Quanto vale uma vaga na rede pública de ensino? Na Escola Classe Vila Buritis, no Recanto das Emas, os preços variam de R$ 100 a R$ 600. A cobrança é por posições na fila para espaços remanescentes, preenchidos por ordem de chegada e de acordo com a disponibilidade. Em áudios obtidos com exclusividade pelo Correio, uma mãe negocia com três intermediários uma posição na lista organizada pelas pessoas acampadas em frente ao colégio. ;As pessoas ficam lá na fila, aí, guardam a vaga e vende para quem quer comprar, entendeu?;, explica uma das negociadoras.
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[SAIBAMAIS]Os preços variam de acordo com a colocação na fila. ;Tem uma vaga lá no (lugar) 15, o menino tá pedindo R$ 450;, negocia outro intermediário. A compra, no entanto, não garante a efetivação da matrícula. ;Só que ela disse que não sabe quantas turmas vão sair para o primeiro ano, se vai ter vaga no primeiro ano;, esclarece uma das estelionatárias. O número de vagas remanescentes em cada escola foi divulgado no fim da tarde de ontem. Elas foram abertas depois de os inscritos pelo telematrícula não compareceram para efetivá-las. A matrícula começa na terça-feira em todas as escolas da rede pública com espaços disponíveis.
Ouça alguns dos áudios:
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A mãe, que pediu para não ser identificada, conta que foi à Escola Classe Vila dos Buritis em busca de informações, na manhã de ontem, e encontrou uma fila com mais de 60 pessoas. Além disso, o portão do centro de ensino estava fechado. Lá, foi orientada a entrar em contato com quem estaria guardando as vagas para vender. ;Que opções eu tenho? Não tenho o dinheiro e, se eu for para o fim da fila, provavelmente não vou conseguir nada com tantas pessoas à minha frente. Essas pessoas estão tirando um direito de quem precisa. Muitos não têm filhos e estão na porta da escola só para ganhar dinheiro. É inadmissível;, reclamou.
O caso dela não é isolado. Outra mãe, que também busca uma vaga na mesma escola, se deparou cm a mesma situação. Ela também pediu para não ser identificada e explicou o motivo do medo. ;Nós vivemos em uma comunidade violenta. E quem faz isso não é gente de bem, né? É tudo muito absurdo. Eu só queria que o meu filho estudasse perto de casa;, afirmou.
Ocorrência
Ao Correio, o secretário de Educação, Júlio Gregório, classificou a situação como ;caso de polícia;. Surpreendido pela denúncia, Gregório afirmou que toda a demanda será atendida e que não há motivo para a formação de filas em frente às escolas. De acordo com ele, a prática ;absurda; se caracteriza como extorsão (leia Três perguntas para). As mães ouvidas pela reportagem afirmaram que registrarão ocorrência hoje e apresentarão os áudios como prova do crime.
No total, foram anunciadas, na tarde de ontem, mais de 8 mil vagas em 700 unidades do Distrito Federal. E, de acordo com a secretaria de Educação, 100% da fila de espera será atendida. No entanto, nessa segunda-feira, era possível encontrar acampamentos em diversos colégios. As mães que aguardam por vagas no Centro de Educação Infantil 1 da Estrutural chegaram a marcar, com giz, o número de cada uma na fila. Vinte e sete tentavam matrícula. Desse grupo, 10 chegaram ao local por volta das 6h. E a previsão era dormir ao relento até efetivar a matrícula hoje pela manhã.
;Só vou voltar para casa para trocar de roupa e pegar um colchonete;, contou a vendedora Miriam Montalvão, 34 anos, que tenta uma vaga para o filho de 4 anos na creche. ;Corremos risco de ser assaltadas aqui, mas vamos fazer o quê?;, questionou.
Três perguntas para Júlio Gregório, secretário de Educação
A Secretaria de Educação tem conhecimento da venda de lugares na fila para as matrículas remanescentes?
Nós fomos surpreendidos. É uma situação absurda, um caso de polícia e recomendo que as mães registrem ocorrência. Nós vamos investigar. Mas são pessoas agindo de má-fé, que estão extorquindo os pais e que precisam ser denunciadas. Há vagas para a atender toda a demanda. Não há nem mesmo a necessidade de filas. Na Escola Classe Vila Buritis, há disponibilidade para atender a todos, inclusive.
Se toda a demanda será atendida, o que leva os pais a acamparem em frente às escolas?
É uma situação que enfrentamos há algum tempo. Algumas escolas são mais procuradas, mas toda a demanda será atendida. Nós informamos aos pais que os filhos serão matriculados, mas muitos insistem em ficar e não deixam a porta das escolas. No Elefante Branco, por exemplo, há mais de 300 vagas e 60 pessoas que insistem em continuar na fila. Com a denúncia, nós vamos investigar a relação das filas com a possível venda de lugares.
O critério para a efetivação das matrículas é a ordem de chegada. Isso não incentiva a formação de filas? A secretaria estuda alternativas?
O objetivo de oferecer as vagas remanescentes nas unidades escolares por ordem de chegada é descentralizar. Se concentrássemos nas Coordenações Regionais, por exemplo, teríamos filas maiores ainda. Mas estamos estudando alternativas para que as vagas residuais sejam oferecidas pelo (número telefônico) 156. E reforçamos que toda a demanda será atendida.