Cidades

Projeto em feiras do DF resgata tradição nordestina do repente

Projeto cultural levado a feiras de Ceilândia e Samambaia resgata tradição nordestina e recebe apoio de feirantes e clientes

Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 27/12/2017 07:10
Repentistas João Santana e Chico de Assis (E)  divertem e alegram tanto o pernambucano Edivaldo Delfino (C) quanto a ceilandense Ana Carolina Souza Silva, com o filho Jorge no colo

As notas musicais tocadas nas violas de Chico de Assis e João Santana ecoam pelos corredores cheios da Feira do Guarapari, em Ceilândia Sul. O improviso dos versos entoados durante as apresentações diverte e alegra feirantes e clientes. Muitos dos que passam pelo pequeno palco param por alguns minutos para apreciar o show gratuito, promovido por meio do projeto cultural Repente na Feira.

A ideia de montar as apresentações foi do repentista Chico de Assis, 55 anos, que contou com incentivo do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do DF. Natural do Rio Grande do Norte e repentista há 35 anos, Chico invariavelmente conta com a parceria de João nos shows, mas também convida outros artistas, como Donzílio Luiz de Oliveira e Valdenor de Almeida, para integrarem o espetáculo.

[SAIBAMAIS]Satisfeito com a aceitação do público, o idealizador do projeto diz que esta é a quarta edição e informa que os shows também ocorreram nas feiras do Setor O e da Guariroba, na mesma cidade, além dos mercados das quadras 210 e 510 de Samambaia.



O repentista explica que, diferentemente do que acontece nas feiras da Região Nordeste, o público do Distrito Federal ;não está habituado com esse tipo de apresentação. A gente tenta conquistar quem não tem o hábito de escutar o repente;, explica. Entre uma compra e outra, os frequentadores do local paravam em frente ao pequeno palco para apreciar os cantadores.

Entre eles, o educador físico João Henrique Souza, 28, gostou da novidade. ;Achei a música muito legal e expressiva, além de trazer cultura para todos, valoriza as raízes dos moradores nordestinos;, disse e acrescentou ser favorável a eventos semelhantes. ;Tudo o que a população quer é uma boa diversão próxima às suas casas, para espairecer a cabeça;.

Mesmo sem conhecer a tradição nordestina, a feirante Nanci José de Almeida Lima, 64, diz que o som mudou o dia do local e opina que ;se tivesse show todo fim de semana, a feira atrairia mais pessoas. O show é bom e dá para ver que muita gente gosta do estilo;, reconhece.

Entre os versos improvisados, eram cantados elogios à feira, aos que trabalham ali e aos frequentadores. ;É na coisa mais simples que a gente encontra o melhor. Ser natural pra renovar os perfis, quando a gente liga menos pro que o povo diz, é natural que a gente seja muito mais feliz;, cantarolaram, acompanhados pelas violas.

Frequentador assíduo de feiras, o aposentado Edivaldo Delfino, 74, disse que veio de Pernambuco para a capital federal em 1971. ;Quando ouvi a música, tive que parar para assistir. A apresentação traz mais um pouco da cultura nordestina para cá;, defende.

Satisfeito com a receptividade do público, o violeiro João Santana comentou que o projeto oferece oportunidade de acesso à cultura, tanto a quem não tem tempo quanto a quem não pode pagar por shows. ;A gente encontra pessoas que se identificam com o estilo, que sentem saudades de sua raízes;, salientou.

Esse foi o sentimento do cearense Raimundo Romano dos Santos, 67. ;La no meu Ceará, tem cantador demais, ao ouvir me traz uma nostalgia. É o tipo de música que eu escuto em casa, então eu acho bom demais;, assegura o aposentado.

Para a professora Ana Carolina Souza Silva, 27, a cultura nordestina deve ser incentivada. Com o filho Jorge, 1 ano, no colo ela achou a apresentação fantástica. ;Estamos falando de Ceilândia, uma cidade construída por muitos nordestinos. O repente aproxima os moradores e interage com o ambiente de outra forma;, opinou. ;Deveriam ter mais ações como essas e também expandir, trazendo o teatro, o mamulengo e outras manifestações culturais. Os trabalhadores estão aqui (na feira) para trabalhar e não têm muito tempo pra consumir cultura;, concluiu.

;Eu amo o ambiente da feira e lidar com as pessoas, também. A música traz um diferencial para o dia a dia do lugar, animando e deixando tudo divertido. Para mim, poderia ter show todas as semanas;, pediu a feirante Dalva Maria de Araújo, 74.

Versos improvisados

Estilo musical característico da Região Nordeste, é a interpretação de canto e poesia por dois cantadores, os repentistas. Eles improvisam versos de repente, por isso o nome, sobre variados assuntos e costumam se apresentar, com a viola nordestina ou pandeiro, pelas feiras e espaços populares.

Serviço
Projeto Repente na Feira
Dia: 07/01/18 ; domingo
Horário: 9h
Onde: Feira Permanente da
Quadra 202 ; Samambaia Norte
Entrada Franca
Livre para todas as idades
Duração: 60 minutos

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação