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Furto de celulares: veja quem deve ser responsabilizado

Criminosos se aproveitam de eventos cheios para levar o aparelho de quem está ali para se divertir. Mas quem é responsável pela falta de segurança: governo ou organizadores?

Ir a festivais, shows e festas privadas no Distrito Federal pode ser sinônimo de prejuízo. Os ingressos, que, em diversas situações, são caros, não limitam a entrada de pessoas mal-intencionadas. Os registros de roubos e furtos são constantes em dias de aglomerações. O principal alvo desses criminosos são os celulares: um objeto pequeno e de alto valor. Basta uma distração, e a bolsa já está aberta ou o aparelho não está mais no bolso. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP), de janeiro a abril de 2017, 2.176 celulares já foram furtados ou roubados na capital. Afinal, de quem é a responsabilidade pela segurança dos frequentadores desses eventos?


De acordo com o subsecretário de Operações Integradas, Leonardo Sant;Anna, ligado à Secretaria de Segurança Pública, dentro das festas, a proteção deve ser feita por uma empresa contratada pelos organizadores. Mas, segundo ele, falta interesse dos empresários em investir na segurança dos clientes. "Jamais vamos dizer que não devem ter festas em Brasília, porém, é necessário que haja uma preocupação maior em relação a isso, ou vamos continuar a ter problemas. O lucro desses eventos é muito alto, o que permite um investimento maior nesse setor", defende.


Em dias de shows, a vigilância na parte externa é obrigação da segurança pública. Para Leonardo, esse também é um fator que precisa ser repensado, pois outras áreas da cidade ficam desassistidas por causa de aglomerados em determinados locais. "Não é só cobrar da gente. O Estado não tem a obrigatoriedade de oferecer tudo, pois é um evento privado. É diferente de festas, como carnaval, morro da capelinha e aniversário de Brasília, por exemplo. Uma dessas viaturas poderia estar próxima à casa de uma pessoa, mas não fica para o privilégio de um evento muito pontual, o que tem trazido impacto na segurança", pondera.

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Beatriz Amiden, 35 anos, era uma das mais de 60 mil pessoas que estiveram presentes no Festival Villa Mix, no último 6 de maio, no estacionamento do estádio Mané Garrincha. Ela conta que, desde a chegada ao evento, já estava bastante atenta aos pertences que levava na bolsa. Não adiantou o cuidado. Nos poucos segundos que levou para cumprimentar um conhecido, o celular já não estava mais com ela. No site oficial da Apple, o smartphone furtado custa, aproximadamente, R$ 5 mil. "Tinha um mês de uso. Estou muito chateada. Nunca tinha acontecido isso comigo. É revoltante", desabafa.


Segundo Beatriz, dentro do evento, não havia nenhuma segurança e, quando procurou fora do local, informaram que não poderiam fazer nada. Ao comunicar o ocorrido à Polícia Militar, foi orientada a fazer boletim de ocorrência na delegacia. "Deixei para ir no dia seguinte, pois estava muito tarde. Eu até consegui achar meu celular pelo localizador, mas os policiais disseram que não poderiam ir atrás, pois estavam sem efetivo e também não tinham mandado para entrar na casa da pessoa", explicou. Cerca de 60 pessoas que foram furtadas no Villa Mix vão entrar com uma ação conjunta contra a organização da festa. "A gente se sente violentada e os organizadores não nos dão a mínima. É um absurdo", reclama Beatriz. O Correio entrou em contato com a empresa responsável pelo evento, mas não obteve retorno.


Distração
De acordo com o major da Polícia Militar Michello Bueno, responsável pela comunicação, as pessoas que participam dessas ações fazem parte de quadrilhas altamente especializadas. "Têm aqueles que furtam e os que guardam. Agora, está sendo comum usarem uma calça de lycra por debaixo de outra. Ali, cabem, aproximadamente, 30 ou até 40 aparelhos. São muito profissionais", relata.


As vítimas, segundo a polícia, são aquelas que estão desatentas e com o teor alcoólico mais alto. "Não perdoam, pois é um crime fácil e com uma pena amena. Ou seja, para eles compensa, pois o lucro é muito grande. E as vítimas estão sempre com o objeto na mão, pois é normal querer registrar o evento e postar nas redes sociais. E é justamente nesse momento que eles observam e preparam para praticar o delito", alerta.


A estudante Larissa Mota, 22 anos, é também umas das pessoas que já tiveram o celular furtado. Em 2016, ela esteve em um show dentro do Estádio Mané Garrincha e, quando foi ao banheiro, de repente, sentiu alguém puxar sua bolsa. Ao olhar para trás, viu dois homens correndo e notou que sua bolsa estava aberta e vazia. "Eu nem tive reação na hora. Me perdi das pessoas que estavam comigo e não tinha como me comunicar com elas. Quando fui procurar ajuda dos seguranças, me falaram que não podiam fazer nada, pois não eram polícia e só estavam ali para apartar possíveis brigas", relatou. Larissa chegou a fazer o boletim de ocorrência, mas não conseguiu ter o aparelho de volta.


Porém, a estudante tinha uma informação que ajuda, muitas vezes, a Polícia Civil a localizar diversos aparelhos frutos de roubo, furto ou receptação, que é o número de IMEI. Cada celular possui essa identificação e, quando o objeto chega às autoridades, é possível promover o rastreamento e até descobrir quem o roubou ou o receptou. É de extrema importância que o consumidor, ao adquirir o celular, anote e guarde esse número que vem na caixa ou no próprio aparelho, no local da bateria.


Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a maioria das pessoas que cometem esse tipo de delitos durante as grandes festas está em uma faixa etária de 15 a 24 anos. Aproximadamente, 40% dos adolescentes ou dos adultos envolvidos nesse crime já foram apreendidos ou presos, pelo menos, cinco vezes.

Penalidades
Dados apontam que, só naquele dia 6 de maio, foram registradas 121 ocorrências em toda a região administrativa de Brasília, que inclui Asa Sul e Asa Norte e a região central. Só no Villa Mix, foram 407 queixas. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) revela que a organização do evento recebeu uma notificação, pois o número de pessoas presentes na festa foi superior ao que eles tinham repassado para o órgão e a quantidade de profissionais de segurança, inferior ao que havia sido solicitado.


Todos os eventos que ocorrem na capital precisam ser cadastrados e detalhados na SSP. A Secretaria tem equipes que fiscalizam, no dia da realização, todas as regras previamente acordadas; caso seja diferente, os organizadores são notificados. De acordo com o órgão, os eventos cadastrados em 2017, em Brasília, bateram recorde em relação aos outros anos. A expectativa é de que, até dezembro, o número chegue a 15 mil. Durante todo o ano de 2016, foram 10.939 cadastramentos.

Cuide do que é seu

; Nunca vá sozinho ao local no qual o aplicativo de rastreio indica onde está o celular. Informe à polícia.
; Em caso de roubo ou furto, registre ocorrência na delegacia.
; Evite mostrar o celular em lugares públicos.
; Não guarde o telefone no bolso traseiro da calça.
; Na rua, não ande e digite ao mesmo tempo.
; Atenção na hora de fechar a bolsa.