A história da neve no cerrado consta em um dos mais antigos relatos de viagem conhecido pelos pesquisadores. Intitulado Jornada que fez Luiz da Cunha Meneses da Cidade de Bahia... para Vila Boa Capital de Goyaz, é obra de Cunha de Menezes, quinto governador e capitão-general da Capitania de Goiás. Fruto da viagem dele para tomar posse como governador da então capitania de Goiás, onde chegou em 15 de outubro de 1778, ele anotou as distâncias em léguas. Mas, acima de tudo, o mais surpreendente é o relato sobre a presença de neve, em uma região hoje conhecida pela baixa umidade no período que costuma ir de maio a outubro.
O impressionante fenômeno climático está na anotação realizada em 10 de outubro de 1778: ;Da Bandeira a Contage de São João das Três Barras 11 léguas, a saber ao Sítio Novo 2, ao Pipiripaô, 1 e 1/2, ao Mestre d;Armas 2, e 2 ; São João das Três Barras, sítio tão frio que no mês de junho, que é a maior forma de inverno, chega a cair neve.; Junho, nos tempos atuais, é justamente o início da seca no Distrito Federal.
[SAIBAMAIS]Criadas no período em que o Brasil era uma colônia de Portugal, as capitanas eram o equivalente aos atuais estados. Vila Boa é a atual cidade de Goiás, ou Goiás Velho. À época, não existia o DF, que só viria a ser inaugurado em 1960. Mestre d;Armas é o primeiro nome de Planaltina, onde o Inmet tem registrados as menores temperaturas do DF, desde 1960.
Região pouco povoada
No século 18, o território do DF pertencia à Capitania de Goiás. O movimento de pessoas ao longo da estrada levou à fundação do povoado de São Sebastião de Mestre d;Armas, por volta de 1790. Com o esgotamento das jazidas de metais preciosos no fim do século 18, o atual DF passou a ser uma região escassamente povoada.
Fugindo da perseguição dos exércitos de Napoleão Bonaparte, a Coroa Portuguesa transferiu-se, em 1808, para o Brasil, a sua única colônia na América. Nessa época, a região de Mestre d;Armas era um conjunto de fazendas. Localizado ao norte do município de Santa Luzia, o sítio de Mestre d;Armas compreendia sete fazendas: a de Francisco de Freitas Coelho, de João Francisco Antônio, de João Carvalho da Cunha, Antonio Moaes Corcay, Manoel Rodrigues de Almeida, José Gomes Rabelo e Bernardo da Silveira.
Dois anos após a mudança forçada da família imperial para o Rio de Janeiro, uma epidemia assolou Mestre d;Armas. Isolados no sertão, distantes de qualquer atendimento médico, os moradores do lugarejo apelaram à fé. Eles fizeram a promessa a São Sebastião de que, se os habitantes se livrassem da doença, doariam ao santo, por intermédio da Igreja Católica, uma área compreendendo uma légua de comprimento por meio de largura e nela construiriam uma capela devotada ao santo. Em 20 de janeiro de 1811, a comunidade celebrou uma missa de ação de graças e, restabelecida, fez a entrega solene das terras ao vigário de Santa Luzia como pagamento de promessa para ali ser construída a capela em honra a São Sebastião. Primeiro, ergueram uma capela de taipa.
Um senhora, identificada como Marta Carlos Alarcão, encomendou de Portugal uma imagem do santo, trabalhada em madeira, para ser colocada na capela, sendo mais tarde substituída por outra maior, ao ampliarem a construção. A partir de sua criação, a igreja passou a ter papel de destaque no Arraial de Mestre D;Armas. Assim como a estrutura física da cidade, os costumes da época também era herança da colonização portuguesa. Mas, como o padre que atendia Arraial de Mestre D;Armas morava no já mais desenvolvido Arraial dos Couros (futura Formosa), as missas na capela em honra a São Sebastião só eram celebradas uma vez por mês. No restante do tempo, havia um grupo de oração formado por beatas da comunidade e a Igreja ficava quase sempre fechada.