Se o povo sofre na seca, a natureza pena. As queimadas são as maiores ameaças nesta época. Basta uma fagulha para iniciar um incêndio de grandes proporções. Qualquer descuido pode ocasionar imensos prejuízos ambientais. Mas o que aconteceu no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi bem mais que um possível erro. Pesam graves suspeitas de que o maior incêndio da história na região tenha sido criminoso. O Ministério Público cobra explicações da Prefeitura de Alto Paraíso e da Polícia Federal sobre os indícios existentes nesse sentido. Sabe-se que a região é alvo da ganância e que a ampliação recente da área do parque, por meio de decreto, feriu quem desejava especular e explorar a área agora pertencente à unidade de conservação.
No fim da semana, o fogo estava praticamente controlado e a chuva dava sinais de que vinha como um refresco mais constante. Na área rural de Cavalcante, no entanto, a mata ainda ardia. Já são 10 dias de trabalho ininterrupto de mais de 400 bombeiros, brigadistas e voluntários para conter as chamas que consumiram 26% do parque, o equivalente a 64 hectares. Se entrarem na conta outros focos controlados durante o ano, chega a 75 hectares queimados, uma tragédia ambiental de proporções inimagináveis. Só em Cavalcante, por exemplo, 80% do território virou cinzas.
Ao longo da semana, mostramos, por meio de textos de Renato Alves e fotos e vídeos de Breno Fortes, o cenário desolador que se abateu sobre a rica reserva ecológica e destino turístico dos mais lindos e prósperos do Brasil. Animais mortos, rios secos, pequenos produtores à míngua, fugindo de suas propriedades para buscar condições de sobrevivência. A equipe foi, por exemplo, até o Povoado da Capela, onde estava a situação mais crítica. Um dos produtores rurais precisou transferir para outros locais 500 das 800 cabeças de gado. Além do fogo, a seca já vinha castigando a região.
A comunidade, os ambientalistas, os voluntários e os artistas foram responsáveis por apelos para evitar que a tragédia fosse ainda maior. Os graves prejuízos ambientais não foram piores devido ao poder de mobilização deles. Também partiu da sociedade civil o alerta sobre a gravidade da situação e a morosidade dos governos de Goiás e federal, que tratam o Entorno, sob todos os aspectos, como um quintal sem vida, sem riqueza, sem humanidade. A omissão criminosa não é novidade. Sorte ter funcionários públicos e militares, além de voluntários, profundamente engajados na proteção à Chapada.
Os campos, matas, veredas e toda a vegetação queimada. Os animais mortos. Pousada no Vale da Lua consumida pelo fogo. Brigadista kalunga queimado. Rios secos. São tantos os prejuízos ambientais, econômicos e humanos que é difícil fazer a conta. O que precisa ficar claro é que as perdas são também responsabilidade do Estado, que costuma ser negligente com a fiscalização e com as ações de prevenção dos grandes desastres, sejam naturais, sejam provocados pela ação criminosa do homem. Que a Chapada reviva e que não passe novamente por tamanha tragédia!
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