Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projeto 'Nós Negras' difunde a ancestralidade afrobrasileira com música

Cris Pereira, Kiki Oliveira, Kris Maciel, Renata Jambeiro e Teresa Lopes criaram há dez anos o projeto


As mulheres negras do samba sempre tiveram espaço garantido na setlist do grupo, com nomes que variam de Clementina de Jesus a Elza Soares, passando por Teresa Cristina, Ana Costa e Alcione. Dez anos após a criação, o grupo, em suas apresentações, destaca novos nomes negros na música. ;Somos bastante fãs do trabalho da Hellen Oléria, que tem um discurso forte e que ganhou bastante notoriedade. Apreciamos também a Karol Conká, que traz um trabalho diferente do que fazemos, mas que se comunica muito bem com a juventude. Temos um cenário muito promissor para mulheres negras;, comenta Renata Jambeiro.

Hoje, morando em São Paulo, Renata Jambeiro, de 35 anos, relembra a primeira apresentação do grupo, no Sesc Garagem da 913 Sul. ;Era um show que as pessoas não esperavam. As mulheres que cantavam na noite apresentavam mais MPB, e nós chegamos com a cara e com a coragem, em um ambiente masculino, para mostrar que a mulher não só sabe cantar samba, como tem bastante história escrita no estilo;, explica.

Kris Maciel, de 39 anos, continua em Brasília, se apresentando em diversos locais, mas guarda o carinho do Nós Negras. ;Pela primeira vez, tivemos mulheres no centro do palco, nos vocais e no comando. Além de termos aberto caminho para outras, com o empoderamento, ajudamos a fazer com que Brasília não tenha entre os grandes nomes do samba apenas homens;, relembra Kris.

Trajetória

Em 10 anos de formação, o Nós Negras nunca se propôs a ser apenas um grupo musical. O objetivo da equipe era juntar as vozes, como solistas, para conseguir um alcance maior. Antes e depois do primeiro show, todas seguem a carreira, fazendo apresentações solo. As cinco ganharam o Brasil, gravaram CDs, tiveram músicas tocando nas rádios e em novelas. Algumas mudaram até para outros estados, e, com isso, as apresentações em equipe acabaram parando. Mas durante a trajetória, lotaram diversas casas noturnas da capital e chegaram até a se apresentar no aniversário de Brasília na Esplanada dos Ministérios, em 2013, para público de mais de 10 mil pessoas.

Uma década após a primeira apresentação, as integrantes destacam o avanço que a pauta da mulher negra ganhou, mas afirmam que o conservadorismo também cresceu muito. ;Hoje, estamos vivendo uma onda que trouxe mais liberdade, onde há espaço para debater temas importantes como o preconceito que enfrentamos. A internet nos ajuda com o espaço de fala, mas também deixa as pessoas extrapolarem de maneiras absurdas com opiniões negativas;, afirma Renata Jambeiro.

Descrevendo-se como uma pessoa positiva, Renata afirma que espera por tempos melhores. ;Temos que estar atentos, pois quanto mais tivermos voz, mais vão querer nos calar. Mas não podemos ser silenciados novamente. Vamos seguir, seja em grupos, como o Nós Negras, seja individualmente, cada um na sua própria luta, sabendo que não estamos sozinhas;, completa.

À espera de um DVD
O foco agora das integrantes do Nós Negras é a gravação de um DVD. A proposta está ainda na fase inicial. ;Estamos comemorado em 2017 os 10 anos do Nós Negras e fazer um registro audiovisual do As Ayabás (nome do show) seria uma realização para o nosso grupo, principalmente pela simbologia do feminino da cultura africana, tão presente na música popular brasileira. Seria bem pertinente que isso ocorresse para fechar em grande estilo, a nossa celebração;, afirma Cris Pereira. (Irlam Rocha Lima)