Segundo os conselheiros tutelares de Santa Marias, os garotos chegaram ao DF por volta das 8h, acompanhados dos responsáveis pelo resgate. ;Eles disseram que eram obrigados a trabalhar dia e noite pelo padrasto. E que, se não cumprissem (a obrigação), eram castigados;, contou o conselheiro Miro Gomes. A criança e os dois adolescentes informaram, ainda, que não frequentavam a escola e que o serviço pesado se estendia até a madrugada. ;Muitas vezes, o trabalho noturno era revesado para não chamar a atenção dos vizinhos;, relatou uma das vítimas ao servidor público.
O conselheiro Hesseley Santos se surpreendeu no momento em que os irmãos entraram no Conselho Tutelar de Santa Maria. Segundo ele, a situação era degradante. ;Eles chegaram com fome, cansados, sujos e com cicatrizes. Com certeza, houve algum tipo de abuso;, avaliou. De acordo com Hesseley, os três relataram rotina de tortura caso não trabalhassem para o padrasto. Um deles teve uma arma de fogo apontada para a cabeça. ;Se os deveres não fossem executados, eles eram ameaçados com armas de fogo, afogados, jogados em bueiros, queimados com metal, espancados e amarrados;, mencionou.
Nos depoimentos colhidos pelos conselheiros, as vítimas acrescentaram que eram obrigadas a cometer diversos crimes na região. Tudo a mando do familiar. ;Eles disseram que eram obrigados a roubar gado, madeira e arames das cercas vizinhas. Isso configura aliciamento de menor;, explicou o conselheiro Miro Gomes.
Fuga
Cansados dos maus-tratos, os irmãos decidiram fugir do assentamento. Deixaram para trás a mãe grávida, além de dois irmãos mais novos, de 4 e 6 anos. Era madrugada de terça-feira quando eles aproveitaram um descuido e buscaram socorro com os vizinhos, que, por medo, negaram o auxílio. ;Foi difícil o resgate, pois todos temem o padrasto dos meninos. Mas eles foram salvos, e eu espero que ele pague por tudo o que fez aos garotos;, disse um dos responsáveis pelo resgate.
Responsável por cuidar do trâmite entre o Conselho Tutelar de Santa Maria e a Vara da Infância e da Juventude do DF, o conselheiro Hesseley Santos explicou que, após o acolhimento, o trio ficará em um abrigo na capital federal. O caso, no entanto, será repassado ao Conselho Tutelar de Formosa, que ficará responsável por denunciar a situação às autoridades goianas.