Cidades

Ceilândia recebe artistas e grupos tradicionais para a Folia de Reis

Destaque da festa, que começa nesta sexta-feira (15/12) e vai até domingo, é o ator e cantador mineiro Jackson Antunes

Irlam Rocha Lima
postado em 15/12/2017 06:00 / atualizado em 19/10/2020 13:14
A 17ª Folia de Reis é um evento que reúne 15 grupos de Folia de Reis e, aproximadamente, 500 foliões,  durante os três dias

Manifestação cultural religiosa festiva, a Folia de Reis é uma tradição praticada por seguidores do catolicismo. Também conhecida como Reisado, remete à atitude dos três Reis Magos que, de acordo com a Bíblia, partiram à procura da manjedoura que guardava o Menino Jesus, para prestar-lhe homenagem e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra.
 
 
Tradição originária da Espanha, a Folia de Reis ganhou força no século 19 e mantém-se viva em várias regiões do país, notadamente nas pequenas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Goiás. Na região que viria a ser ocupada pelo Distrito Federal, esse festejo ocorria, há muito tempo, em Planaltina. Mas tarde, depois do surgimento da nova capital, se espalhou por outras localidades.

Em 2001, foi criado o Encontro de Folia de Reis do DF. Realizado inicialmente numa fazenda modelo instalada na Granja do Torto, onde se manteve até 2010. Em seguida o evento tornou-se itinerante, tendo passado por Planaltina, Ceilândia, São Sebastião, Brazlândia e Gama. “Neste ano, retorna a Ceilândia, em função da nossa parceria com a Casa do Cantador”, justifica Volmi Batista, do Clube do Violeiro Caipira, instituição que idealizou e realiza a folia.

“Ao longo das 16 edições — em 2010 houve duas, sendo uma delas para comemorar 10 anos — o público teve oportunidade de conhecer foliões e artistas de diversas regiões do país, produtos artísticos e de cultura popular como CDs, livros, filmes, e assistir a shows, cantorias, danças e exposições”, lembra Volmi, coordenador geral da Folia de Reis do Distrito Federal.

Programação semelhante vai ser desenvolvida de hoje a domingo na 17ª edição. A produção, que se responsabiliza pelo alojamento e alimentação, anuncia a presença de 15 grupos de Folia de Reis e, aproximadamente, 500 foliões, durante os três dias. Os shows, sempre muito aguardados, têm como atrações as duplas caipiras Zé Mulato & Cassiano (DF), Divino & Donizete (SP) e o cantador e ator mineiro Jackson Antunes. Chama a atenção, ainda, a participação de dois grupos de folionas mineiras, vindos de Patos de Minas e Coromandel.

“Temos participado de todas as edições do Encontro de Folia de Reis que foi criado no DF. Para nós é uma forma de valorizar e divulgar a cultura viva que é produzida na Brasil. Até porque, em toda manifestação cultural genuinamente brasileira a viola sempre é ouvida”, destaca Zé Mulato, que ao lado do irmão e parceiro Cassiano, da premiada dupla, se apresenta hoje, às 23h. “Aproveito esses encontro para apreciar as cantorias e danças populares, como catira. Faço questão também de ouvir os violeiros da nova geração, que são de boa qualidade”, elogia.

O encontro, como enfatiza Zé Mulato, é uma ocasião para troca de experiências e reflexões sobre o presente e o futuro dessa manifestação, que ocorrem em rodas de prosa. Outro destaque é o giro das folias, visita às casas de moradores de Ceilândia e a missa sertaneja celebrada pelo padre Adão Soares, que é também berranteiro, catireiro e folião.

Programação

Sexta-feira (15/12)
» Presépio, 18h — Terço Rezado — Chegada dos três Reis Magos
» Refeitório 19h — Jantar dos foliões Bendito de mesa (Canto de agradecimento)
» Palco 20h — Encontro das bandeiras e apresentação das folias de reis e danças populares
» 22h30 — Abertura oficial
» 23h — Shows com Zé Mulato & Cassiano e Divino & Donizete 

Sábado (16/12)
» Refeitório, 8h — Café da manhã dos foliões
» Palco, 9h — Roda de prosa e assembleia da Associação dos foliões de reis do DF e Entorno (Aforeis)
» Palco e Refeitório, 12h — Almoço e shows com foliões e violeiros.
» Espaço Interatividades, das 14 às 18h — Oficina com Onicio Rosa sobre ritmos Caipiras e Técnicas de Viola
» Giro das folias, 14h — Visita das folias às casas dos moradores da Ceilândia (Inscrições até hoje) Informações: 3301-5888
» Refeitório, 18h — Jantar dos foliões e Bendito de Mesa — (Canto de agradecimento)
» Palco, 19h — Apresentação das folias de reis e danças populares
» 22h — Shows de Jacarandá & Brauna, Dyego & Gustavo e Jackson Antunes

Domingo (17/12)
» Refeitório, 8h — Café da manhã dos foliões
» Palco, 09h — Missa Sertaneja com padre Adão Soares e Pastoral dos Foliões de Formosa/GO
» Chegada dos cavaleiros, 10h — Cavalgada da Sagrada Família
» Palco, 11h — Apresentação das folias de reis e danças populares
» Refeitório, 12h — Almoço dos foliões e cavaleiros — (Bendito de mesa e de agradecimento)
» Palco, 13h — Shows: Robson Graiado e Macedo & Mariano


Atrações diárias
Barracas com comidas típicas e artesanato, cantorias, rezas e terços a cargo dos foliões. Exposições de instrumentos musicais, cartazes, pôsteres e outros elementos da cultura caipira e presépio.

>> Entrevista com Jackson Antunes

A 17ª Folia de Reis é um evento que reúne 15 grupos de Folia de Reis e, aproximadamente, 500 foliões,  durante os três dias 

 

Jackson, de onde vem sua paixão pela cultura popular brasileira?
Sou de uma terra onde a viola e a cantoria são ouvidas em todos os cantos. Nasci em Janaúba, perto de Montes Claros, na região Norte de Minas, e desde a infância tive o privilégio de, em casa, vivenciar essa manifestação cultural. Minha primeira referência musical foi a dupla Léo Canhoto & Robertinho.

Quando deu seus primeiros passos nessa vertente?
Aos 11 anos, descobri os versos de Patativa do Assaré e me apaixonei pelas histórias de Guimarães Rosa. Com a autorização do meu pai passei a fazer parte de uma companhia de circo, e viajei pelos interiores de Minas. Na adolescência passei a integrar o Grupo Tapuia, que fazia apresentações no teatro de Janaúba.

Chegou a fazer algum curso de teatro?
Aos 13, no Rio de Janeiro, fiz curso de ator com o Jaime Barcelos, mas aí fui para Belo Horizonte, onde vivi por algum tempo. Fazia teatro, mas, para sobreviver, trabalhei como pintor letrista. Depois de um tempo retornei para Janaúba.

Quando a televisão entrou em sua vida?
Durante as filmagens de Grande Sertão: Veredas, Walter Avancini e sua equipe ficaram hospedados em Janaúba. Lá o Luis Fernando Carvalho, que era assistente de direção, me conheceu. À época o presenteei com poemas de Patativa do Assaré. Tempos depois, em 1993, ele me convidou para fazer uma ponta em Renascer, mas o jagunço Damião caiu no gosto do público e da crítica. Ganhei um espaço maior na novela e acabei recebendo o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, como ator revelação.

Depois disso você fez muitas outras novelas e minisséries. Que personagem foi mais marcante, em sua avaliação?
Fiz personagens diversos em novelas como Anjo mau, Pecado capital, Terra nostra, Celebridade, Sinhá moça, A favorita, Sangue bom, A regra do jogo. Atualmente estou no ar em Tempo de amar, dando vida a Geraldo, dono de um empório. Mas o personagm que eu considero mais marcante foi o Regino de O Rei do Gado. Até hoje muita gente se recorda dele.

Com tanto trabalho na tevê, ainda lhe sobra tempo para o ofício de cantador?
Em tempo algum deixei a cantoria de lado. Faço meus shows e tenho participado de muitos eventos diversos ligados à cultura popular, como o encontro de violeiros e cantadores e Folia de Reis. A Brasília vou sempre a convite de Wolmi Batista, do Clube do Violeiro Caipira. Sou fã e amigo fraterno de Zé Mulato & Cassiano, de quem recebi de presente todos os discos da dupla.

O que vai mostrar nesta edição do Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal?
Ao lado do violeiro Maribondo Chapéu e do violonista e cantador Zé Veríssimo, vou fazer um show, no domingo, no qual canto músicas gravadas nos discos que lancei, outros do folclore mineiro e coisas de Tião Carreiro. É com uma alegria imensa que fecho a programação do Encontro de Folia de Reis na capital.

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