;Ceci n;est pas une ville; ou ;isto aqui não é uma cidade;. Para descrever Brasília, a fotógrafa francesa Claire Visée, 26 anos, recorreu ao quadro A Traição das imagens, do belga René Magritte. Na obra, o artista nega a presença de um cachimbo, ainda que estivesse desenhado na tela. Do mesmo jeito, o traçado de Lucio Costa traiu o olhar de Claire quando ela confrontou o mapa da capital com o dia a dia do brasiliense.
Praça dos Três Poderes
"Por que o centro de tomadas de decisões do quinto maior país do mundo é tão vazio? Não parece que o presidente trabalha aqu", impressionou-se o alemão Felix. Lucio Costa bem quis que a Praça dos Três Poderes se assemelhasse à Concórdia, sua "equivalente" parisiense. Mas as francesas garantiram: uma não tem nada a ver com a outra. "E o que significa este obelisco?", indagou Laura. Não era um monumento do antigo Egito, como o que existe em Paris. Tratava-se do Pombal, escultura projetada por Oscar Niemeyer para abrigar os pombos da região.
Esplanada e desfile de 7 de Setembro
Torre de TV
Hora de, enfim, ver o traçado de Lucio Costa de cima. "Quanto custa para subir?", pergunta o trio, imaginando preços nada convidativos, como o da subida de elevador na Torre Eiffel. Os três puderam deixar as araras e os micos - eles colecionavam as coloridas cédulas da moeda brasileira - de lado, porque o passeio é gratuito.
Parque Olhos d;Água
Caminhar nos parques de Brasília em pleno setembro requer coragem. Termômetros beirando os 30;C, com umidade abaixo dos 20%, fazem parecer loucura um passeio ao ar livre. "E quem teve a ideia de colocar asfalto no meio da natureza?", questiona a exausta Claire. Então, uma pausa para hidratar com um coco geladíssimo. O vendedor corrige a pronúncia da francesa.
Igrejinha e Catedral
Ao se aproximarem dos azulejos de Athos Bulcão, os três europeus logo perceberam que se tratava de um lugar turístico, tamanho era o número de pessoas fazendo selfies diante deles."As igrejas daqui não se parecem com igrejas", descreve Felix. Não há basílicas góticas na capital, como as que enfeitam as cidades na Europa. Maior ainda era o espanto em saber que a Catedral saiu do desenho de um comunista ateu. "Quanta luz! Dá para enxergar tudo aqui", contou Claire, usando a parede da nave central como telefone, na clássica brincadeira de visitantes.
Zoológico
Animais em recinto fechado podem ser encontrados também na França. Mas foi fora das áreas cercadas onde os europeus mais se impressionaram com a fauna brasileira. A começar pelos enormes cupinzeiros do Zoo. "Deve morar uma cidade inteira de cupins aqui", impressiona-se Felix enquanto cutuca um dos montes de barro. Claire, fotógrafa, não perdeu a oportunidade de registrar o momento em que uma horda de macacos-prego teimou em cruzar uma das pistas do local. Entre os pássaros exóticos e os macacos, Laura citou as lontras, que chamamos de ariranhas, do aquário como os animais favoritos.
Bares na 408/409 Norte
"Não imaginaria que essa batida tão animada teria letras tão tristes", estranhou Laura após ouvir a versão samba de Flor de Lis, de Djavan, na voz de uma sambista em um dos bares mais badalados da rua. Tristeza, como a que estava estampada na cara do alemão Felix ao ver sua cerveja congelar no copo."Mas em lugar nenhum no mundo eu desembolsaria apenas R$ 7 para beber um litro inteiro", pondera. Estava na hora de pagar a conta quando os europeus foram abordados por uma velha senhora com cartas de tarô na mão: "Quer ler a sorte?".