Jornal Correio Braziliense

Cidades

Vídeos e depoimentos ajudam polícia a reconstruir assassinato de estudante

A partir de vídeos e depoimentos, a polícia tenta reconstruir o latrocínio do estudante atacado e morto em ciclovia localizada entre as sedes dos três poderes locais. Aluno da UnB havia trocado o Paraná por Brasília para fazer mestrado e doutorado



[SAIBAMAIS]Após o primeiro ataque, Arlon, doutorando da Universidade de Brasília (UnB), levou mais três facadas: uma na axila esquerda, duas no braço e uma na mão. Ensanguentado, cambaleou por 30m até chegar à beira da pista. Acenou como quem pede ajuda, mas ninguém parou. Ao ver um carro da Polícia Militar, levantou as mãos, ajoelhou e desfaleceu (leia Como foi). Os investigadores do caso não haviam prendido nenhum suspeito até o fechamento desta edição.

O pesquisador morreu no centro cirúrgico do Hospital de Base do DF, às 22h de quinta-feira, depois de uma equipe médica tentar reanimá-lo. O local do ataque não tinha câmeras de segurança, mas o circuito externo da Câmara Legislativa registrou o momento do assalto. Por causa da distância, as imagens não identificam o suspeito, porém, mostram a abordagem do criminoso e a fuga com a bicicleta da vítima.


Planos

Arlon não tinha carro nem habilitação. Por isso, a bicicleta era o meio de transporte usado pelo estudante. Ele passava o dia na UnB. Saía toda manhã por volta das 11h30, como fez no dia do crime, e pedalava até o Departamento de Física. Só voltava para casa, no Sudoeste, à noite. ;Quando ele morava na 912 Norte, sempre passava aqui em casa, subindo da UnB. Ficava um pouco e jantava. Ele era muito educado;, lembrou a pedagoga Beatriz Dutra, mãe da ex-namorada de Arlon, Cilene Dutra Menezes, 32.

O estudante paranaense havia trocado o estado natal por Brasília em 2013. Formado em física, chegou à capital para fazer mestrado e doutorado na UnB. Primeiro, morou na Asa Norte. Em setembro, se mudou para o Sudoeste por causa do valor do aluguel. Pagava R$ 800 mensais por uma quitinete de 25 metros quadrados. O dono do apartamento, Carlos Roberto Gonçalves de Oliveira, 64, enviou um e-mail para Arlon no dia do crime. ;Ele era uma pessoa muito correta e tranquila. Mandei ontem (quinta-feira) a taxa de condomínio, mas acho que ele não teve chance de ver. Antes de alugar a quitinete, fiz uma busca sobre ele na internet e não encontrei nada que pudesse desaboná-lo. O que aconteceu foi lamentável;, destacou o aposentado morador do Guará.

Arlon tinha planos de terminar o doutorado em um ano e meio e chegou a elaborar um projeto de reforço de física e de matemática para estudantes com outros três amigos. Outra ideia era montar uma empresa de espectro para indústrias. O cientista estudava material genético e nanopartícula. ;Ele estava com a pesquisa muito adiantada e dizia estar cansado da UnB, mas falava que não queria fazer concurso, porque não gostava muito de fazer provas;, contou a amiga Luana Muniz, 21. Todos os sonhos foram interrompidos na noite de quinta-feira.

Velório

O diretor do Departamento de Física da Universidade de Brasília (UnB), Felippe Beakline, contatou ontem parentes de Arlon, no Paraná. Ele chegou a um primo da vítima, identificado apenas como Eduardo, e, então, conseguiu conversar com um irmão do estudante da UnB. O corpo do pesquisador será levado para a cidade natal, Rio Branco do Sul. ;Nós estamos resolvendo trâmites, mas uma irmã está a caminho para levar o corpo para o Paraná, onde será enterrado;, afirmou o diretor.

Amigos e colegas de Arlon se mobilizaram e passaram a tarde levantando dinheiro para que o estudante de física seja velado no DF antes do traslado. Eles precisam de R$ 1,6 mil. ;Ele estava feliz. Havia conseguido bons resultados com a tese de doutorado. É uma perda muito grande e queremos fazer essa última homenagem para ele;, explicou Felipe Rodrigues, 28, aluno de pós-graduação em física.

A vítima

Arlon Fernando da Silva

; Tinha 29 anos
; Nasceu em Rio Branco do Sul, no Paraná
; Era vegetariano
; Gostava da banda alemã de hard rock Rammstein
; Mudou-se para Brasília a fim de fazer o mestrado. Finalizou a pesquisa em 2015 e passou no doutorado
; Deu aulas como professor substituto no Departamento de Física no segundo semestre de 2016 e no curso de verão, em 2017
; Morava na quitinete de um condomínio do Sudoeste desde 1; de setembro. Antes, vivia na 912 Norte
; Tinha dois gatos, o Pirata e o Timmy



* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart