Casos como o de José Delfino são comuns no Distrito Federal, onde a expansão das cidades misturou áreas urbanas e de cerrado. Vez ou outra, corujas-buraqueira, carcarás, gaviões e quero-queros resolvem se instalar nas casas dos brasilienses. ;Lugares altos, como varandas e caixas de ar condicionado, lembram penhascos e montanhas onde alguns desses animais costumam viver;, explica o professor Miguel Angelo Marini, especialista em ecologia de aves da Universidade de Brasília (UnB).
Na avaliação do pesquisador, o melhor a fazer é deixar o pássaro viver no local. ;A não ser que cause algum dano ou a pessoa se sinta em perigo;, acrescenta. Marini argumenta que os bichos somente param para construir ninhos em determinado lugar quando se sentem confortáveis ali. ;Se, ainda assim, o morador não quiser a companhia do animal, ele deve procurar a Polícia Militar Ambiental;, indica. Somente a corporação pode capturar ou desfazer tocas de animais silvestres.
Ainda assim, José Delfino teme que a família de carcarás transmita doenças à família. Segundo Marini, os pássaros trazem insetos como carrapatos, piolhos e aranhas com os galhos ao construir o ninho. ;Mas os animais mesmos limpam a sujeira. Se o ser humano não mexer na toca, há pouco risco de contaminação;, minimiza o especialista.
Carnívoro
[SAIBAMAIS]O carcará é uma ave de rapina que, apesar de nativa do Cerrado, se adaptou bem às áreas urbanas. No DF, o pássaro geralmente aparece procurando por comida em caçambas de entulho. Porém, trata-se de um exímio caçador. ;Donos de animais de pequeno porte, inclusive filhotes de cachorro, devem tomar cuidado ao se aproximar;, alerta Ana Cristina de Castro, diretora de aves do Jardim Zoológico de Brasília.
Caso José Delfino decida aguardar todo o ciclo de reprodução dos novos inquilinos, ele deverá esperar um pouco mais. Enquanto pássaros pequenos ficam por volta de seis semanas, um carcará pode levar meses para mudar de casa. ;Primeiro, eles constróem o ninho para depois colocar os ovos e encubá-los. Quando os filhotes nascem, o carcará ainda alimenta a cria por meses;, descreve o professor Marini, da UnB.