Jornal Correio Braziliense

Cidades

Visão do Correio: Hora de mudar

Sou jornalista, mãe, avó e, desde 2003, editora-chefe do Correio Braziliense. Minha história profissional começou como estagiária na Universidade Católica de Pernambuco. Depois, fui setorista no Jornal do Comércio, no Recife. Cobri futebol, em uma época em que eram raras as mulheres nesse campo. No Correio, comecei como repórter, cobrindo a editoria de Cidades, há mais de 20 anos. Na época, não havia mulheres em posição de direção, algo que estamos mudando.

Se estou aqui me apresentando a vocês, não é somente porque em 11 de setembro foi publicado em nosso jornal o texto ;A estagiária;. Um conteúdo que, como muitos notaram, está fora do alinhamento com nossa missão, do que acreditamos ser nosso papel na sociedade, junto aos nossos leitores.

Estou aqui também para lembrar o que está por trás desse erro. Quando olho para o passado, eu me lembro do quanto este jornal se posicionou, em diversas ocasiões, pelo empoderamento feminino e pela igualdade entre os gêneros. Seja com a publicação de matérias, entrevistas ou artigos, sempre com o intuito de construir uma sociedade que garanta direitos, mas também por meio da promoção do debate e do compartilhamento de ideias que inspiram. É por isso que, neste momento, não posso deixar de me posicionar.

[SAIBAMAIS]Mais do que apontar para um ou outro responsável, o veículo tem a obrigação de agir, de aprender e não repetir erros comuns no passado, mas inadmissíveis no presente.

Antes da publicação, o texto foi lido por, pelo menos, dois profissionais do jornal, um homem e uma mulher. E nenhum deles atentou para a gravidade do conteúdo. Esse é um alerta sobre a naturalização do machismo no nosso cotidiano. São situações, comentários, frases soltas que consideramos normais, naturais, mas que crescem no terreno do preconceito... do machismo.

Há cerca de quatro semanas, escrevi um texto defendendo a apresentadora Fernanda Lima e criticando Silvio Santos, que, em rede nacional, se referiu à apresentadora dizendo: ;Com essas pernas finas e essa cara de gripe, ela não teria nem amor nem sexo;.

Para minha surpresa, ao indicar o machismo de Silvio Santos, recebi diversas críticas. O fim da cultura machista não é uma bobagem, nem é irrelevante. É necessário! É uma mudança que precisa acontecer em todos os lugares. Começa nas palavras que usamos e continua em cada atitude, do masculino e também do feminino.

A desculpa de que fomos criados assim não deve mais ser usada.

Como editora-chefe, assumo a responsabilidade no processo de mudança no jornal. Promoveremos políticas de conduta, rodas de discussões e, principalmente, investiremos na criação de um ambiente de aprendizado coletivo.

É coexistindo que aprendemos o respeito ao próximo e às suas escolhas. Sim, isso se aprende.

Peço desculpas a todas as mulheres, leitoras, funcionárias, ex-funcionárias e também aos homens que se sentiram incomodados durante a leitura. Esse inaceitável acontecimento será um marco para uma mudança mais profunda.

; Ana Dubeux - Editora-chefe