Mayara Subtil - Especial para o Correio
postado em 20/09/2017 06:00
É difícil encontrar um brasiliense que não se encante com os ipês. Seja de coloração rosa, roxa, amarela ou branca, eles renovam a vida em tempos sem chuva e de sol intenso. Além delas, o Distrito Federal é agraciado com diversas espécies existentes em meio às folhas secas. Há cores e formas para todos os gostos. O casal Rany Carvalho, 28 anos, e David Cunha, 25, não passou pela 308 Sul sem tirar várias fotos de inúmeras pétalas de guapuruvu caídas pelo chão, criando, naturalmente, um cobertor amarelo. ;Imagina você passar por aqui quase no horário do almoço e ver esse cenário lindo e natural e não fotografar? Impossível, né?;, questiona Rany.
Com a primavera se aproximando ; inicia-se amanhã ;, a chef de cozinha acredita que não há chance de Brasília perder o encanto. ;Essas flores caem, mas outras nascem sempre, como se a cidade reinventasse a beleza natural durante todo o ano;, afirma. Ela e David seguiam do Eixão Sul para o restaurante Le Jardin, na Aliança Francesa, na altura da 708/907 Sul. Mesmo a caminho do trabalho, eles fizeram questão de parar para admirar o espetáculo. ;A gente nem faz esse trajeto, mas valeu a pena mudar a rota;, conta o auxiliar de cozinha.
[SAIBAMAIS]Além da guapuruvu, estão em época de floração sucupira, louro-pardo, sibipiruna e jacarandá-mimoso-do-cerrado. ;Todas as árvores que estão florindo no momento vão começar a frutificar no início das chuvas;, explica o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), Alfred Luciano. Segundo ele, as flores das árvores do cerrado ficam mais evidentes durante a seca, uma característica genética de cada planta ; são mais de 5 milhões plantadas no Distrito Federal.
No Parque Olhos D;Água, no fim da Asa Norte, uma árvore se destaca no meio de duas plantas secas. É a louro-pardo, que, vista de longe, se confunde com o ipê-branco. Em várias partes da Asa Norte, também é fácil encontrar as flores da primavera, que chamam a atenção pela coloração rosa avermelhada. A flor da pata-de-vaca, por exemplo, poderá ser vista até o início das chuvas, mesmo que sutilmente. No DF, há quase 7 mil mudas dessa espécie. Ela pode ser encontrada em quase todas as regiões administrativas, principalmente na Universidade de Brasília (UnB), no Setor de Autarquias Sul, no Núcleo Bandeirante e no Zoológico.
Paixão por pequi
Estima-se que existam mais de 100 mil pequizeiros plantados no DF. Quando não estão em época de frutos, bastante consumidos em Goiás e em Minas Gerais, são substituídos por flores brancas com cheiro que resgata a lembrança do tempero forte da gastronomia desses estados. Além disso, nem de longe elas lembram o aroma forte e marcante do pequi. É o que destaca a especialista em educação patrimonial Sônia Rampim Florêncio, 51, diante de um antigo pequizeiro localizado no Clube dos Previdenciários, na 712 Sul, onde pratica natação. ;Já o conhecia, mas não tinha visto a flor. Engraçado, pois esse pequizeiro é muito grande. Fiquei sabendo que foi plantado há muitas décadas;, diz.
Moradora de Brasília há 11 anos, diz que o fruto também pode conquistar o paladar de pessoas de diversas unidades da Federação. Basta provar. ;Vim de São Paulo com marido e filha e não conhecia o pequi. Quando o experimentei pela primeira vez, juro que gostei;, lembra Sônia. Ela até se arrisca em receitas, como galinhada de pequi, o tradicional arroz com pequi e ainda o mistura com macarrão.
A jornalista Sarah Teófilo, 24, é goiana e fã de pequi. A paixão é tanta que Sarah comprou, em um festival em São Paulo, uma blusa com a frase Roedor de Pequi. ;Há uma relação de amor e ódio com o pequi. A minha família não gosta. Nem suportam o cheiro. Mas eu amo, desde comer o fruto sozinho com as mãos até misturar com arroz e galinha;, conta. O técnico em eletrônica Idelbrando Rocha, 29, não vê a hora de o pequizeiro de frente ao prédio da namorada, na QI 23 do Guará 2, começar a dar frutos. ;Eu adoro. Como de seis a oito pequis com a comida de uma vez só;, revela.
Atração à parte
Para a especialista em engenharia florestal e paisagismo Carmem de Araújo Correia, Brasília é uma cidade de sorte, pois abriga inúmeras espécies que resistem à seca. ;Elas têm raízes muito profundas, com as quais conseguem alcançar água em locais extremamente difíceis. Os pés de pequi, por exemplo, podem ter de três a quatro raízes;, detalha Carmem. Por serem árvores nativas do cerrado, essas plantas conseguem se manter com flores vivas durante toda a seca, mas ficam ainda mais evidentes na primavera. ;Essa é a beleza do cerrado. Faça chuva ou faça sol, as flores são uma atração à parte no DF;, opina a especialista Carmem.
Atenção
A Novacap orienta que quem quiser plantar árvores deve, primeiro, ligar para o número 156 a fim de ter acesso aos detalhes do procedimento. Feito o pedido, técnicos do órgão serão encaminhados ao local de possível plantio e analisarão as condições do terreno. A pessoa é convidada a plantar a muda com o técnico.
Cores e formas
Sibipiruna
; A sibipiruna, nativa da Mata Atlântica, é a mais comum no df. Espalha-se pelas asas Sul e Norte, pelo Parque da Cidade e pelo Pistão Sul, em Taguatinga. A florada dura de setembro a início de novembro.
Jacarandá-mimoso-do-cerrado
; Está na 402 Norte, na UnB, no Parque da Cidade, Zoológico, Gama, Planaltina e Sobradinho. A floração vai de setembro a início de novembro.
Sucupira
; Há árvores pela cidade inteira, na Concha Acústica, no Parque da Cidade, no Shopping ID, no acesso ao Gama e nas asas Sul e Norte. São duas floradas: preta e branca. Encanta de setembro a novembro.
Louro-pardo
; Como ainda não aparece com tanta frequência, a Novacap prevê maior plantio da espécie. Ela predomina no Parque Olhos D;Água, no fim da Asa Norte, e no Parque da Cidade. A floração é de setembro a novembro.
Pata-de-vaca
; É nativa do Himalaia e da Índia, mas adaptou-se bem ao cerrado. Está na entrada do Cruzeiro e do Núcleo Bandeirante, na 102/202 Sul e no Parque Olhos D;Água. Floração: de agosto a outubro.
Pequizeiro
[FOTO7]; Há pequizeiros no DF desde antes da construção. Há no Parque da Cidade, no fim da Asa Sul, no Zoológico, no Parque Olhos D;Água, na Estrada Parque Aeroporto e no Sudoeste. Floração: de setembro a novembro.