Alto Paraíso (GO) ; Vai demorar mais de um ano para o verde voltar a dominar o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, após o maior incêndio da sua história. Iniciado no dia 17, ele só foi totalmente controlado ontem, graças ao esforço de mais de 200 profissionais, mais de 200 voluntários e a tão esperada chuva, que começou a cair na sexta-feira.
Enquanto as polícias e o Ministério Público Federal investigam a causa da tragédia, os órgãos de proteção ambiental estudam medidas de prevenção para evitar a repetição da tragédia. Eles anunciam a capacitação de mais brigadistas, a aquisição de mais equipamentos de combate ao fogo e um trabalho de conscientização dos moradores da região. A reserva, que recebe cerca de 60 mil visitantes por ano, segue sem previsão de reabertura ao público.
Até a noite de ontem, o fogo queimou 64 mil hectares, o equivalente a 26% da área total da unidade de conservação, que ocupa 240 mil hectares. Mas o estrago é bem maior. Somados os outros quatro incêndios iniciados e apagados desde 10 de outubro, foram queimados cerca de 75 mil hectares. Em todo o ano, o fogo consumiu 82 mil hectares. Mais do que toda a área antiga da reserva, que era 65 mil hectares. O tamanho da proteção foi ampliado por meio de portaria assinada pelo presidente da República, Michel Temer, em julho.
O balanço, no entanto, não leva em conta a área queimada fora do Parque Nacional. Fazendas e reservas particulares também sofrem com uma série de incêndios. Quarta-feira, o Vale da Lua, um dos mais famosos pontos turísticos da região, era o mais atingido. O fogo chegou a uma pousada vizinha, onde queimou um bangalô.
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Caça e atropelamento
Diretor do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Fernando Tatagiba diz que levará ;10 anos ou mais; para a recuperação completa da fauna e flora da unidade. ;Dependerá de muitos fatores. O cerrado é como um mosaico de diversas variedades vegetais, campestres, florestais e savânicas. Teremos de ver sua capacidade de regeneração;, explicou.
Não há estimativas sobre a mortandade de animais e aves e ainda são poucos os relatos de animais encontrados mortos. ;Não encontramos animais mortos nas áreas atingidas. Os de médio e grande porte fogem logo, assim como as aves. Após o controle e a extinção do incêndio, porém, é provável que comecemos a localizar filhotes e, principalmente, ninhos queimados. Outra preocupação são os atropelamentos e as caçadas, pois, com a falta de água e comida, os bichos vão sair do parque, atravessar as rodovias e entrar nas fazendas;, observou Devalcino Francisco de Araújo, coordenador do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no combate aos incêndios na Chapada.
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Mais treinamento
Fernando Tatagiba anuncia uma série de medidas de prevenção. ;Com o fogo extinto completamente, vamos começar a discutir essas medidas e traçar um planejamento amplo. Mas adianto que vamos aumentar o treinamento dos nossos brigadistas, capacitar mais brigadistas e comprar mais equipamentos, como abafadores e bolsas costais (que carregam água);, afirmou. Ele, contudo, não disse quanto de equipamento será comprado, quanto custará nem de onde virá o dinheiro.
Apesar de sua importância, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros tem um pequeno contingente de brigadistas. São 28, que permanecem na reserva apenas de maio a outubro, período de seca e maior ocorrência de incêndios. Eles não são funcionários do ICMBio nem do Ibama. Recebem por meio de contrato temporário de seis meses.
O parque é a maior reserva de cerrado do mundo. Considerado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, abriga três aquíferos: o Guarani, o Urucuia e o Bambuí. No cerrado ficam as nascentes de seis das oito bacias hidrográficas brasileiras.
Voluntários pedem mais doações
Uma arrecadação de mais de R$ 190 mil garantiu a ação de integrantes da Rede contra o Fogo no combate às chamas no maior incêndio do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Agora, uma nova frente de campanha da entidade está em curso. O grupo busca o engajamento social de doadores para a formação de oito brigadas locais, com 12 pessoas cada, a serem organizadas e equipadas para atuar em medidas preventivas. A capacitação da brigada em uma medida pós-fogo a médio prazo vai demandar verba na ordem de R$ 330 mil. Ao todo, portanto, o levantamento pretendido está na casa dos R$ 570 mil. Confira em www.catarse.me/redecontrafogoveadeiros
Entenda o caso
Suspeita de fogo criminoso - Moradores da região afirmam ter visto um motociclista com um galão de gasolina às margens da GO-118, entre Alto Paraíso e Cavalcante, em 17 de outubro, local e data de início da mais recente e maior queimada da história da reserva natural. A informação é apurada pela Polícia Civil de Goiás.[SAIBAMAIS]Caso seja comprovado que o incêndio foi criminoso e os envolvidos identificados, eles vão responder por dano ao parque, infringir a Lei de Crime Ambiental e por causar incêndio, expondo a coletividade a riscos.
O Ministério do Meio Ambiente pediu ao Ministério da Justiça que a Polícia Federal também apure a origem do incêndio. Se a PF assumir o caso, a Polícia Civil goiana vai repassar à instituição federal tudo o que já estiver apurado, explicou o delegado José Sena.
O ICMBio foi o primeiro órgão a levantar a hipótese de o fogo no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros ter sido intencional ou, mesmo, criminoso. O instituto ressalta que o período para ocorrência de incêndios naturais já havia passado quando surgiram os primeiros focos, em 10 de outubro.
Sexta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) em Luziânia (GO) cobrou esclarecimentos da Polícia Federal, do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e do município de Alto Paraíso de Goiás. Eles têm cinco dias para encaminhar informações ao MPF relacionadas ao incêndio.
As informações serão prestadas no inquérito civil para apurar as causas ou o que contribuiu para o início ou avanço do incêndio. Como um dos argumentos, o MPF destaca que a unidade de conservação foi palco de intensa disputa judicial, especialmente no processo de ampliação do Parque Nacional, que passou de 65 mil para 240 mil hectares.