Manifestação cultural religiosa festiva, a Folia de Reis é uma tradição praticada por seguidores do catolicismo. Também conhecida como Reisado, remete à atitude dos três Reis Magos que, de acordo com a Bíblia, partiram à procura da manjedoura que guardava o Menino Jesus, para prestar-lhe homenagem e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra.
Tradição originária da Espanha, a Folia de Reis ganhou força no século 19 e mantém-se viva em várias regiões do país, notadamente nas pequenas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Goiás. Na região que viria a ser ocupada pelo Distrito Federal, esse festejo ocorria, há muito tempo, em Planaltina. Mas tarde, depois do surgimento da nova capital, se espalhou por outras localidades.
Em 2001, foi criado o Encontro de Folia de Reis do DF. Realizado inicialmente numa fazenda modelo instalada na Granja do Torto, onde se manteve até 2010. Em seguida o evento tornou-se itinerante, tendo passado por Planaltina, Ceilândia, São Sebastião, Brazlândia e Gama. “Neste ano, retorna a Ceilândia, em função da nossa parceria com a Casa do Cantador”, justifica Volmi Batista, do Clube do Violeiro Caipira, instituição que idealizou e realiza a folia.
“Ao longo das 16 edições — em 2010 houve duas, sendo uma delas para comemorar 10 anos — o público teve oportunidade de conhecer foliões e artistas de diversas regiões do país, produtos artísticos e de cultura popular como CDs, livros, filmes, e assistir a shows, cantorias, danças e exposições”, lembra Volmi, coordenador geral da Folia de Reis do Distrito Federal.
Programação semelhante vai ser desenvolvida de hoje a domingo na 17ª edição. A produção, que se responsabiliza pelo alojamento e alimentação, anuncia a presença de 15 grupos de Folia de Reis e, aproximadamente, 500 foliões, durante os três dias. Os shows, sempre muito aguardados, têm como atrações as duplas caipiras Zé Mulato & Cassiano (DF), Divino & Donizete (SP) e o cantador e ator mineiro Jackson Antunes. Chama a atenção, ainda, a participação de dois grupos de folionas mineiras, vindos de Patos de Minas e Coromandel.
“Temos participado de todas as edições do Encontro de Folia de Reis que foi criado no DF. Para nós é uma forma de valorizar e divulgar a cultura viva que é produzida na Brasil. Até porque, em toda manifestação cultural genuinamente brasileira a viola sempre é ouvida”, destaca Zé Mulato, que ao lado do irmão e parceiro Cassiano, da premiada dupla, se apresenta hoje, às 23h. “Aproveito esses encontro para apreciar as cantorias e danças populares, como catira. Faço questão também de ouvir os violeiros da nova geração, que são de boa qualidade”, elogia.
O encontro, como enfatiza Zé Mulato, é uma ocasião para troca de experiências e reflexões sobre o presente e o futuro dessa manifestação, que ocorrem em rodas de prosa. Outro destaque é o giro das folias, visita às casas de moradores de Ceilândia e a missa sertaneja celebrada pelo padre Adão Soares, que é também berranteiro, catireiro e folião.
Programação
Sexta-feira (15/12)
» Presépio, 18h — Terço Rezado — Chegada dos três Reis Magos
» Refeitório 19h — Jantar dos foliões Bendito de mesa (Canto de agradecimento)
» Palco 20h — Encontro das bandeiras e apresentação das folias de reis e danças populares
» 22h30 — Abertura oficial
» 23h — Shows com Zé Mulato & Cassiano e Divino & Donizete
Sábado (16/12)
» Refeitório, 8h — Café da manhã dos foliões
» Palco, 9h — Roda de prosa e assembleia da Associação dos foliões de reis do DF e Entorno (Aforeis)
» Palco e Refeitório, 12h — Almoço e shows com foliões e violeiros.
» Espaço Interatividades, das 14 às 18h — Oficina com Onicio Rosa sobre ritmos Caipiras e Técnicas de Viola
» Giro das folias, 14h — Visita das folias às casas dos moradores da Ceilândia (Inscrições até hoje) Informações: 3301-5888
» Refeitório, 18h — Jantar dos foliões e Bendito de Mesa — (Canto de agradecimento)
» Palco, 19h — Apresentação das folias de reis e danças populares
» 22h — Shows de Jacarandá & Brauna, Dyego & Gustavo e Jackson Antunes
Domingo (17/12)
» Refeitório, 8h — Café da manhã dos foliões
» Palco, 09h — Missa Sertaneja com padre Adão Soares e Pastoral dos Foliões de Formosa/GO
» Chegada dos cavaleiros, 10h — Cavalgada da Sagrada Família
» Palco, 11h — Apresentação das folias de reis e danças populares
» Refeitório, 12h — Almoço dos foliões e cavaleiros — (Bendito de mesa e de agradecimento)
» Palco, 13h — Shows: Robson Graiado e Macedo & Mariano
Atrações diárias
Barracas com comidas típicas e artesanato, cantorias, rezas e terços a cargo dos foliões. Exposições de instrumentos musicais, cartazes, pôsteres e outros elementos da cultura caipira e presépio.
>> Entrevista com Jackson Antunes
Jackson, de onde vem sua paixão pela cultura popular brasileira?
Sou de uma terra onde a viola e a cantoria são ouvidas em todos os cantos. Nasci em Janaúba, perto de Montes Claros, na região Norte de Minas, e desde a infância tive o privilégio de, em casa, vivenciar essa manifestação cultural. Minha primeira referência musical foi a dupla Léo Canhoto & Robertinho.
Quando deu seus primeiros passos nessa vertente?
Aos 11 anos, descobri os versos de Patativa do Assaré e me apaixonei pelas histórias de Guimarães Rosa. Com a autorização do meu pai passei a fazer parte de uma companhia de circo, e viajei pelos interiores de Minas. Na adolescência passei a integrar o Grupo Tapuia, que fazia apresentações no teatro de Janaúba.
Chegou a fazer algum curso de teatro?
Aos 13, no Rio de Janeiro, fiz curso de ator com o Jaime Barcelos, mas aí fui para Belo Horizonte, onde vivi por algum tempo. Fazia teatro, mas, para sobreviver, trabalhei como pintor letrista. Depois de um tempo retornei para Janaúba.
Quando a televisão entrou em sua vida?
Durante as filmagens de Grande Sertão: Veredas, Walter Avancini e sua equipe ficaram hospedados em Janaúba. Lá o Luis Fernando Carvalho, que era assistente de direção, me conheceu. À época o presenteei com poemas de Patativa do Assaré. Tempos depois, em 1993, ele me convidou para fazer uma ponta em Renascer, mas o jagunço Damião caiu no gosto do público e da crítica. Ganhei um espaço maior na novela e acabei recebendo o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, como ator revelação.
Depois disso você fez muitas outras novelas e minisséries. Que personagem foi mais marcante, em sua avaliação?
Fiz personagens diversos em novelas como Anjo mau, Pecado capital, Terra nostra, Celebridade, Sinhá moça, A favorita, Sangue bom, A regra do jogo. Atualmente estou no ar em Tempo de amar, dando vida a Geraldo, dono de um empório. Mas o personagm que eu considero mais marcante foi o Regino de O Rei do Gado. Até hoje muita gente se recorda dele.
Com tanto trabalho na tevê, ainda lhe sobra tempo para o ofício de cantador?
Em tempo algum deixei a cantoria de lado. Faço meus shows e tenho participado de muitos eventos diversos ligados à cultura popular, como o encontro de violeiros e cantadores e Folia de Reis. A Brasília vou sempre a convite de Wolmi Batista, do Clube do Violeiro Caipira. Sou fã e amigo fraterno de Zé Mulato & Cassiano, de quem recebi de presente todos os discos da dupla.
O que vai mostrar nesta edição do Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal?
Ao lado do violeiro Maribondo Chapéu e do violonista e cantador Zé Veríssimo, vou fazer um show, no domingo, no qual canto músicas gravadas nos discos que lancei, outros do folclore mineiro e coisas de Tião Carreiro. É com uma alegria imensa que fecho a programação do Encontro de Folia de Reis na capital.