Jornal Correio Braziliense

Cidades

Quase 58% da população do DF se declara negra, mostra estudo da Codeplan

Levantamento analisou escolaridade, ocupação, rendimento e inclusão digital comparando população negra e não negra


Para a classificação da cor ou raça dos entrevistadosestudo, o levantamento levou em conta os mesmos parâmetros utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): os responsdentes se declararam como negros (pretos e pardos ou mulatos) ou não negros (brancos, amarelos e indígenas). Dos 2,9 milhões de habitantes do Distrito Federal em 2015, 57,93% se declararam negros. Segundo a Codeplan, esse índice cresceu 4% ao longo dos períodos comparados.

Localização


Para analisar os aspectos pré-definidos, o estudo avaliou o perfil dos moradores da área urbana do Distrito Federal com base em quatro grupos de localidades, classificadas da maior para a de menor renda domiciliar média. O documento apontou que, quanto maior a renda média na localidade de residência no DF, menor a proporção de negros na região.
A maior concentração negra no DF foi registrada nas regiões administrativas do Grupo 4, que conta com 71,05% dessa população entre os habitantes. Já no Grupo 1, que reúne as áreas com maior renda domiciliar média, a concentração maior foi de não negros - parcela que representa 67,19% dos moradores das áreas consideradas (veja o quadro abaixo).

Escolaridade


A Codeplan comparou o grau de escolaridade da população em relação à cor ou raça dos entrevistados, aos quatro grupos de renda e ao sexo. A parcela de indivíduos com 15 anos ou mais que têm ensino fundamental incompleto é maior entre negros. Esse número representa 27,18%. Entre os não negros, 15,17% não têm ensino fundamental completo. Em ambos os casos, apesar da pequena diferença, as mulheres são minoria.

[SAIBAMAIS]Embora o total de pessoas com mais de 25 anos e escolaridade superior tenha crescido 3,6% entre a população negra e 4,29% entre os não negros, a porcentagem total de indivíduos negros nesse grupo é de 18,99%. Entre os não negros, no entanto, esse número representa mais que o dobro: 38,16%.

Para além disso, o percentual de pessoas negras com primeiro grau incompleto se mostrou maior nas regiões administrativas de menor renda domiciliar média. No Grupo 4, o número de negros é 7,27% maior que o de não negros. Já no Grupo 1, onde prevalecem as rendas domiciliares maiores, o número de negros com primeiro grau incompleto é 4,02% superior ao de não negros.

Na análise referente à população com superior completo, os negros representam 64,8% dessa parcela no Grupo 1 - 12,94% a menos que os não negros. Entre as regiões administrativas do Grupo 4, os não negros representam quase o dobro da quantidade de negros com superior completo (5,7%).

Mercado de trabalho


A quantidade de pessoas negras e não negras ativas no mercado de trabalho quase não varia. Esse é o primeiro ponto em que os dois grupos quase se equiparam. Porém, o quadro é mais complexo e se diferencia quanto ao fator qualitativo dos cargos: "Nas ocupações que exigem menor qualificação profissional, caracterizadas pela incidência de trabalhos precários, o percentual de negros é grande e se sobrepõe ao de não negros", afirma o documento.

Setores como construção civil, indústria de transformação, comércio e serviços domésticos - áreas que ofertam mais cargos para trabalhadores com menor escolaridade e qualificação profissional - indicam percentuais mais expressivos de absorção da população negra, o que não ocorre nos setores da administração pública e comunicação, por exemplo.

Em 2015, o índice de negros na construção civil era de 70,8%, na indústria de transformação, de 66,58%, no comércio, de 62,16%, e nos serviços domésticos, de 70,42%. Já na administração pública, essa proporção representa 40% e, no setor de comunicação, 39,8%.

Rendimento


As diferenças de perfis são mais acentuadas em relação ao rendimento. Segundo a pesquisa, as discrepâncias nos quesitos de escolaridade e ocupação no mercado de trabalho entre negros e não negros influenciam diretamente no rendimento de cada grupo e levam a população negra a ganhar, em média, 20% a menos, independentemente da região administrativa em que resida.

A disparidade persiste se levada em consideração a idade ou o sexo. No quesito faixa etária, as diferenças são menos intensas entre jovens (variação de 26%) e mais intensas entre a população de 30 a 39 anos - cuja parcela de negros obteve, em 2015, rendimento médio 40% menor do que a de não negros. Já em relação ao sexo, mulheres negras receberam 39% a menos em relação às não negras. Entre os homens, a diferença foi de 37%.

Inclusão digital


"A universalização do acesso à rede é entendida como condicionante de extrema importância no contexto da promoção do desenvolvimento social e econômico do país", apontou o estudo para justificar a análise do quesito.

Os dados da pesquisa mostraram que, na medida em que as rendas diminuem, ambos os grupos têm menores índices de inclusão digital, mas as proporções de cada um se distanciam. No grupo de alta renda, por exemplo, 87,8% dos negros usam a internet, contra 89,9% dos não negros. Já no grupo de baixa renda, o número de acesso de ambos diminui, mas se tornam mais desiguais: 55,2% e 58,25%, respectivamente.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer