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Conheça a arte e a história de Ângelo Bonolo

Funcionário aposentado do Banco do Brasil, Ângelo Bonolo faz esculturas a partir de troncos do cerrado e transformou a casa no Condomínio Verde em um ateliê e em sala de exposição

Tudo na vida de Ângelo Bonolo converge para a escultura. Ele se formou em farmácia e trabalhou no Banco do Brasil durante mais de 30 anos. Desde que se aposentou em 2006, dedica-se inteiramente à criação de esculturas em uma casa-ateliê instalada no Condomínio Verde. De qualquer pedaço de madeira, ele arranca esculturas de bichos míticos, árvores, painéis, poltronas, cadeiras e mesas. São objetos, a um só tempo, estéticos, funcionais e míticos. As figuras e as formas são sugeridas pelos troncos do cerrado, restos de demolição ou caveiras de bichos. Ângelo trabalha com a liberdade da arte contemporânea e a sacralidade dos objetos totêmicos das culturas primitivas.

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A beleza é extraída duramente e lentamente da madeira. As marcas do trabalho árduo estão impressas nas mãos cheias de calos e de cicatrizes. A partir de um tronco do cerrado, Ângelo pode criar uma ave que começa como seriema ou outro bicho conhecido e assume a forma surpreendente de animal mítico da era dos dinossauros. ;É uma coisa que vai nascendo naturalmente no contato com a madeira;, conta Ângelo. ;A ideia precisa ser compatível com o material. À medida que faço, a imaginação é acionada, as imagens surgem, modifico, crio e recrio. Não é algo planejado;.

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Embora Ângelo não tenha uma linha definida, é nítida a influência da escultura de países latino-americanos e africanos: ;Mas acho que influência mesmo é mais de ver a escultura africana;, enfatiza. ;Tenho muitos livros e algo que mexe comigo é a arte africana e a arte da Oceania. Não é a arte atual. Gosto mais da arte primitiva. Uso muito o enxó, ferramenta muito utilizada na África. Daí vem muita coisa do que faço;.

O artista pesquisa em livros, acompanha os movimentos da arte, mas as referências para a criação saem, quase sempre, da própria forma da madeira que chega às mãos para esculpir. É ao entalhar a madeira que ele encontra a figura a ser delineada e lapidada: ;Meu pai tinha uma fazenda muito grande em Araguari, em Minas Gerais. Eu trouxe essas madeiras para cá. Mas as pessoas também me dão madeiras do cerrado, que vou usando. Uso anchinho velho, osso de vaca e caveiras nas esculturas. Tudo o que vem, eu guardo para encaixar nas esculturas;.

Durante mais de 30 anos, Ângelo trabalhou no Banco do Brasil em função que não lhe dava prazer ou realização pessoal. Quando surgiu um programa de demissão voluntária, ele não teve dúvidas, pois queria dedicar o tempo a fazer esculturas, que sempre foi o sonho de sua vida: ;Aí a minha produção aumentou, comecei a fazer coisas maiores;, comenta Ângelo. ;Nunca estudei arte em escola. Acho que isso é uma coisa que veio de família. Meu pai fazia móveis para uso pessoal. Eram móveis pequenos para as crianças brincarem. Mas ele tinha um dom excepcional para fazer. Isso deve ter vindo mesmo no DNA;.