O primeiro indício da atuação da quadrilha surgiu em setembro, quando uma carga de 600 celulares, avaliada em R$ 1,5 milhão, sumiu do aeroporto. A Latam, em uma sindicância interna, reuniu indícios da participação dos funcionários Davi Alves dos Reis, 52 anos, e Klebson José Santana, 39 anos. A investigação da polícia comprovou a atuação da dupla, como o Correio revelou na coluna Eixo Capital na edição de ontem. Davi teria a responsabilidade de indicar e preparar a carga para que Klebson a retirasse do aeroporto ; ele já possui uma condenação pelo mesmo crime.
O esquema funcionava com a identificação da carga. Depois, o produto era retirado do pátio de transporte e levado para a área de embarque como se fosse ser despachado. Do lado de fora, o material era receptado. Nas últimas semanas, os policiais monitoraram os criminosos por até 12 horas para deflagrar a Operação Icarus. A quadrilha agia exclusivamente aos sábados pelo baixo movimento no Aeroporto. Um funcionário da Latam foi preso em flagrante anteontem quando desviava 400 smartphones avaliados em R$ 280 mil. Ele carregou sozinho uma caixa de 136 kg.
A articulação da quadrilha chamou a atenção dos investigadores. Os produtos eram roubados sob encomenda. Pedro Luiz Alves Regis Tavares, 34 anos, dono de uma banca no bloco D na Feira dos Importados de Brasília, receptava, segundo a investigação, os aparelhos e os revendia com valores abaixo do mercado. Lá, foram apreendidos 200 celulares e 20 tablets sem nota fiscal no último sábado. Ele está preso.
O delegado-chefe da DRF, Fernando Cesar Costa, explica como era feita a negociação. ;O receptador encomendava os produtos, negociava o preço e exigia o pagamento em dinheiro e à vista. Na banca, revendia os produtos a valores abaixo do de mercado;, detalha. Ele emenda, a atuação da companhia aérea e do Aeroporto foram essenciais para a investigação.
Vendas continuam
Apesar de ter sido alvo da operação, a banca de Pedro estava funcionando normalmente ontem. A reportagem chegou a fazer um orçamento no local. Lá, os preços são até 30% abaixo do de mercado. Um iPhone 6 sai por R$ 1,6 mil, enquanto no comércio legalizado chega a custar R$ 2,2 mil. O modelo iPhone 8 Plus é comercializado a R$ 3,8 mil. Nas lojas, custa R$ 4,7 mil. O recém-lançado iPhone X é oferecido por R$ 5,1 mil. Mais em conta que os R$ 7 mil cobrados em shoppings e sites de vendas. Quem compra equipamentos roubados pode responder por crime de receptação, com penas que variam de um a quatro anos de reclusão e multa.
Por volta das 15h30 de ontem, uma família comprou um iPhone 6. Como a banca não emite nota fiscal, tampouco certificado de garantia, eles ficaram temerosos. Uma das mulheres questionou a procedência do aparelho. A vendedora que se identificou como Giselle disse que o celular era importado e que era original. ;Vocês não vão ter problema nenhum com o aparelho;, ressaltou, ao concluir a venda. O pagamento foi feito à vista, em cartão de débito.
A comercialização dos produtos roubados não é discreta. Pelo menos duas placas na banca anunciam: ;Aqui tem iPhone na promoção;. Os aparelhos ficam expostos entre acessórios para celular. A vendedora ressalta o preço baixo, apesar de não dar descontos, facilita o pagamento. ;Dividimos em três, seis ou 10 vezes no cartão sem juros. Essa é para levar;, insiste a moça, com um iPhone X.
Operação Icarus
R$ 2 milhões
Valor aproximado do prejuízo com a atuação da quadrilha
1 mil
Soma de celulares roubados no Aeroporto em setembro e no último sábado
200
Total de celulares apreendidos na banca do receptador na Feira dos Importados
5
Integrantes da quadrilha foram presos, uma mulher pagou fiança e foi liberada