Carina Ávila - Especial para o Correio
postado em 21/07/2017 14:25
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Ricardo Vale (PT-DF), protocolou, nesta sexta-feira (21/7), um requerimento convocando o delegado da 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho) a prestar esclarecimentos sobre a morte do motorista terceirizado da Caixa Econômica Federal, Luís Cláudio Rodrigues, na sexta-feira da semana passada, dentro da unidade policial. Além do chefe da DP, o parlamentar convocou os policiais militares do 17; Batalhão da Polícia Militar de Sobradinho, que conduziram a vítima à delegacia, também para detalhar o caso. A decisão de Vale veio quatro dias depois de o distrital Wellington Luiz (PMDB-DF) informar ao Correio que "não via necessidade de a comissão entrar no caso".
De acordo com o presidente da comissão, este fato tem gerado uma série de informações contraditórias e depoimentos controversos. A alegação prévia das autoridades policiais, já que o laudo pericial não foi concluído, é de que Luís Cláudio cometeu suicídio, versão contestada pela família. "Apresentei o requerimento à CLDF por entender que a morte de Luís Cláudio Rodrigues necessita ser imediatamente esclarecida. Com este intuito e perante o apelo da família da vítima, que cobra providências do poder público para ilustrar os fatos, e na condição de deputado distrital e presidente da comissão, espero que a Câmara Legislativa aprove a proposta apresentada por mim e que essa convocação seja realizada o mais rápido possível;, aponta Ricardo Vale.
[SAIBAMAIS] O deputado diz, ainda, que é premente e urgente que se tenha, com a maior brevidade possível, a elucidação do ocorrido, para que sejam tomadas as devidas providências, a fim de que a família de Luís Cláudio seja devidamente amparada.
Comissão nacional investiga
A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputada federal Erika Kokay (PT-DF), já havia garantido, na última segunda-feira (17/7), que o comitê acompanharia de perto o caso. A parlamentar informou que, além de acionar o Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, agendará um encontro com o secretário de Direitos Humanos, Johaness Eck, para tratar do assunto. Ela disse, também, que realizará uma reunião com o Instituto Médico Legal (IML), para questionar o laudo preliminar apresentado, de acordo com o qual haveria apenas um ferimento no pescoço de Luís Cláudio Rodrigues, o que indicaria suicídio por sufocamento.
"Luis Cláudio estava sob custódia do Estado quando morreu, por isso é responsabilidade do Estado. Vamos apurar com rigor e isenção o que aconteceu", crava a deputada. Kokay frisa ainda que há muitos indícios de que o motorista não tenha cometido suicídio. "Há vários elementos nebulosos na versão apresentada, muitos pontos que não foram bem explicados e devem ser questionados", ressalta. A parlamentar lembrou que é funcionária aposentada da Caixa Econômica Federal e entrará em contato com os familiares de Luis Cláudio para ajudá-los como puder.
Memória
Na sexta-feira da semana passada (14/7), o motorista Luís Cláudio Rodrigues, 48 anos, morreu horas depois de ser preso por dirigir embriagado e bater no veículo de um policial militar. O acidente aconteceu por volta das 15h30 no Setor de Mansões de Sobradinho, próximo à casa de ambos os envolvidos. Testemunhas disseram que, após a colisão, Luís sofreu agressões e humilhações do PM, um sargento da Rotam que estava de folga e chamou colegas para realizarem a detenção ; a Polícia Militar nega qualquer violência durante a abordagem.
Luís submeteu-se ao teste do bafômetro, que, segundo a Polícia Civil, acusou 1,35 miligrama por litro de ar expelido. Em seguida, foi encaminhado para a 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho). A família dele chegou à unidade cerca de uma hora e meia após o acidente, por volta das 16h. Às 18h30, os parentes pagaram a fiança de R$ 1,2 mil. Depois disso, descobriram que Luís estava morto. Oficialmente, a Polícia Civil informou que o motorista praticou suicídio, versão contestada pelos familiares desde então.
A família também rejeita laudo preliminar do IML. O documento reforça que não houve agressões e que a morte ocorreu em decorrência de ;asfixia secundária a enforcamento;. Além disso, os peritos não visualizaram em Luís qualquer lesão externa, que não aquela proveniente do próprio enforcamento. Mas fotografias feitas pelos familiares no dia seguinte à morte revelam diversas marcas no corpo da vítima. Peritos ouvidos pelo Correio avaliaram que Luís apresenta marcas de violência e não apenas no pescoço.