A raça é uma das mais importantes no Brasil, a gir-leiteiro, de origem asiática, e produz grande quantidade de leite. A bezerrinha tem nome: Acácia da Cerrados TN ; sigla que significa transferência nuclear e é obrigatória na identificação do animal para registro genealógico junto à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
Acácia mora ainda na fazenda experimental da Embrapa Cerrados, onde também nasceu e está se desenvolvendo ao lado de outros animais. Hoje, pesando 60kg, frutos de mamadeiras diárias, ela tem nome de árvore, homenagem à planta leguminosa acácia-amarela, encontrada em todo o mundo. Pode-se dizer que é uma versão perfeita da vaca geradora, a Calidora. ;Ela está saudável e muito esperta. Geneticamente, é idêntica à mãe doadora de células em 95%. Os outros 5% ficam a cargo de poucos detalhes, como as manchas no corpo;, afirma o médico veterinário Carlos Frederico Martins, pesquisador e supervisor da pesquisa pela Embrapa.
De acordo com o pesquisador Carlos Frederico, a clonagem é uma ferramenta de melhoramento genético e busca multiplicar animais com alto potencial, ou seja, aqueles considerados acima da média, que se destacam em suas características, como a produção de leite e o ganho de peso. O nascimento da bezerrinha, de fato, deixou todos da equipe entusiasmados pela busca de melhorar ainda mais a eficiência da técnica. ;Ainda temos muitas limitações, precisamos aperfeiçoar (o processo). No entanto, esse trabalho vem para contribuir com o aumento da eficiência de produção de embriões;, avalia o especialista.
O trabalho faz parte da tese de doutorado da aluna da Universidade de Brasília (UnB) Carolina Gonzales. Ela foi convidada pelo pesquisador Carlos Frederico para trabalhar na área e está envolvida há mais de seis anos com o ramo. ;Sou uma apaixonada. É um trabalho difícil, mas traz muita satisfação;, relata ela, que vem estudando o assunto desde o mestrado. Esse tempo de experiência com o tema possibilitou o avanço do domínio da técnica, contribuindo, assim, para acelerar a chegada de Acácia.
;A pesquisa vem no sentido de melhorar a clonagem, no entanto, não é somente isso. O meu trabalho é finalizado aqui, deixando de legado uma nova droga utilizada que melhora a eficiência da técnica;, comemora Carolina. ;Esse passo servirá de base para outras pesquisas que virão, pois conseguimos avançar na técnica da clonagem;, completa.
Até o nascimento de Acácia, a equipe levou seis anos de estudos e de testes. Tempo muito comemorado pela orientadora da pesquisa, a professora de biologia celular da UnB Sónia Báo, que ocupou o cargo de vice-reitora da instituição na gestão passada. De acordo com ela, para se chegar a um exemplar de um clone é preciso, em média, 10 anos. Apesar disso, a professora lamenta as fases cíclicas das pesquisas no Brasil. ;Não dá para dizer que não temos nada, nem que temos tudo. Foi importante o começo dessa técnica e ela está avançando aos poucos;, afirma. Para ela, dominar a tecnologia não é um processo simples, pois exige uma continuidade, principalmente com relação ao financiamento. ;Ora temos dinheiro, ora não. Há um longo caminho pela frente;, disse a professora.
Para o presidente do Conselho Deliberativo da ABCZ, Marcelo Tolero, o produtor tem muito a ganhar com o avanço de reproduções de animais da raça gir-leiteiro, considerada uma raça rústica e com alta produção de leite. ;O mercado tem uma grande demanda e aceita muito bem essa raça;, garante Marcelo. Segundo ele, o produtor paga cerca de R$ 40 mil por apenas um procedimento desse tipo e o objetivo das pesquisas é justamente tornar a técnica mais acessível.
Tecnologia
A Embrapa domina a tecnologia da clonagem desde 2001, com o nascimento do primeiro clone da América latina (veja quadro). A missão, agora, segundo os pesquisadores, é aprimorar cada vez mais o procedimento, em busca de aumentar a eficiência da técnica, diluir os custos e torná-lo acessível aos produtores. Marcelo Tolero destaca que a produção de leite diária de um animal desse porte, estando em condições tropicais e de sustentabilidade, gira em torno de 15 mil litros por dia. ;Essa é a importância da transferência nuclear. Justificamos, por esses números, o que podemos fornecer ao mercado;, conclui.