O drama de Ana começou em 15 de novembro. Um sangramento a levou para a emergência. Foram 23 dias internada. O diagnóstico a deixou mais confusa. ;Nunca tinha escutado falar dessa doença. Não sabia o que era e o que poderia causar. Tive medo de não ter a oportunidade de cuidar da minha filha;, lembra. O receio vinha de uma gravidez anterior. Há dois anos, ela engravidou, teve um parto espontâneo em casa e o bebê morreu. ;Dessa vez, toda a família engravidou comigo. A Pérola foi muito esperada;, destaca a moradora da Cidade Ocidental (GO).
Adriana também sonhava com o segundo filho. A primogênita Giovana, 8 anos, só pensava em ter um irmão. ;Estava tentando engravidar havia quatro anos;, ressalta. Descobriu que estava grávida 20 dias antes de completar 40 anos. Na casa dela, no Sudoeste, era só felicidade. A família se dedicava à decoração do quarto e aos preparativos do enxoval. ;Até a 30; semana, não tive intercorrência nenhuma. Foi quando tive um sangramento;, conta. Outra vez o diagnóstico era de uma doença desconhecida.
Cuidados especiais
Para levarem a gravidez adiante, Ana e Adriana tiveram cuidados especiais. Além do repouso absoluto, se submeteram a uma bateria de exames diários e a uma cirurgia delicada que leva em média duas horas. Ana ficou internada até o dia do parto. Adriana chegou a voltar para casa, mas um segundo sangramento a fez voltar ao hospital. ;Passava por muitos exames. Todos os dias fazia ecografias, exames de sangue. Os médicos escutavam o coração da Pérola quatro vezes por dia;, detalha Ana.
Pérola e Leonardo nasceram no Hospital Santa Luzia, na Asa Sul. No dia do parto, uma equipe de cirurgia vascular iniciou o procedimento para que o útero e outras estruturas acometidas pela invasão da placenta não fossem prejudicadas. Depois, os obstetras realizaram a cesárea. Pérola nasceu em 1; de dezembro, ficou internada e só foi para casa 19 dias depois. Leonardo veio ao mundo em 27 de novembro, e, após o período de observação, deixou o hospital.
Passado mais de um mês, a rotina das mães é pautada pelos cuidados dos bebês. As entrevistas ao Correio tiveram que ceder tempo para amamentação, choros e cochilos. Adriana e Ana comemoram cada momento. Apesar de as casas dos pequenos brasilienses estarem separadas por 43km, a dinâmica é a mesma: muitas visitas, presentes e sorrisos. ;Tem sido maravilhoso ter o sonho de ser mãe realizado. Espero da vida viver intensamente para poder criar minha filha;, destaca Ana.
Diagnóstico precoce
Os casos de Ana e Adriana foram acompanhados pelo ginecologista e obstetra Guaraci Beleza, coordenador da Obstetrícia do Hospital Santa Luzia, especializado em gravidez de risco. Ele explica que o essencial para os bebês terem nascido com segurança foi o diagnóstico precoce. ;Quando se sabe que a placenta está invadindo o útero cedo, é possível organizar a cirurgia e preparar a mãe. O acretismo é fatal por desencadear um sangramento de difícil controle;, conclui.
Apesar de ser uma patologia rara, que ocorre em cerca de 0,2% das gestações, quando se somam dois fatores de risco ; cesarianas anteriores e placenta prévia (quando a placenta se implanta na parte mais baixa do útero) ; esta probabilidade sobe para 40%, segundo a literatura médica. ;A cirurgia é feita por uma equipe multidisciplinar. São três obstetras e dois hemodinamicistas;, detalha.
Para saber mais
Doença rara
O acretismo placentário é uma infiltração na placenta que dificulta sua retirada após o nascimento e aumenta o risco de hemorragias. Mulheres que realizaram cesáreas em gestações anteriores têm mais chances de ter o mal. Os casos são tratados por equipes multidisciplinares de obstetrícia e cirurgia vascular. O diagnóstico é feito em conjunto entre o radiologista e o obstetra, por meio de ultrassonografias seriadas e ressonância magnética para avaliar o grau de invasão da placenta e órgãos acometidos.
0,2%
Incidência do acretismo placentário nas gestações