia questão de esconder a aliança. Depois de abordar três motoristas, ele iniciou o diálogo com a pergunta tradicional do lugar: ;Curte o quê?;. O homem branco, de cabelos grisalhos, camiseta polo rosa e calça jeans não vê problemas em falar sobre a vida pessoal. ;A minha mulher está em casa. Precisava resolver um problema no Plano Piloto e resolvi passar aqui. Gosto de ficar com garotos jovens;, comenta. Paulo só segue uma regra: não recebe ninguém dentro do próprio carro. ;Mulher é danada. Se sentir um cheiro diferente, eu danço.;

Segundo o professor de psicanálise da Universidade Federal de Minas Gerais Fábio Belo, que estuda as relações homossexuais em locais públicos, diversos fatores podem levar uma pessoa a frequentar espaços como a Floresta dos Sussurros. ;Vivemos um tempo de retração do amar e de diminuição dos vínculos afetivos. Devido, principalmente, à falta de tempo, é mais fácil ir a um local como esse e fazer sexo com um estranho do que dar todo tempo e trabalho moral que um relacionamento precisa;, analisa.

[SAIBAMAIS]Sobre os frequentadores, o especialista afirma que é importante resguardar as singularidades, pois também são diversos os tipos de homens no local. ;A homossexualidade ainda é vista como um tabu; por isso, muitos têm uma vida heterossexual fora do parque, porque ser gay, para eles, é algo proibido e vergonhoso;, conta. Segundo Fábio, outros não querem abrir mão das regalias de uma vida de casado. ;Ele não quer deixar a família e a boa aceitação moral. Então, prefere ter aquela atitude marginalizada, na qual ele vai quando quer, mas, depois, pode voltar para a sua vida normal;, explica.

Os encontros sexuais na Floresta dos Sussurros viraram tema do Trabalho de Conclusão de Curso do sociólogo Diego Pontes, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele visitou diversas vezes os estacionamentos do Parque da Cidade em 2012. Concluiu que não há precisão em categorizar os frequentadores do parque. ;Parece-me que, nesses estacionamentos, as relações sexuais entre homens não são apenas pontuais, como também, em algum grau, secretas;, avalia.

* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart


Punição

Praticar atividade sexual em local público é crime enquadrado pelo código 233 do Código Penal, tendo como punição detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.

"A minha mulher está em casa. Precisava resolver um problema no Plano Piloto e resolvi passar aqui. Gosto de ficar com garotos jovens;
Paulo (nome fictício), 59 anos

Para saber mais


Precaução e exames

Há dois tipos de exame que detectam doenças sexualmente transmissíveis: por coleta de sangue, na qual o resultado sai em até 15 dias; e pelo teste rápido, que funciona para Aids, sífilis e hepatites virais, quando é recolhida apenas uma gota de sangue, e o resultado sai em 30 minutos.

Devido à janela imunológica, o organismo pode demorar cerca de 30 dias para reagir ao vírus, o que faz com que ele não seja detectado em exames. Mas, quando a equipe médica avalia risco de contaminação, o paciente é orientado a utilizar a medicação Profilaxia Pós-Exposição (PEP) por 28 dias, que reduz em 98% as chances de contágio.

Segundo a Secretaria de Saúde, todas as unidades básicas de saúde do DF têm condições de realizar exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis. Além delas, o Centro de Testagem e Acolhimento, localizado no mezanino da Rodoviária do Plano Piloto, realiza testes rápidos de HIV, sífilis e hepatite B e C.

O movimento na região nunca para, apesar da presença da Polícia Militar e do trânsito no Parque da Cidade

Carros de luxo

Em uma das noites em que a reportagem esteve na Floresta dos Sussurros, um homem de cerca de 50 anos passou de bicicleta próximo a um grupo de quatro pessoas que praticavam sexo embaixo de uma árvore. Vestia um short curto e pedalava devagar, em busca de olhares. Cinco minutos depois, aproximou-se novamente, daquela vez, usando apenas uma calcinha rosa. Conseguiu risadas, mas não se envergonhou, retornando nu ao local.

Devido à quantidade de homens, muitas vezes, é preciso chamar a atenção. Os mais visados são sarados ou dirigem carros luxuosos. É o caso de um morador da Asa Norte que vestia short de nylon e camiseta regata. ;Fui casado com uma mulher por muitos anos e, nessa época, conheci esse lugar no Parque da Cidade. Aqui, eu descobri o que gostava. Então, pedi o divórcio para deixá-la livre também;, revela. ;Não gosto de transar em bandos, porque acho que é mais fácil pegar algo.;

Camisinha

O infectologista do Hospital Santa Lúcia Wesciley Júnior alerta que a transmissão de doenças sexuais pode acontecer mesmo sem penetração. ;A contaminação ocorre quando há fluido e mucosa. Na relação oral, realmente, há uma dificuldade maior de contágio, pois a saliva tem um fator protetor, mas, se houver algum machucado na boca, haverá contaminação;, detalha. Além disso, o médico lembra que, no sexo oral, há riscos de sífilis e HPV. ;Ao assumir essa prática, é necessário fazer sempre o uso da camisinha, realizar exames periódicos e manter a vacinação para hepatite B em dia;, conclui.

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