Walder Galvão*
postado em 26/12/2017 06:00
Acelera, freia, pisa na embreagem e engata a marcha. No início da manhã ou no fim da tarde, dirigir no Distrito Federal exige paciência do condutor. Aos 1.712.481 veículos registados aqui se juntam outros milhares de carros, motos, ônibus e caminhões vindos de cidades goianas e mineiras que rodeiam o DF. Há cinco anos, eram pouco mais de 1,4 milhão de automóveis circulando pelas vias da capital federal, um aumento de mais de 20%. O resultado é previsível: a cada ano aumentam os pontos de congestionamento. Mesmo quando não há registro de acidentes, o fluxo intenso de veículos deixa o trânsito parado e aumenta o tempo de deslocamento de quem usa o transporte público ou o individual. Nos caminhos que levam ao centro do poder, os piores trechos estão na EPTG, ao longo da Estrutural, na entrada do Eixão Norte, entre outros (veja quadro).
O sistema de monitoramento do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) revela que cerca de 200 milhões de veículos trafegam pela capital por mês. Por ser um polo de educação, saúde e mão de obra, grande parte da população das regiões administrativas e das cidades do Entorno precisa se deslocar até a área central de Brasília diariamente. Se o percurso é feito inevitavelmente no horário de pico, o estresse é constante.
Moradora de Vicente Pires, a psicóloga Carla Guimarães, 26 anos, passa pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG) diariamente. Ela conta que fica mais de 40 minutos no engarrafamento, tanto para sair de casa quanto para voltar. ;Quando não está engarrafado, levo pouco mais de 15 minutos. O pior de tudo é que a gente acaba se acostumando com essa situação. Brasília não deveria ser assim;, lamenta. Mesmo fora dos horários mais movimentados, a psicóloga reclama do fluxo intenso de veículos. ;Fim de sábado, e até mesmo no domingo, a gente pega o trânsito travado aqui. Se acontecer acidente, então, pode esquecer;, relata.
Neste cenário, a simples queda de uma árvore sobre a via pode causar um nó no trânsito. Foi o que aconteceu há oito dias. Uma árvore caiu sobre dois postes de iluminação pública e interditou um trecho da EPTG, na altura do Viaduto Israel Pinheiro, sentido Plano Piloto. O congestionamento começou no início da manhã e o tráfego só foi normalizado no fim da tarde. Moradores de Taguatinga e de Águas Claras ficaram presos na enorme fila de carros.
Atraso
O motorista Luciano Bragança Soares, 37, mora em Santa Maria e, todos os dias, sai de casa às 4h40 para chegar ao trabalho, no Setor de Oficinas Sul, às 7h. O caminho passa pela BR-040. ;Eu pego muito trânsito na saída de Santa Maria, no Catetinho e na altura da Floricultura. É sempre um engarrafamento intenso. Frequentemente eu me atraso, principalmente na hora de entrada no serviço, mas, geralmente, o meu chefe compreende;, conta. Como Luciano trabalha com baterias de carro, nem sempre consegue ser pontual em suas entregas, em decorrência do alto fluxo de veículos. ;Os piores horários são às 7h e às 11h, em decorrência do horário de almoço. Com isso, a gente acaba atrasando as entregas. Os clientes questionam muito, mas, como conhecem o trânsito de Brasília, acabam entendendo;, acrescentou.
Falta de comunicação
O desenho da malha viária, com poucas ligações entre elas, e a característica de Brasília como polo de atração de mão de obra, saúde e educação, contribuem para o fluxo intenso. Mas a especialista em transporte e professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB) Michele Andrade explica que parte desses problemas ocorre porque a comunicação entre os órgãos de trânsito e a população não é eficiente.
De acordo com ela, o baixo número de agentes e a grande demanda de serviço também estão entre os fatores que dificultam a gestão eficaz do tráfego. ;Esse é um aspecto deficiente no Brasil como um todo. Há equipamentos e possibilidade de comunicação em tempo real. Porém, o que a gente percebe é que eles não têm efetivo suficiente e talvez não estejam tão preparados como deveriam para usar a tecnologia a seu favor;, afirma.
A estudiosa defende ainda que deveria haver uma central para a gestão de tráfego. Assim, quando uma colisão ou um incidente qualquer bloquear o trânsito em determinada região, os gestores têm condição de deslocar agentes para orientar os condutores sobre alternativas ou previsão de liberação da pista. ;Muitas vezes, os órgãos estão apagando incêndio e não conseguem se planejar para prevenir que ele aconteça;, observa Michele.
Além de melhorar a gestão de informações e incrementar o número de agentes de trânsito, a especialista destaca que o investimento em transporte público é a solução para reduzir os gargalos. Se por um lado a distribuição da malha contribui para os congestionamentos, de outro, ela também é propícia para a circulação de ônibus e a ampliação das linhas de metrô. ;Temos grandes áreas e poucas vias de acesso. No entanto, por ser plana, nossa geografia é propícia para instalação da rede metroviária e para implementação de corredores de ônibus. Isso criaria confiança no transporte público e diminuiria o fluxo de automóveis;, conclui.
Novas tecnologias
O diretor-geral do Detran, Silvain Fonseca, aponta como empecílio para a melhoria desse quadro o baixo contingente de agentes ; cerca de 500 atualmente. ;A cidade cresceu e o número de agentes, não;, observa. Apesar disso, considera que tem havido avanços na gestão do trânsito. Os drones, o helicóptero, o monitoramento das vias por meio de câmeras e o GPS com comunicação são ferramentas usadas para amenizar o impacto dos congestionamentos. ;Por meio do simulador de tráfego, conseguimos solucionar o gargalo do Eixo Monumental. Também melhoramos alguns cruzamentos, como o da Epig e o do Parque da Cidade;, cita.
Ele rebate as críticas de que falta integração entre os órgãos. Explica que, por meio da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), tanto o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) quanto a Polícia Militar do DF e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conseguem trabalhar de forma integrada. ;O próximo passo do Detran é investir em tecnologia para realizarmos mais melhoras.;
Por meio da assessoria de imprensa, o DER informou que, em 2017, realizou obras de pavimentação de rodovias, restauração de pavimentos, construiu viadutos e atuou no monitoramento e na fiscalização do trânsito. Além disso, ressaltou que há integração entre os órgãos responsáveis pelo trânsito no DF e que os dispositivos, como câmeras, caminhões e guinchos são utilizados de forma efetiva para melhorar o tráfego no Distrito Federal.
Colaborou Sarah Peres, especial para o Correio
* Estagiário sob supervisão de Adriana Bernardes
1,7
milhão
Número de veículos registrados no DF