[SAIBAMAIS]
A operação contou com 11 agentes da Agefis, 25 servidores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e servidores da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos, pasta responsável pelas obras de urbanização no local, além da Polícia Militar e da Defesa Civil.
A derrubada
A ação pegou os moradores de surpresa. Ao perceber a entrada da Agefis e o corte das cercas, o servidor público Antônio Luiz Ricarte, 57 anos, proprietário da chácara 40, reclamou da falta de aviso. ;Eles chegaram aqui e falaram que tinham ordens e que iriam executar. Em momento algum me falaram nada. As únicas reuniões que foram feitas foram para falar da construção das bacias, e eu sou totalmente contra devido à destruição. Não entra na minha cabeça destruir uma área preservada com nascentes;.
Antônio ainda informou que vai recorrer da medida adotada pelo governo: ;Vou recorrer. Não é possível que seja certo o que eles estão fazendo, destruindo centenas de árvores. Uma área grande vai ser desmatada e será um buraco;. Porém, mesmo sobre protestos do morador, o corte das árvores foi feito pelos servidores da Novacap.
A filha de uma das moradoras da chácara 49, também reclamou da postura da Agefis. Segundo Katia Miyuki Sasaki Zeredo, 43 anos, ela só soube da derrubada do muro após uma vizinha que passava pelo local avisá-la: ;A minha vizinha viu o trator derrubando e me avisou. Quando cheguei, já tinham derrubado. Não me apresentaram nada em relação à ação, só disseram que tinham um ofício da Defesa Civil. Não havia necessidade de derrubar o muro, de fazer esse tipo de ação;, reclama a servidora pública.
Impasse
Katia não contesta a obra, mas é contra a destruição de uma nascente que está na rota da construção. Segundo a servidora, ela sugeriu mudanças no projeto, aceitas e colocadas em um novo estudo feito pela Administração de Vicente Pires, para a contenção ser construída em outro local do lote, onde não afetaria a nascente. ;Nós sempre fomos abertos à negociação, tanto é que sugerimos outra alternativa 100 metros para baixo do que foi feito". E continua: ;A gente tem esse cuidado de proteger a mata ciliar e a obra não é irregular, não tem nenhuma justificativa;.
Kátia, junto com seu irmão Sandro e o presidente da associação dos chacareiros de Vicente Pires, Sebastião Machado, fizeram um ;cordão de isolamento; para impedir a entrada dos servidores da Novacap no local. Segundo Katia, sua mãe Y-Ono, em 2005, ganhou certificado, concedido pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, pela preservação do local. Ainda segundo a servidora ela vai entrar com recurso no Ministério Público da União (MPU) para suspender as ações do GDF e poder conversar sobre mudanças no projeto original.
GDF
Segundo as alegações de falta de aviso, a Agefis informou que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) emitiu a autorização da obra. E que, "ao longo de 2017 diversas reuniões foram realizadas com os proprietários das chácaras em busca de uma solução pacífica para a entrada nos lotes. Mas todas sem sucesso, ainda que o GDF tenha proposto alterações de projeto".
O secretário de Estado de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sinesp), Antonio Coimbra, alega que as obras dos sistemas de drenagem, que usam verba federal (R$ 463 milhões) e começaram em setembro de 2015, vão permitir que as áreas de Vicente Pires sejam regularizadas, além de diminuir os alagamentos na região. Ele justifica que a ação foi realizada após a Defesa Civil emitir ofício por conta do aumento das reclamações sobre alagamentos em Vicente Pires.
A Sinesp divulgou que, ;com base nos laudos emitidos pelo Ibram, as duas chácaras não apresentavam sinais de terem nascentes e a identificação era dificultada pela falta de acesso às propriedades;. Mas que agora, com a desobstrução, ;será possível averiguar e, se for identificado nascentes nos locais, reavaliar e discutir o projeto com o Ibram;.
Com informações de Cleiton Barboza (Especial para o Correio)