Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crônica da Cidade: Um erro sem perdão

Poucos conhecem tanto o poder da palavra quanto um jornalista. E, mesmo assim, até ele, muitas vezes, esquece o tamanho dessa força. E eu, como tal, esqueci. Ao escrever uma crônica publicada ontem pelo Correio Braziliense, fiz o pior: constrangi a minha mãe, as minhas avós, a minha mulher, as minhas filhas, as minhas amigas, as minhas colegas de trabalho, enfim, todas as mulheres. Reconheço o meu erro e aceito todas as consequências disso.


Portanto, se me é permitido algum tipo de explicação, em ;A estagiária; tentei e não consegui mostrar algo que, todos os dias, pode acontecer em diversos ambientes. Infelizmente. Nesse caso, especificamente, criei uma personagem para mostrar que o problema do assédio às mulheres continua sendo uma realidade apavorante e assustadora ; e é por isso que o problema deve, sim, ser abordado, apesar de eu tê-lo feito de forma totalmente equivocada.


Em 40 anos de vida e em 21 de profissão, sempre pautei minhas atitudes pelo respeito às mulheres. A minha mãe me ensinou isso. Os meus dois pais reforçaram isso. E, quando tive a oportunidade, usei o espaço do jornal para reverenciá-las. Em mais de um artigo descrevi todo o meu respeito por elas. Até hoje, só tive dois chefes homens na minha carreira. Portanto, aprendi mais com elas do que com eles. E sinto bastante, neste momento, por tê-las decepcionado. São elas que vejo à minha frente, neste instante. São elas que me fazem entender a dimensão do estrago.


Por isso, não há lugar para o silêncio. Por isso, eis aqui, neste mesmo espaço que serviu para provocar danos, o lamento de quem ainda tem muito a aprender e evoluir. Muitas vezes, errar não é só humano. É também desumano. E, mais do que nunca, se faz necessário assumir o resultado desses erros. Até para que a gente tenha a capacidade futura de avaliar o peso das coisas e sempre pensar duas, três, quatro vezes antes de abordá-las. Foi dessa forma que sempre me guiei e será dessa forma que eu vou seguir a minha caminhada.


Porém, o (meu) momento, agora, é mesmo de reflexão. A reação provocada pelos seis parágrafos que publiquei na segunda-feira aconteceu de uma forma que eu jamais poderia prever. E, se a crônica repercutiu assim, é porque falhei. Por isso, entendo, percebo, admito e reconheço a minha falta. Aceito a revolta e a indignação de todas as mensagens que recebi ontem por e-mail, por WhatsApp, pelo Facebook etc. Fiz questão de ler todas, do início ao fim. E peço as mais sinceras desculpas. Pois acredito que esse seja o melhor caminho para a transformação necessária para que as minhas filhas cresçam em um mundo em que não haja espaço para situações como a narrada por mim, nem textos equivocados como o meu.