Cidades

Herdeiro do Giraffas, novato Alexandre Guerra é pré-candidato ao Buriti

Herdeiro de rede de lanchonetes e estreante em campanhas eleitorais, Alexandre Guerra é o pré-candidato escolhido pelo Partido Novo para disputar o Executivo local. O perfil jovem e empreendedor será explorado na campanha

Flávia Maia, Bruno Lima - Especial para o Correio
postado em 13/12/2017 06:00

Herdeiro da rede de lanchonetes Giraffas, Alexandre Guerra, 37 anos, deseja agora outra sucessão: a cadeira do Buriti. Sem experiência com o que chama de ;velha política;, Alexandre se encaixa em todos os requisitos exigidos do partido que pretende vir com algo novo nas próximas eleições: jovem, bem-sucedido nos negócios e com discurso liberal na ponta da língua. A aposta para chegar ao posto de governador tem um quê de imprevisibilidade. A ideia é ser ;outsider; na política, como ocorreu com João Doria (PSDB), prefeito de São Paulo. Guerra é pré-candidato do Partido Novo e teve o nome confirmado ontem na convenção da sigla.


Ao subir ao palco, Alexandre encorpou o discurso pela ;renovação total da política; em pronunciamento de 10 minutos. ;É muito profundo não usarmos dinheiro público ou fazermos coligações em troca de cargos ou tempo de tevê; mais ainda, realizarmos um processo seletivo rigoroso para a escolha dos candidatos. É nesse momento que vemos a revolução política e partidária.; E concluiu: ;É disso que precisamos: um governo mais leve, que se torne eficiente. Essa é nossa proposta para 2018.;


Em uma eleição com velhos caciques, Alexandre diz não temer os rótulos de ;playboy; ou de ;filhinho de papai;. Como filho da classe média alta de Brasília, Alexandre estudou nas mais tradicionais escolas brasilienses. Cursou direito em uma instituição privada e, depois, fez mestrado. ;Chegou a um ponto em que o meu pai disse que eu estava estudando demais;, brincou, em entrevista ao Correio. Sempre trabalhando nos negócios da família, ele está disposto a largar a rotina entre São Paulo e Brasília. Embora more com a mulher e os dois filhos pequenos no DF, passa boa parte do tempo na capital paulista, onde estão os principais fornecedores de operação do Giraffas.

[SAIBAMAIS]Alexandre conta que, graças às várias unidades do Giraffas espalhadas pelo Distrito Federal, teve a oportunidade de conhecer diferentes regiões administrativas. Entretanto, em locais mais carentes, como o Sol Nascente, em Ceilândia, uma das maiores favelas brasileiras, a primeira visita ocorreu há 15 dias, em uma creche, quando já mirava a candidatira a governador. Para se aproximar das demandas sociais, encontrou-se com representantes da Central Única das Favelas (Cufa-DF).


O impulso para entrar na política veio da insatisfação com os rumos da administração pública. Corrupção e falta de eficiência na gestão pública passaram a incomodá-lo mais do que em outras épocas. ;A política não é um investimento em um negócio. É preciso uma mudança efetiva na parte ética;, afirma. Segundo ele, a decisão de se candidatar não é um movimento da família. Entretanto, questionado se haverá recursos familiares nas doações de campanha, ele garante que sim. O Partido Novo, por exemplo, não aceita dinheiro do fundo partidário. Até então, Alexandre exerce cargos de liderança em entidades de classe. Ele é vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e presidente do Instituto Foodservice Brasil (IFB).

Petit gateau

Caminhando em terreno pouco conhecido ; a política fora de entidade de classe ;, Alexandre Guerra ainda é evasivo em algumas respostas, ainda mais quando se exige uma postura firme. Questionado se votou em Frejat ou em Rollemberg na última eleição, passou as mãos pelo cabelo, olhou para os assessores que o acompanhavam e optou por dizer ;que uma escolha tinha que ser feita e que não votou branco ou nulo;. Entre Dilma e Aécio, a postura foi a mesma. Em relação ao impeachment de Dilma, não opinou se era contra ou a favor, ;mas algo precisava ser feito;. Porém, para ele, a mudança não ocorreu, pelo menos em relação à ética.


Alexandre se mostra decidido a romper com as práticas comuns na política. Mas não tem nenhuma inspiração na política brasileira. Restringe-se a tecer elogios tímidos ao senador José Antonio Reguffe (Sem partido-DF). ;Pelo menos na questão político-eleitoral, ele foi por um caminho totalmente diferente da velha política. Ele concorreu sem grandes fortunas ou recursos empenhados e propôs algo novo para o cidadão em determinados aspectos;, avalia.


Quanto a referências, Emmanuel Macrón, presidente da França, é o nome pronto. De perfil jovem e com muitas reformas pró-empresariado, Macrón era uma aposta outsider, assim como Alexandre se apresenta. No futebol, disse que atua no meio-campo ; o jogador que liga a defesa com o ataque e intermedeia os lances de gol. Sobremesa preferida? Responde com o jingle do Giraffas que fala sobre o petit gateau.

Como herdeiro de uma grande rede do setor alimentício, Guerra deixa escapar o tom liberal. ;O Estado deve ser grande em áreas como saúde e educação;. Defendendo mais eficiência do Estado e da gestão dos recursos públicos, ele aponta a burocracia como um dos fatores que mais prejudicam o setor empresarial. ;O Estado não é um fim em si. É um meio. O que gera a riqueza é a sociedade. A gente precisa empoderar de novo o indivíduo para que ele transforme essa realidade. Essa decisão tem que vir dele. Do mercado. Isso que é o gerador de riqueza e emprego;, argumenta.

Para concorrer à eleição, Alexandre tem o desafio de dosar bem como vai relacionar a sua imagem à da empresa. O que deve destacar: o homem Alexandre Guerra ou a bem-sucedida marca Giraffas? Em quem o eleitor vai votar? No herdeiro da rede de lanchonetes ou no empresário que pretende trazer eficiência empresarial ao estado? Guerra diz que se afastou da direção da empresa para se dedicar à vida política. Entretanto, para um rosto ainda desconhecido na política, ancorar-se em boa marca pode gerar empatia com o leitor.


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