postado em 08/11/2017 06:00 / atualizado em 19/10/2020 13:23
“Onze tiros fizeram a avaria”. A frase faz parte da canção Onze Fitas, interpretada pela cantora Elis Regina. O mesmo número pôs em choque e desencadeou uma onda de revolta em Alexânia, a 91km de Brasília. Um dia após a barbárie contra a estudante Raphaella Noviski, 16 anos, morta no Colégio Estadual 13 de Maio com 11 disparos no rosto, amigos e familiares se mobilizaram para o sepultamento da jovem e para a audiência de custódia do assassino confesso Misael Pereira Olair, 19 anos.
À tarde, na calçada do Fórum da Comarca de Alexânia, dezenas de pessoas cobraram punição exemplar, em um protesto com cartazes e palavras de ódio. Elas chegaram a cercar o carro da polícia que trouxe e levou Misael. Algumas gritaram “lincha”, lincha”.
Ele chegou ao fórum usando um colete a prova de balas, camiseta, bermuda e chinelos. “Vou olhar na cara dele e quero que ele me responda por que fez isso com ela”, disse, com os olhos marejados, Rosângela Pereira da Silva, mãe de Raphaella. “Eu não perdoo”, ressaltou.
Saiba Mais
Davi é acusado de ter dado cobertura ao assassino confesso, que alegou ter planejado a morte de algoz de Raphaella após ser rejeitado pela menina. Davi dirigiu o carro que levou Misael à escola. Policiais militares detiveram ambos em flagrante, a cerca de 300m do colégio, após a execução de Raphaella.
O atirador respondeu todas as perguntas do juiz. Um detalhe chamou atenção do magistrado: o ferimento extenso no olho esquerdo. O machucado estava roxo e inchado. Misael disse não ter sofrido violência desde a prisão e que recebeu visita de advogado e familiares. Desconversou sobre o hematoma. “Escorreguei no banheiro”, resumiu.
Rosângela ficou cara a cara com o algoz da filha durante a audiência. Muito abalada, a mulher desabafou: “Ele destruiu a minha vida, a vida da minha família.” Misael não encarou Rosângela em momento algum.
Cortejo
O corpo de Raphaella saiu em cortejo pelas ruas de Alexânia. Amigos, parentes e moradores comovidos com o brutal assassinato caminharam cerca de 3km até o Cemitério Campo da Saudade. Muito abalado, o pai da vítima, o agente penitenciário Leandro Márcio Romano, 40 anos, também clamou por Justiça. Ele mora em Belo Horizonte, mas chegou em Alexânia, na manhã do domingo, para passar férias. O pai iria se encontrar com Raphaella no dia do crime, após a aula. “É uma mistura de sentimentos. Raiva e tristeza caminham juntos. Espero que ele (o assassino) fique bastante tempo preso”, afirmou.
Mais de 2 mil pessoas passaram pelo velório realizado na Igreja Assembleia de Deus Madureira. A cerimônia começou na noite de segunda-feira, dia do assassinato. Parentes e amigos soltaram balões para simbolizar a partida da jovem. Centenas de coroas de flores foram deixadas no local. “Ele (Misael) destruiu um sonho num ato frio e covarde. Espero que ele pague pelo que fez”, lamentou Alex dos Santos, 26 anos, amigo da jovem.
Leandro Romano, pai de Raphaella" />
Amigos e familiares diziam não entender por que o assassino matou simplesmente pelo fato de ter sido rejeitado pela jovem. Segundo relato de uma prima de Raphaella, o rapaz chegou a ameaçar a estudante, por telefone, horas antes do assassinato. “Ele já a ameaçava desde o ano passado. Quando foi hoje cedo (ontem), ela recebeu uma ligação e ouviu: ‘Está preparada?’. Aí, logo em seguida, ele desligou”, contou a jovem, que preferiu não se identificar.
Raphaella morava com a avó e, em outra ocasião, Misael ameaçou entrar na casa da menina com uma faca. “Ela não procurou a delegacia porque pensou que isso fosse acabar. No ano passado, ele foi à casa da minha avó ameaçando entrar com faca. Minha avó, cadeirante, ficou desesperada. E o meu tio ameaçou ligar para a polícia se ele continuasse indo para lá”, contou a prima da vítima.
Escola vai ser reaberta amanhã
As aulas no Colégio Estadual 13 de Maio, palco do assassinato, continuarão suspensas até amanhã. Professores, coordenadores e demais profissionais da instituição de ensino estão sob acompanhamento psicológico. A Secretaria Municipal de Educação acompanha o caso. Os alunos do 9º ano, período em que Raphaella estava, serão os primeiros a retomarem os estudos.